Ricardo Chazin

Headhunter não é uma profissão que se ensina na Universidade. Geralmente o profissional se “torna um caçador de talentos” por algum motivo que não estava em seu planejamento inicial.
Eu, por exemplo, sou formado em Direito e desde o terceiro ano da faculdade advoguei em escritórios de pequeno porte (até 25 advogados), mais precisamente na área tributária. Em 2007, com três anos de formado, fui convidado para fazer um projeto de um ano em Buenos Aires, na Argentina, para duas empresas que o escritório em que eu trabalhava representava.
Ao regressar tinha certeza que não gostaria mais de ser tributarista e, com isso em mente, me juntei a três colegas de faculdade para montar meu próprio escritório. Foi muito bom. Foi apenas por ter sido dono do meu próprio negócio que deu para ter certeza que o meu problema não era com a área tributária e, sim, advogar!
Eu amava marcar visitas, amava buscar clientes e trabalhos novos, amava discutir projetos numa mesa de reunião, o que eu detestava fazer era advogar, ou seja, colocar no papel todas as discussões que foram efetuadas em uma mesa de reunião. Assim, muito infeliz, em 2010 saí do meu então escritório e procurei com muita preocupação definir qual seria o próximo passo da minha carreira. Era uma decisão muito difícil principalmente porque eu tinha investido meus últimos 10 anos no aprimoramento das minhas técnicas jurídicas e estava decidido a deixar tudo de lado.
No final de 2010 fui entrevistado em uma empresa muito tradicional de headhunters, e depois de quase 2 horas de entrevista veio o convite: “por que você não vem trabalhar comigo?”. Até o momento eu nem sabia que existia headhunter para a área de legal e agora estava sendo convidado para ser um headhunter.
Nas semanas que seguiram eu procurei entender um pouco mais sobre o que fazia um headhunter e, o que é mais importante, quais as características que é preciso ter. Quanto mais eu me aprofundava, mais animado eu ficava com esta nova profissão.
Em janeiro de 2011 me tornei headhunter e hoje, exatos 6 anos após a minha decisão, tenho orgulho de ver todo conhecimento que tenho do mercado jurídico brasileiro e ver como os profissionais/empresas que ajudei sempre elogiam e recomendam o meu trabalho. No final, mesmo tendo errado na faculdade que segui (Direito), acertei no rumo que dei na minha carreira.
Abaixo um breve relatório do dia-a-dia da profissão: 
Segunda-feira 
Todos os dias, separo os primeiros minutos para me infomar das notícias do dia, bem como das notícias jurídicas. Para isso, uso o clipping diário do The New York Times, da Folha de S.Paulo, da Latin Lawyer e do JOTA. Ser bem informado no meu mercado é uma das principais obrigações.
Todas as segundas, a primeira atividade do dia é preencher um relatório global da Laurence Simons (somos ingleses e reporto para a sede). Trata-se de uma planilha que contém todos os KPI´s (indicadores de performance) utilizados pela nossa matriz, que servem para controlar os trabalhos desenvolvidos por todos os profissionais que trabalham na Laurence Simons ao redor do globo.
Logo depois, tive uma entrevista com um profissional sênior da área de societário/M&amp;A. Na conversa, consegui entender um pouco mais sobre o trabalho deste profissional, o momento atual que ele atravessa (pleiteando uma vaga na sociedade) e, no fim, apresentei um projeto de um escritório de médio porte com o qual estou trabalhando.
Nossas entrevistas duram aproximadamente uma hora. Geralmente o roteiro envolve o dia-a-dia do profissional, principais clientes e casos em que ele atuou, complexidade das causas que ele cuida, trajetória, planos para o futuro e demais habilidades.
Todas as segundas, na parte da tarde, a equipe da Laurence Simons São Paulo se reúne para conversar sobre a semana anterior, bem como para definir e planejar ações para os próximos dias. Essa reunião é o momento em que discutimos números (NFI), forecast (previsão de faturamento) do mês e o mercado em geral.
Após a reunião, tive o prazer de ministrar uma aula no Insper, a última do curso de LL.C. (pós-graduação), cujo tema foi: “A advocacia empresarial e o mercado de trabalho no Brasil”.
