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O que diz a proposta da indústria de política pública de fomento à ecoinovação

Apresentada em congresso de inovação promovido pela CNI e pelo Sebrae, objetivo é posicionar o Brasil como líder em economia verde no mundo

Abertura com Robson Andrade, presidente da CNI; Décio Lima, presidente do SEBRAE; Pedro Wongtschowski, coordenador da MEI; Celso Pansera, presidente, Finep; Luciana Santos, ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Geraldo Alckmin, vice-presidente da República e ministro do MDIC | Foto: Sara de Santis/CNI

Uma proposta com diretrizes para criação de uma política pública voltada para a ecoinovação foi lançada pelo setor industrial no 10º Congresso Internacional de Inovação da Indústria, realizado entre os dias 27 e 28 de setembro, em São Paulo. O documento redigido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), puxando a Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), propõe uma estratégia nacional de ecoinovação que visa colocar o Brasil na liderança global da transição para a economia verde. 

No painel de lançamento, o presidente da GranBio e integrante da MEI, Bernardo Gradin, explicou que a proposta é dividida em cinco diretrizes, são elas: constituir um ambiente regulatório ágil e eficiente, já que essa foi identificada como a principal barreira para a inovação no Brasil; promoção de estímulos fiscais e financeiros com disponibilidade de capital de longo prazo; capacitação de pessoas para trabalhar na indústria verde; incentivar o compartilhamento de conhecimento e de risco tecnológico entre academia, institutos de pesquisa e setor empresarial; e, por último, promover a cooperação internacional para solucionar problemas globais e viabilizar um mercado verde não protecionista, mas baseado na missão comum de combate à crise climática.

“A proposta tomou como princípios servir de referência para o cumprimento de metas e compromissos climáticos, tornar a indústria brasileira conhecida globalmente como a mais inovadora em soluções sustentáveis, atrair demanda e investimentos externos, valorizar a biodiversidade brasileira, promover a transição para a economia circular de baixo carbono, priorizando mecanismos para a transição justa e responsável que assegure respeito aos direitos humanos e a inclusão social”, explicou Gradin.

Conheça a proposta de política pública na íntegra. 

Ele também destacou o impacto das mudanças climáticas e o movimento da União Europeia e dos Estados Unidos para desenvolver políticas que impulsionam a competitividade verde. Nos Estados Unidos, foram aprovadas políticas como o Inflation Reduction Act e o Infrastructure Investment and Jobs Act, que superam US$ 1,5 trilhão e configuram o maior direcionamento de recursos públicos para a agenda sustentável já realizada pelo país. Já a União Europeia disponibilizou um pacote de estímulos verdes de 750 bilhões de euros como parte de seu plano verde.

Por isso, o estímulo à inovação com políticas públicas seria fundamental para o Brasil conseguir ocupar uma posição de destaque no cenário da economia verde e sustentável. “Precisamos estar mais atentos, comprometidos e inseridos para compreender a nova revolução industrial em curso no mundo”, pontuou Grandin. 

Na mesma linha, durante a abertura do congresso, Robson Braga de Andrade, presidente da CNI, afirmou que os investimentos públicos são indispensáveis para que o país responda aos desafios tecnológicos e às demandas por sustentabilidade que marcam o século 21. “O Brasil precisa ter clareza sobre as novas possibilidades para o aumento da competitividade e para criação de modelos de negócio, produtos e serviços de alto valor agregado”, afirmou.

Andrade declarou que as mudanças no cenário industrial podem abrir “oportunidades extraordinárias” para o Brasil na transição energética e na descarbonização dos processos industriais.

O diretor-presidente do Sebrae, Décio Lima, apontou ainda que esse processo precisa ser acompanhado de inclusão e combate às desigualdades. “Não podemos conviver com mais de 750 milhões de seres humanos que não sabem se vão ter um prato de comida; esses aspectos também têm que ser considerados por todos nós”, argumenta ele.

Relações público-privadas

Já a ministra Luciana Santos, da Ciência, Tecnologia e Inovação, trouxe em sua fala o reconhecimento da necessidade de investimentos públicos em ciência e tecnologia para transformar conhecimento em riqueza. Ela afirmou que a pasta está integrada à política de reindustrialização para o desenvolvimento de novas bases tecnológicas e sustentáveis. E citou o potencial da bioeconomia para geração de riqueza e inclusão social, ao preservar a Amazônia envolvendo as comunidades da região.

O vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, participou do congresso por meio de um vídeo em que afirmou que “inovar, incluir e descarbonizar são os pilares que inspiram a nova industrialização brasileira”. Alckmin destacou também o Centro de Bionegócios da Amazônia (CBA), que, segundo ele, vai contribuir para a geração de empregos na região da floresta transformando em renda a biodiversidade brasileira. 

