Luiz Orlando Carneiro
Foi repórter e colunista do JOTA
The Democracy! Suite – assim mesmo, com ponto de exclamação! – é o título do novo álbum digital que o trompetista-compositor Wynton Marsalis lança neste fim de semana (15/1), como sempre pelo selo Blue Engine, do Jazz at the Lincoln Center (JLC), Nova York.
Não se trata, desta vez, de uma obra na linha da chamada third stream. Ou seja, da combinação de jazz e música “erudita” num só todo, como a Swing Symphony, que juntou a orquestra do JLC com a St. Louis Symphony Orchestra, e que foi tema desta coluna no ano retrasado (20/7/2019).
Também não é uma composição tão longa como Blood on the Fields, um “oratório jazzístico” de mais de duas horas de duração, com o qual o grande Marsalis se tornou, em 1997, o primeiro jazzman da história a receber o Prêmio Pulitzer da Música.
As oito peças de The Democracy! Suite foram compostas para o um septeto tipicamente jazzístico por ele liderado, com os seguintes membros da JLCO: Ted Nash (sax alto, flauta), Walter Blanding (saxes tenor e soprano), Elliot Mason (trombone), Dan Nimmer (piano), Carlos Henriquez (baixo) e Obed Calvaire (bateria).
A gravação foi feita em setembro do ano passado, num dos auditórios do JLC, sob a inspiração e no clima tenso das históricas eleições em que o truculento presidente Donald Trump foi derrotado pelo democrata Joe Biden.
Os títulos das duas primeiras faixas da suíte demonstram logo, claramente, as intenções do seu autor: Be present (5m10) e Sloganize, patronize, revolutionize/Black lives matter (6.55). E é ele mesmo quem faz questão de comentar o que tinha na cabeça:
“A música de jazz é a metáfora perfeita para democracia (…). A questão que confrontamos neste momento como nação é: ‘Queremos ou não encontrar um modo melhor de democracia?’”
Mestre Marsalis, 59 anos, assim completa a sua tese a propósito de The Democracy! Suite: “A democracia é um organismo vivo que permite uma escolha individual em termos de causa comum. Este é também o objetivo do jazz. Na nossa música, temos a liberdade pessoal de improvisar uma nova gama de possibilidades sempre que tocamos e, ao mesmo tempo, de partilhar um objetivo comum, que é o de achar e manter um balanço coletivo conhecido como swinging”.
Essa “democracia” característica do jazz pode ser muito bem apreciada na exuberante troca de solos em Out amongst the people (5m30), tema dedicado por Marsalis ao pianista e ativista dos direitos civis Jon Batiste – um amigo mais jovem (34 anos), também nascido na Louisiana, e que é diretor musical do Late Show da CBS e do National Jazz Museum no Harlem.
Ouça Out amongst the people: