A presidente nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), deputada federal Gleisi Hoffmann, afirmou em entrevista exclusiva ao JOTA nesta quinta-feira (3/12) que a bancada do partido na Câmara dos Deputados avalia a possibilidade de apoiar um dos dois blocos protagonistas na eleição pela presidência da Câmara: o de Rodrigo Maia (DEM-RJ) e o de Arthur Lira (PP-AL).
A contrapartida, entretanto, é que haja o compromisso do nome que pode receber o apoio do PT com a agenda mínima defendida pela sigla, que envolve discussão sobre taxar os mais ricos, imposto sobre grandes fortunas, da não privatização de estatais, da defesa das minorias e do estado democrático de direito.
“Há a tendência de que a gente apresente uma agenda mínima de compromissos para evitar retrocessos que podem comprometer estruturalmente o desenvolvimento do país e, obviamente, se comprometa com a participação do partido nos espaços decisórios da Casa, do respeito à oposição”, disse.
Agenda econômica
De acordo com a deputada, a bancada do PT no Congresso tem como objetivo barrar “retrocessos” neste fim de ano. Ela citou como exemplo pautas envolvendo a agenda de privatizações. “Não tem lógica o Congresso começar uma discussão de privatização da Eletrobras. Não é pauta prioritária discutir independência do Banco Central”, afirmou.
Para Hoffmman, o Parlamento deveria estar discutindo como pauta prioritária a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2021, que ainda não foi votada.
“Seria pauta prioritária discutirmos a LDO, que está atrasada e precisamos discutir para de fato termos um orçamento que atenda às demandas e ajude nessa situação trágica que estamos caminhando perdendo recursos essenciais de saúde e educação”, defendeu.
Ao mesmo tempo, uma agenda voltada para o enfrentamento da pandemia também precisaria estar no centro dos debates. “Tem a questão da Covid-19, estamos com aumento de novo de casos, com pressão nas UTIs. Não tem empenho do governo brasileiro em agilizar a disposição da vacina, quando é que isso vai acontecer? Se nenhuma medida for tomada, a economia vai piorar. O que vamos fazer? Como vai ser emprego e renda no ano que vem? Acho que o Congresso tinha que focar não nas reformas, na privatização, mas nas questões mais emergenciais”.
Além da eleição na Câmara: PT nas eleições de 2020
Em sua avaliação, apesar de o PT não ter vencido a prefeitura de nenhuma capital neste ano, houve um reposicionamento importante da sigla nos grandes centros, principalmente pela eleição de jovens vereadores.
“Uma das questões importantes a se analisar em relação ao PT foi um reposicionamento nos grandes centros. Porque, em 2016, nós fomos para o segundo turno em sete cidades e só ganhamos em Rio Branco. Naquele ano, fizemos no segundo turno cerca de 800 mil votos”, disse.
“Neste ano, nós fomos para o segundo turno em 15 cidades, duas capitais (Recife e Vitória) e fizemos 2 milhões de votos. Ganhamos em quatro cidades. Do ponto de vista do saldo eleitoral, 2020 foi melhor do que 2016, embora o simbolismo de capital pese nessa avaliação que as pessoas fazem. Mas, do ponto de vista de reposicionamento nos grandes centros, nós conseguimos, tanto que o PT foi o partido que mais elegeu vereadores em cidades acima de 500 mil habitantes, acho que isso é muito importante”, completou.
Hoffmann, contudo, aponta para o desafio do PT que vem há alguns anos tentando recuperar o prestígio nacional e a influência que um dia já teve na sociedade brasileira. “Há muitos anos o partido vem perdendo votação nas eleições. Isso é uma questão que nos coloca em alerta sobre como estamos falando com a sociedade. Não temos mais a sociedade organizada, principalmente no mundo do trabalho, como tínhamos quando o PT foi fundado”.
União da esquerda para 2022
A deputada defende que para a próxima corrida presidencial os partidos de esquerda tenham como prioridade uma proposta para recuperar um projeto democrático e popular de governo, ao invés de um apoio ao nome de um candidato em específico.
“Um saldo positivo deste segundo turno foi exatamente a unidade da esquerda, não só em São Paulo, mas em outras capitais como Porto Alegre, Belém e Recife. Houve uma união dos partidos do campo progressista, saúdo isso, acho muito importante, e não tenho dúvidas que isso abre espaço para a gente construir um diálogo de unidade. Claro que isso não é uma coisa dada. É uma construção”, avaliou.
Ciro Gomes e o PT
Questionada se concorda com a união da sigla com Ciro Gomes (PDT), Hoffmann disse que o político “tem que definir o campo em que está”.
“O que ele defende para o Brasil? Em salvador, o PDT fez aliança com o Democratas, em Natal apoiou a candidatura do PSDB. Em Teresina do PP. Bom, esses partidos defendem um projeto para o Brasil do ponto de vista econômico do qual nós não concordamos, que o próprio Ciro tece críticas ao projeto neoliberal de desconstrução e enfraquecimento do estado”, disparou.