Para a economista Mariana Mazzucato, professora de Economia da Inovação e Valor Público da UCL, em Londres, existe uma oportunidade no Brasil devido à forma como a sustentabilidade está sendo pensada dentro do governo. Ela participou de painel sobre políticas públicas para a ecoinovação. 

“A estratégia de transição ecológica é muito única no Brasil porque está dentro do ministério das finanças [a Fazenda]. O que a maioria dos países tem, como no caso da Alemanha, é que eles tem um ministro da economia que fala sobre o verde, a sustentabilidade, mas o ministro das finanças fala que não tem dinheiro”, avaliou.

Ela defendeu que todos os ministérios trabalhem juntos para colaborar com o objetivo de diminuir as emissões, evitando que o tema fique restrito a algumas áreas do governo. Além disso, indústrias, negócios e governo devem trabalhar uma nova relação com uma “parceria simbiótica e verdadeira” para que as metas de redução das emissões de gases do efeito estufa sejam vistas como, de fato, importantes.

Ecoinovação nas empresas

Outro destaque do congresso foi a apresentação da americana Janine Benyus, bióloga e cofundadora do Biomimicry Institute, que trouxe uma série de referências de soluções sustentáveis e inovadoras baseadas na natureza como fonte de inspiração para a indústria. 

Benyus mostrou que é possível criar concreto que sequestra gás carbônico, como fazem os corais; preservar vacinas sem a necessidade de refrigeração, como fez a empresa Nova Laboratories, por meio da análise do curso d’água; e a criar tintas coloridas sem substâncias tóxicas a partir da análise de como as borboletas produzem o pigmento de suas asas – para citar alguns exemplos. 

“Tecnologia e biologia devem caminhar juntas. É preciso valorizar a natureza não pelo que podemos extrair, mas pelo que podemos aprender com ela para criar soluções inovadoras”, afirmou a cientista. 

Descarbonização

As emissões de carbono foram assunto em diversos momentos do congresso. E o papel que o Brasil desempenhar no cumprimento de metas de descarbonização pode ser um diferencial para a economia – por isso, o esforço precisa ser conjunto entre os setores público e privado. 

O diretor de Projetos Estratégicos Globais de Sustentabilidade da BASF, Alessandro Pistillo, explicou que grandes empresas já estão empenhadas na diminuição da pegada de carbono, mas existem algumas barreiras em relação à transparência e a falta de dados para calcular a pegada de carbono de um produto. 

Pistillo relatou que, pensando nisso, a BASF desenvolveu uma solução digital para calcular as emissões de gases de efeito estufa dos produtos de seu portfólio em toda a cadeia de valor. A ferramenta calcula as emissões de escopo 1, 2 (diretamente ligadas às operações) e escopo 3 (não associadas aos seus produtos e serviços, mas a fornecedores mais distantes e ao consumidor, por exemplo). 

Mercado de capitais na ecoinovação

O painel sobre mercado de capitais discutiu as perspectivas de financiamento e possibilidades brasileiras de desenvolvimento econômico mais consciente. 

Lourdes Casanova, diretora do Instituto de Mercados Emergentes, na Universidade Cornell, nos Estados Unidos, afirmou que o Brasil é a única grande economia que possui baixa emissão de gás carbônico per capita e que isso representa uma relevante janela de oportunidade para o país. 

No entanto, um alerta seria o patamar elevado da taxa de juros brasileira, o que não é atraente para que os negócios verdes se desenvolvam aqui. “O Brasil é o único país do mundo que a taxa de juros é o dobro da inflação e na comparação com outros mercados internacionais o país acaba em desvantagem”, explicou Casanova. 

A CEO e co-fundadora da Black Money, Nina Silva, trouxe para o debate ainda a importância de investir em inclusão para que haja ecoinovação. “A inclusão e diversidade trazem possibilidades de negócios e investimentos mais diversos e alinhados com as demandas atuais”, comenta. 

Já o CEO da Oxygea, Artur Faria, apontou para a necessidade de facilitar o acesso ao financiamento e priorizar o investimento em deep techs, startups baseadas em tecnologias científicas de alto impacto. “É preciso incentivar esse mercado, as deep techs são complexas, mas necessárias para a inovação”, explica ele.

Nesse sentido, João Antônio Lopes Filho, CEO do Banco Fator, argumentou que o Brasil está atrás da Argentina em relação ao investimento em deep tech. De acordo com ele, para que esse cenário mude é preciso que sejam criados fundos de investimento com prazos mais longos porque os ciclos nesse tipo de negócio são maiores e envolvem risco. “Para o Brasil não ficar para trás, é preciso investir respeitando algumas necessidades específicas e entender que o retorno não é tão imediato”, conclui ele.

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