Carreira

Diretores jurídicos de empresas negligenciam marca pessoal, diz pesquisa

Profissionais não investem em ferramentas para potencializar valores e aumentar reconhecimento. Como mudar isso?

Foto: Unplash

Todo mundo tem uma marca pessoal — uma mistura de características pelas quais se é reconhecido e valores ligados a si. Mas, nos últimos anos, ganhou importância fazer também a gestão dela foco na própria carreira. A estratégia de posicionamento serve para todas as profissões, porém, boa parte dos profissionais corporativos não a tem como prioridade.

Esse é o caso dos diretores e gerentes jurídicos de empresas, que atuam em uma das áreas corporativas mais tradicionais. A partir de entrevistas com cem executivos desse setor em multinacionais na América Latina, estudo do escritório de advocacia CMS concluiu que esses profissionais não trabalham sua marca pessoal intensamente — o que pode ser uma perda de oportunidade para muitos deles.

Entre os diretores ouvidos, 56% não desenvolvem sua marca pessoal e apenas 18% deles trabalham permanentemente para melhorá-la. Além disso, apenas 5% têm assessoria nesse sentido. Para 66%, desenvolver relações internas dentro da empresa é o mais importante nesse objetivo, enquanto 21% acredita na estratégia de ser “o melhor” em questões técnicas jurídicas. E apenas uma minoria usa as redes sociais em sua total potência.

Diferentemente de outras atuações, como empreendedores e profissionais liberais, que precisam comunicar sua marca inclusive como estratégia para obter clientes, as pessoas que trabalham para uma empresa — e, muitas vezes, são porta-vozes dela — costumam ter menos necessidade imediata ou até certa resistência em investir nisso.

A gestão da nossa marca (processo também chamado de branding pessoal) tem relação com o tipo de impressão que gostaríamos de deixar, tanto para quem nos conhece pessoalmente quanto em outros círculos. Isso não significa criar uma persona, mas entender quais pontos fortes e o que deve ser realçado tendo em vista a manutenção de certa coerência com os objetivos que se tem para a carreira. Esse tipo de entendimento vale tanto para o offline quanto, nos últimos anos, para o online, já que estamos em um mundo hiperconectado em que as redes sociais podem dizer muito sobre quem si é.

“O foco deve ser mais na vida real do que no online. Claro que hoje em dia as redes sociais são importantes, mas se trata mais de construir relações do que de postar sobre trabalho”, afirma Ted Rhodes, representante da CMS no Brasil. Isso é especialmente verdadeiro quando se está ligado a uma empresa, já que a sua marca pessoal pode se conectar a empresa, e não é exatamente a esse lugar que uma identidade deve estar resumida. “Ele representa a empresa, não é ela”.

Nas empresas, ela pode ser importante para, quando é necessário buscar uma pessoa reconhecida por certas qualidades, o profissional seja lembrado. Isso valeria para participar de projetos em outras áreas ou até atuar como porta-voz de certo assunto. Geralmente, o objetivo de gerir a marca pessoal é se posicionar como autoridade em determinada frente. Trabalhar a marca nesse ambiente pode ser fundamental, já que ajuda a estreitar relações e ampliar influência, aponta o estudo.

O foco em marca pessoal combina elementos de diferentes áreas — aplicadas ao profissional em vez de a uma empresa —, como marketing, psicologia e até sociologia. Basicamente, ela pode funcionar como uma ferramenta que, no caso de profissionais corporativos como diretores jurídicos, ajuda a comunicar sua proposta de valor, um elemento fundamental para influenciar a tomada de decisões.

Para facilitar a visualização sobre como a marca pessoal pode trabalhar pela carreira, vale entender as definições trazidas pelo estudo sobre três aspectos. Em primeiro lugar, a visão da marca, que seria uma manifestação de quem se é e por que deveriam te conhecer ou uma proposta de valor. Também a missão, isto é, o que se pretende fazer com a marca, quem pretende influenciar e quais os objetivos. E, por fim, a mensagem, o que se quer transmitir ao público, com origem na visão da marca e que contribui para cumprir a missão dela.

Pode parecer difícil entender como o fortalecimento da marca pessoal pode contribuir para ser reconhecido dentro e fora do ambiente profissional e também digitalmente. O entendimento é que o progresso na carreira acontece também conforme os profissionais entendem sobre quais são suas potências, valores e como podem trabalhar certos traços — comportamentais ou mesmo habilidades que podem contribuir para fortalecer a marca, como ajustar o tom de voz ou entender o que o vestuário comunica.

Para os executivos da área jurídica, investir em marca pessoal tem relevância quando passa por aspectos como definir uma estratégia de carreira relevante a partir de suas qualidades específicas e próprias. Em outras palavras, o que o torna autêntico e não é encontrado em outros profissionais da área); construir redes estratégias com audiências interessadas (o que pode acontecer online também); aumentar influência e incrementar visibilidade.

Além disso, a gestão da marca pessoal passa por entender que o que se é no trabalho está diretamente vinculado ao âmbito pessoal. “As pessoas não precisam destacar apenas características profissionais. Inclusive, interesses pessoais podem ser até mais importantes, pois eles nos diferenciam e dizem quem somos. Pode parecer difícil fazer isso sem se expor, mas há uma medida possível”, afirma Rhodes.

Quando se trata de levar isso para o digital – em que o objetivo pode ser atingir mais pessoas ou apenas manter uma referência para quando buscarem o nome do profissional –, mostrar parcelas do lado pessoal não equivale a expor sua intimidade, e sim não se mostrar apenas pela profissão. “Para quem sabe usá-la, pode ser uma grande vantagem para a construção de carreira”, aponta.

O estudo faz a ressalva ainda que a situação não é uniforme para todos os profissionais. Nas entrevistas, 67% das gerentes jurídicas responderam que, de alguma maneira, sentem que o gênero foi um obstáculo para o desenvolvimento de reconhecimento a partir de suas marcas pessoais. Talvez aqui se trate dos estereótipos que costumam relacionar o feminino a características pouco valorizadas no mundo do trabalho. Porém, as mulheres não devem entender isso como um incentivo a se aproximar dos estereótipos masculinos em suas marcas.