Durante as três horas de aula discutimos sobre o mercado de trabalho, a diferença entre os advogados de empresa (in-house) e de escritórios, as áreas em alta e em baixa, o que o mercado considera atrativo em um profissional, a importância de um business plan (como criá-lo), por fim, discutimos sobre o que deve conter um currículo e quais são os principais erros ao fazê-lo. 
Terça-feira 
Durante a manhã tive uma reunião com um cliente para apresentação de um long list, ou seja, um relatório com diversos nomes de sócios que poderiam interessar ao escritório, para definirmos juntos quais iremos abordar.
O cliente é um escritório de advocacia de médio porte (50 advogados) altamente especializado no direito empresarial. A vaga é para ser sócio na área de direito bancário.
Nestes casos, é necessário um extenso mapeamento de mercado, análise dos perfis, agendamento de reunião com cada um dos nomes citados, apresentação do projeto e confirmação do interesse em participar.
À tarde, fui visitar um escritório de advocacia de médio porte (60 advogados) para apresentar a Laurence Simons, conversar sobre o mercado e discutirmos sobre a possibilidade de iniciarmos uma parceria. A reunião em questão trata-se de uma apresentação da Laurence Simons, mas nós prezamos e acreditamos muito em uma relação muito próxima aos clientes, assim, é normal programarmos visitas costumeiras buscando entender o momento atual deles.
Quarta-feira 
Durante a manhã, reservei minha agenda para trabalhar algumas posições que o prazo de envio de Short List (lista com nomes dos finalistas) se aproximava. Ótimo momento para responder todos os e-mails que estavam em aberto. Aqui temos uma ressalva: procuro responder os e-mails de clientes imediatamente. O prazo máximo que deixo sem resposta nunca excede 2 horas.
Apesar de a carreira de headhunter ser repleta de entrevistas e reuniões, o trabalho burocrático de escritório existe e muito tempo tem que ser destinado a isto.
Na parte da tarde, tive uma reunião em um importante banco de investimento estrangeiro, onde discutimos sobre mercado, possíveis vagas, planos para 2017 e atualidades.
Quinta-feira 
No primeiro horário da manhã tive uma entrevista com um profissional de um escritório de grande porte que está em um momento de muitas dúvidas de como seguir na carreira e, logo após, entrevistei dois candidatos seniores para um outro projeto que estou conduzindo.
Durante a tarde visitei uma Asset internacional e, ao retornar para o escritório, tive um conference call com um importante escritório de advocacia do Rio de Janeiro para oficializarmos a abertura de um processo seletivo de sócio societário e alinharmos o perfil desejado.
Sexta-feira 
Durante a manhã reservei o primeiro tempo para checar meus e-mails e alinhar com o financeiro algumas pendências.  Nosso financeiro é externo e exige esse contato direto sempre que há alguma alteração, mudança ou pagamento.
Na parte da tarde tive um conference call com um cliente (escritório de advocacia boutique) para dar uma posição de um processo seletivo que está em andamento.
Além de receber e trabalhar nas vagas, é imprescindível manter o cliente informado sobre todos os passos do processo seletivo.
Por fim, enviei o Short List de advogado Sênior contencioso para meu cliente, solicitando também uma agenda para falar um pouco sobre os profissionais enviados.
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Essas foram as atividades desenvolvidas durante a semana. A variedade de atividades é uma das principais características da profissão. O dia-a-dia varia muito de acordo com o número e complexidade de projetos. Pró-atividade, assertividade, resiliência, bom relacionamento interpessoal, perfil comercial e comprometimento são características fundamentais para o sucesso como headhunter.  Espero ter conseguido passar um pouco das minhas experiências e ter contribuído de alguma forma.
Busque seu propósito. Deixe o seu legado.

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JOTA

Pró-atividade, resiliência, bom relacionamento e perfil comercial são fundamentais para o sucesso

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