A eleição, em 2018, de Jair Bolsonaro (PL) para a Presidência da República surpreendeu parcela significativa da comunidade de ciência política. O então candidato conseguiu, com um discurso abertamente antissistema e de direita, não apenas conquistar a cadeira de chefe do Executivo, mas alçar ao poder dezenas de apoiadores. Para 2022, entretanto, especialistas consultados pelo JOTA avaliam que o “bolsonarismo” não terá o mesmo potencial de cabo eleitoral, principalmente a cargos executivos.
Pesquisas Genial/Quaest para os quatro maiores colégios eleitorais do país (São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia) mostraram que, nos últimos três estados, Bolsonaro é o pior cabo eleitoral. O mandatário está melhor posicionado apenas em São Paulo, em relação ao governador João Doria (PSDB), mas continua atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas prévias para as eleições de 2022.
A expectativa de Sergio Praça, professor da FGV CPDOC, é de queda no contingente de candidatos associados ao “bolsonarismo” para angariar votos em face da derrocada da popularidade presidencial. O agregador do JOTA – uma ferramenta exclusiva que agrega diferentes pesquisas de intenção do voto – aponta que o governo Bolsonaro tem uma aprovação de cerca de 26%. No início da gestão, o indicador estava em 47%.
Nesse sentido, a probabilidade de uma nova onda “bolsonarista” seria menor. Candidatos radicais e ligados ao presidente devem seguir na toada, enquanto os conservadores moderados devem manter uma distância, ou mesmo se tornar oposição, projetou o professor.
A análise foi reforçada pela diretora-executiva do DataIESP, Carolina de Paula, segundo a qual há hoje um cenário distinto, tanto no que tange à movimentação política quanto aos temas em debate: “Assuntos que estão muito próximos à pauta do Bolsonaro, como, por exemplo, a agenda anticorrupção e o antipetismo, não estão presentes neste momento. Isso, naturalmente, vai fazer com que alguns aliados que entraram nesta onda ‘bolsonarista’ se afaste”.
Os dois cientistas políticos concordam que a bandeira do presidente pode não registrar alto potencial para puxar votos a candidatos executivos, porém deve apresentar relevância no âmbito legislativo — embora não como visto em 2018.
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A cientista política Camila Rocha, autora do livro “Menos Marx, Mais Mises – O liberalismo e a nova direita no Brasil”, ponderou que o cenário atual não inviabiliza o projeto bolsonarista — definido, segundo ela, como um fenômeno social e ideológico em reação às tentativas de alargamento dos horizontes do pacto democrático de 1988, como o desenvolvimento dos direitos das mulheres e da comunidade LGBTQIA+.
“O futuro do bolsonarismo é uma coisa muito preocupante, porque, por mais que o Jair Bolsonaro venha a perder as eleições no segundo turno, isso não inviabiliza o projeto de poder do bolsonarismo. É isso que precisa ficar claro para as pessoas, porque é um projeto de longo prazo”, opina a cientista política.
Rocha diz que nada impede que em Santa Catarina, por exemplo, onde o bolsonarismo é forte, os bolsonaristas fiquem mais abrigados. “E, depois de algum tempo, consigam se organizar para de fato promover uma tentativa golpista, ou mesmo tentar novamente participar das eleições e fazer como o [primeiro-ministro da Hungria Viktor] Orbán e aprofundar essa dinâmica autocrática. As pessoas precisam entender que, para derrotar o bolsonarismo, não basta só vencê-lo nas eleições. Não é só uma questão eleitoral, uma questão institucional. É uma ameaça à democracia”.