Kalleo Coura

A advogada Sabrina Veras demorou a entender porque alguns partidos políticos a procuraram com uma proposta para se candidatar a uma vaga de deputada estadual. Os convites surgiram depois que o juiz Joaquim Solón Mota Junior, da 2ª Vara de Família da Comarca de Fortaleza, a chamou de <a href="https://www.jota.info/justica/juiz-diz-em-audiencia-que-advogada-e-desqualificada-imatura-e-ingenua-26022018">desqualificada, imatura e ingênua</a> durante uma audiência.
“Hoje eu entendi”, diz. “Tem essa questão da cota de gênero”. Sabrina acabou topando o desafio: ela será candidata a deputada estadual do Ceará pelo MDB. “Acho que o MDB tem uma história interessante. Vi que algumas pessoas do partido estão infelizmente envolvidas em escândalos, mas elas não me representam”, afirma.
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Filiada há poucos meses, Sabrina já percebeu que as mulheres não são tratadas de igual para igual na estrutura partidária. “As mulheres são menos valorizadas. Os políticos vão se reunir e você acaba ficando de fora. Se com a cota já existe essa dificuldade, imagina sem ela”, lamenta.
Uma de suas bandeiras será justamente lutar pela igualdade de gênero. “Para algumas demandas, o homem, por mais sensível que seja em favor do gênero feminino, nunca vai saber o que é se sentir mulher. Como é que ele vai poder decidir certas questões se ele não compreende?”, questiona.
Cinco meses depois, os processos contra o magistrado que a ofendeu continuam tramitando na Corregedoria do Tribunal do Estado do Ceará (TJCE) e no Conselho Nacional de Justiça (CNJ). “Como muitas pessoas exaltaram a minha atitude de não temer perante as autoridades, vi que poderia fazer muito mais com essa força que tenho. Eu me descobri.”
Leia a entrevista com a advogada e candidata a deputada estadual Sabrina Veras (MDB-CE).
Por que a senhora decidiu ser candidata a deputada?
Como eu tive aquela situação com o magistrado e tive a coragem de denunciá-lo e proceder a um processo administrativo no CNJ e no próprio TJCE, eu recebi muitas mensagens de colegas advogados dizendo que a minha atitude foi muito importante para a advocacia.
Sempre houve violações a prerrogativas, mas ficava só no disse-me-disse e geralmente a autoridade saía ilesa, como se tivesse acontecido apenas um mal-entendido. Eu me descobri. Não tive medo de denunciá-lo.
Depois do episódio, acredito que houve algumas mudanças nos tribunais. Se eu pude significar isso para minha classe profissional, imagino que posso fazer a diferença também dentro do Legislativo.
Os deputados não devem só propor projetos de lei, mas também fiscalizar o Poder Executivo. A gente percebe que quando as pessoas ocupam estes cargos, elas acabam abandonando essas funções. A qualidade dos projetos de lei também fica de lado. Precisamos qualificar as Assembleias com pessoas que entendem de lei.
Quais serão suas bandeiras?
Algumas das minhas bandeiras são: lutar pelos idosos e aumentar a representatividade das mulheres. Sou membro da Comissão dos Direitos da Pessoa Idosa da OAB-CE.
Quanto às mulheres, para algumas demandas, o homem, por mais sensível que seja em favor do gênero feminino, nunca vai saber o que é se sentir mulher. Como é que ele vai poder decidir certas questões se ele não compreende?
Tenho bandeiras relacionadas à advocacia também, como melhorar o funcionamento dos juizados especiais e reduzir as custas judiciais. Elas estão fora da realidade da jovem advocacia no estado.
A senhora tinha um pendor para a politica ou foi o partido que foi atrás da senhora?
Foi o partido e hoje eu entendi porque alguns deles me procuraram. Tem essa questão da cota de gênero. Vivi uma turbulência depois daquele episódio e estava muito próximo de finalizar o prazo de filiação partidária. Além do MDB, o PR ou o PROS, não me lembro bem, também me chamou.
Acabei por me filiar no MDB. Fiz uma pesquisa rápida sobre o partido, vi a história do Ulysses Guimarães, o que o MDB representou naquele momento, e achei que esse partido era interessante.
Depois, vi que algumas pessoas do partido estão infelizmente envolvidas em escândalos. Elas não me representam.
Sobre a cota, acho ela muito importante. As mulheres são menos valorizadas dentro dos partidos. Os políticos vão se reunir e você acaba ficando de fora. Se com a cota já existe essa dificuldade, imagina sem ela.
Como o episódio da ofensa afetou a sua carreira como advogada?
Se eu não tivesse tido a coragem de levar adiante a denúncia, eu realmente iria sofrer represálias. Mas como eu tive essa coragem, todos viram que eu, uma jovem advogada, mulher, conheço meus direitos e sei o que posso ou não fazer. Então, eu continuo atuando na maior tranquilidade.
No interior, ao final da audiência, um magistrado até brincou: “você não está gravando, não, né?”. As pessoas estão respeitando mais não só a mim como outros colegas advogados também. Inclusive na 2ª Vara de Família, o atendimento dos servidores está de primeira. Recebo parabéns dos servidores dos fóruns pela atitude que tive.

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JOTA

Sabrina Veras, que foi procurada pelo MDB, diz já ter percebido que mulheres são menos valorizadas nos partidos

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