Debates

Educação: Brasil tem desafios de gestão, ensino e infraestrutura tecnológica

Evento na Casa JOTA com Microsoft ouviu parlamentares e especialistas sobre desafios e propostas na área da educação

Conanda
Alunos saindo de escola na Estrutural, no Distrito Federal / Crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Estudo da recente da Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais (Brasscom) aponta que apenas 53 mil pessoas são formadas por ano em cursos de perfil tecnológico e a demanda média anual é de 159 mil profissionais de Tecnologia da Informação e Comunicação no Brasil. Além disso, a pandemia de Covid-19 escancarou a desigualdade tecnológica na educação pública. Esses foram os principais temas debatidos no evento Transformação digital na educação: desafios do Estado, patrocinado pela Microsoft e realizado nesta quinta-feira (9/6) na Casa JOTA, com participação de parlamentares e especialistas.

A vice-presidente Jurídica da Microsoft Brasil, Alessandra Del Debbio, afirmou que a empresa enxerga a tecnologia como instrumento, um meio, e não um fim. “Como sociedade só seremos bem sucedidos se não deixarmos ninguém para trás, precisamos inserir e reinserir todo mundo. Precisamos de educação, capacitação profissional, habilitação da economia digital e crescimento sustentável com impacto social. E, no Brasil, que estamos falando de tanto retrocesso, precisamos encarar isso com coragem”.

O deputado federal Reginaldo Lopes (PT-MG), líder do partido na Câmara, ressaltou a desigualdade na inclusão digital revelada pela pandemia. “Estamos muito atrasados. O programa de internet do governo não teve sensibilidade de olhar para o campo, para áreas mais distantes. Vamos precisar tomar uma decisão para o país: o que queremos? Como vamos transformar essa nação rica e também desigual? Precisamos de um esforço coletivo para que a tecnologia seja aliada de um novo processo educacional”.

Hebert Lima, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e secretário de Educação de Sobral (CE), afirmou que, além do investimento em infraestrutura, é preciso oferecer capacitação e qualificação dos profissionais.

“É preciso ir além do uso de tecnologia, é importante também o fortalecimento da gestão escolar, professores e diretores qualificados, fortalecer a autonomia da escola e é fundamental ter avaliações de diagnóstico para pautar uma política. Outro eixo é valorizar o magistério por meio de incentivos e gratificações. Esses são alguns pilares importantes para uma política pública de ensino de qualidade que transforme efetivamente a vida das crianças. E a tecnologia é uma ferramenta a mais”, declarou Lima.

Ele também deu exemplos de como a tecnologia pode ajudar na gestão educacional. “Com mineração de dados educacionais, a partir de inteligência artificial, conseguimos monitorar alunos propensos a evasão escolar — que pode ser por questão econômica, por questão de transporte, de segurança. Outro aspecto importante que essa ciência de dados nos traz é a possibilidade de monitorar e avaliar o aprendizado desde o processo de alfabetização da criança”, explicou o secretário.

Desafios políticos

O senador Izalci Lucas (PSDB-DF), presidente Frente Parlamentar Mista de Ciência, Tecnologia, Pesquisa e Inovação, contou que participou da elaboração do Plano Nacional de Educação, mas que ele se tornou apenas um “plano de intenção”.

“Não conseguimos atingir as metas do plano. A luta da inclusão digital é imensa. Não temos uma política pública de Estado, temos de governo. Cada governo que entra começa de novo, e dentro dos próprios governos temos um isolamento completo. Hoje estamos no 5º ministro da Educação, o 6º de Saúde, e não há interação nenhuma”, afirmou o senador.

Ele ainda ressaltou que os jovens não estão sendo preparados para o mercado. “Tem uma geração enorme de jovens que não estudam nem trabalham. Não temos mais o curso técnico como tínhamos na minha época. Não é nem preparar o jovem para o futuro, mas é o nosso presente. E o nosso país é analógico”.

Rossieli Soares, ex-secretário do Estado de São Paulo e ex-ministro da Educação do governo Michel Temer, destacou que é preciso colocar a educação como prioridade de governo. “Precisamos dar destaque à necessidade da presença de professores dentro da sala de aula, a tecnologia é uma ferramenta a mais e não substituta. A chave do desenvolvimento está na educação. Precisamos ter equipamento dentro das escolas. Não podemos discutir tecnologia sem falar com os jovens. O YouTube hoje é mais presente na vida do jovem do que a escola”.

O deputado Professor Israel Batista (PSB-DF), presidente da Frente Parlamentar Mista de Educação, reafirmou a necessidade da valorização de professores. “Não tem como você fazer uma escola qualificada se um dos principais atores da escola não tem prestígio. O aluno olha pra ele e prefere o YouTube. O Brasil me parece perdido em debates secundários, laterais, mas porque não temos tratado esse debate com a centralidade que merece. Temos cortes consecutivos na área de educação.”

Tanto o deputado Professor Israel quanto o senador Izalci apontaram problemas com o governo federal para debater propostas de educação e ciência, tecnologia e educação.

“Infelizmente muita coisa tem que partir do Executivo, ele que tem que priorizar. Mas aí tem uma reforma tributária e o governo sequer se manifesta, não tem nem líder do governo no Senado. Falta vontade política”, afirmou o senador. “Na Frente de Educação, resolvemos não esperar mais o governo e seguir com o trâmite no Legislativo”, complementou o deputado Israel.

O deputado Reginaldo Lopes afirmou ainda que o próximo governo precisa definir prioridades como romper com as desigualdades. “Para além das estruturas nas escolas, precisamos pensar em praças públicas conectadas, pensar em uma política nacional de tecnologia. Somos um país de mais de R$ 1 trilhão de PIB, é inaceitável dizer que não tem orçamento”.

A Microsoft lançou o Plano Mais Brasil para promover o crescimento da educação, capacitação profissional e empregabilidade com uma plataforma de ensino remoto com cursos em todos os níveis, desde educação digital até módulos mais avançados de computação em nuvem e ciência de dados.

O relatório estima que as empresas de tecnologia demandem 797 mil talentos de 2021 a 2025. No entanto, com o número de formandos aquém da demanda, a projeção é de um déficit anual de 106 mil talentos — 530 mil em cinco anos.