GOVERNADOR DE MG

Zema critica uso político da vacina da Covid-19: ‘Aqui, agimos em silêncio’

Ao JOTA, governador de Minas Gerais disse que estado fez lição de casa e está pronto para quando a vacina chegar

Romeu Zema em entrevista ao JOTA: "lamento que essa questão da vacina esteja sendo usada de modo político"
Romeu Zema em entrevista ao JOTA: "lamento que essa questão da vacina esteja sendo usada de modo político" / Foto: Reprodução

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), criticou o embate político travado no Brasil em torno das possíveis vacinas contra a Covid-19 que estão em fase de testes. Sem citar nomes, o governador disse em entrevista exclusiva ao JOTA nesta terça-feira (10/11) lamentar que a questão não tem sido tratada de forma técnica. Segundo ele, o seu governo tem agido “em silêncio”.

“É toda hora um dizendo que conseguiu tal vacina, que vai fazer primeiro, etc. Eu estou aqui tranquilo. O estado hoje está totalmente estruturado. Se amanhã chegar um carregamento de vacinas, nós temos a estrutura pronta em termos de logística. Ela precisa ser refrigerada, tem um tempo de duração. Então nós já fizemos a lição de casa, falta só a vacina chegar. Tem muita gente fazendo alarde, nós estamos agindo em silêncio, mas temos tudo pronto”, disse Zema.

Neste momento, há um embate público entre o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sobre a condução adotada para conter a crise da Covid-19 e as negociações para adquirir as possíveis vacinas em desenvolvimento.

“Muitas pessoas ficam simplificando problemas complexos e querendo que a sua receita seja aplicada em uma situação diferente. Isso aconteceu infelizmente no início da pandemia e estamos assistindo agora com relação à vacinação. Sempre fui aberto ao diálogo, discordo, mas não preciso ofender nem atacar”, avaliou o governador.

De acordo com ele, Minas Gerais confia que o Ministério da Saúde vai conduzir o programa de vacinação de forma nacional, assim como faz com demais campanhas de imunização. O estado só vai entrar na negociação direta com os laboratórios que têm desenvolvido as fórmulas caso a pasta da Saúde oriente que ficará a cargo de cada unidade da federação adquirir as doses da futura vacina.

“O mineiro, qualquer que seja o caminho, não vai ficar sem a sua vacinação garantida”, afirmou o governador.

Privatizações e reformas para lidar com crise

A situação fiscal do governo de Minas Gerais, segundo Zema, é extremamente complicada e só será solucionada se o estado fizer um conjunto de reformas e privatizar algumas estatais, como a Codemig, a Copasa, a Cemig e a Gasmig.

“Hoje, estamos colocando em dia o que o último governo atrasou, fizemos a reforma da Previdência e aguardamos a reforma administrativa, que eu espero que inclua estados e municípios. Tenho dito que fazer reforma só na União é como uma empresa fazer reforma na matriz e não nas filiais. Tudo que é possível fazer no poder Executivo está sendo feito, mas mesmo assim a despesa continua subindo de elevador e a receita de escada. Mais reformas serão necessárias, dentre elas as privatizações”, afirma.

A prioridade na agenda do governador é a Codemig, estatal que detém direitos de exploração do Nióbio, uma vez que é um processo mais fácil. “Não é uma empresa listada em bolsa e com isso a operação fica mais fácil de ser estruturada. O próprio BNDES já demonstrou interesse e o presidente [Jair Bolsonaro] já disse considerar estratégico”.

Para o segundo semestre de 2021 ou, no máximo, o primeiro semestre de 2022, a intenção é privatizar a Copasa, de saneamento básico, a Cemig, de energia elétrica, e a Gasmig, de gás. “Nós vamos encaminhar [os projetos] para a Assembleia Legislativa e vai depender muito da opinião pública, dos deputados, mas nossa pauta é que essas empresas sejam privatizadas”, disse.

Para o governador, a Cemig já está no “seu limite de endividamento, não consegue investir mais e tem como controlador um estado falido, que não consegue sequer pagar a folha de pagamento. Então temos a opção: ou vamos manter a empresa como está, sendo um fator restritivo ao desenvolvimento econômico do estado, ou vamos ter a oportunidade de privatizá-la e ter R$ 15 bilhões em investimento”.

Na avaliação de Zema, atualmente, a relação com a Assembleia Legislativa de Minas Gerais está em construção, o que será essencial para aprovação dos projetos de privatização do governo estadual.

“A credibilidade tem sido construída muito baseada em resultados. Mostramos que somos um governo eficiente e que conseguimos fazer mais com menos. No setor público sempre houve a ideia de que precisa de mais verba. Estamos mostrando aqui que esses recursos muitas vezes estavam disponíveis só não estavam sendo geridos da maneira adequada. Não temos dinheiro, mas temos comprometimento, disciplina, e implementação de metas. Temos conquistado essa credibilidade na Assembleia, mas nunca é um trabalho fácil”.

Eleições 2020

Por efeito da pandemia, Zema projeta que as eleições municipais deste ano terminarão com a reeleição de vários prefeitos que tiveram suas figuras evidenciadas durante a crise pandêmica.

“Nesse momento de pandemia, a figura deles ficou muito evidente. Houve até uma quantidade, um valor expressivo de verbas do governo federal, que possibilitou às prefeituras fazer uma série de ações que ficaram bem vistas pela população. Foi um ano excepcional e esses prefeitos têm uma situação excepcional para se reeleger”.

Neste contexto, ele citou o atual prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), que está disparado nas pesquisas de intenção de voto, com possibilidade de se reeleger, inclusive no primeiro turno. Também falou de Bruno Covas (PSDB), prefeito de São Paulo, que segue em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto.

Em relação ao desempenho do partido Novo no pleito eleitoral, o governador mineiro considera que a direção da legenda foi “excessivamente conservadora” e, por isso, não deve eleger tantos candidatos quanto poderia.

“Aqui em Minas Gerais mesmo a minha opinião não foi considerada. Estamos disputando somente 3 prefeituras, de 853 municípios. Eu não queria disputar 200 não, mas poderíamos ter disputado 15-20. O partido, na minha opinião, foi excessivamente conservador, mas acatei a decisão. Lembrando que eu não tenho votos dentro do partido, só presto contas. Vejo que o partido está se oxigenando, os deputados estão mostrando que para fazer uma política mais efetiva o partido vai ter que rever alguns pontos”, afirmou.

Na avaliação de Zema, o partido elegerá neste pleito entre 60 e 100 vereadores, e de 5 a 10 prefeitos. “Isso tudo vai mexer com o Novo que era um partido extremamente pequeno, que cresceu na última eleição, e vai crescer nessa. Temos que alçar voos maiores. Se errarmos em alguma coisa, que venhamos a corrigir. Não é o excesso de conservadorismo que evitará erros, isso eu tenho batido muito dentro do partido”.