Mariana Ribas

Levar documentação a fóruns e ir em busca de processos para pesquisar a jurisprudência dos casos. Essas eram algumas das funções dos estagiários de Direito antes da virada do século. Com a inovação tecnológica, o trabalho do estagiário se readaptou e, hoje, ele fica encarregado de tarefas menos braçais.
As principais mudanças aconteceram na virada dos anos 90 para os 2.000, com a inclusão da internet e eletrônicos na rotina de trabalho. Softwares surgiram e facilitaram a função que antes era desempenhada pelo estagiário - como a pesquisa de processos, prazos e a realização de cópias. Atualmente, os estudantes que trabalham em escritórios de advocacia se ocupam de tarefas menos mecânicas. Participam da criação de peças e das questões jurídicas em geral.
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“Quando entrei no escritório como estagiário, eu tinha uma carteira de processos que eu precisava verificar no fórum, porque não existia uma lista de ações nos sites de tribunais, muito menos o processo eletrônico que temos hoje, com tudo disponível”, lembra Antonio Marzagão Barbuto Neto, sócio do escritório de advocacia TozziniFreire, em São Paulo, onde começou como estagiário em 1999.
“Eu ia para o fórum de uma a duas vezes por semana. Fazia muita pesquisa braçal, como ir à biblioteca do escritório, ler artigo, tirar xerox, grifar e fazer memorando. Hoje, o estagiário raramente vai ao fórum, porque o processo está todo eletrônico”, acrescenta Marzagão.
O advogado também menciona como essa mudança foi positiva para os estagiários: “Sem o tempo que o estagiário levava para fazer o acompanhamento processual no fórum e achar as informações de pesquisa, sobra mais espaço na agenda para ele escrever e ter contato com funções mais práticas do Direito”.
“Os estagiários hoje participam mais da elaboração de peças, ajudam o advogado diretamente. Costumo dizer que os estagiários de hoje são privilegiados”, complementa.
Isabella Menezes, advogada do escritório Levy &amp; Salomão, em São Paulo, também notou essa mudança. “Antes, os estagiários tinham funções mais secundárias, e hoje participam de questões jurídicas”, afirma.
A tecnologia também é assunto na graduação, mas sob outra abordagem. Muito se discute sobre o futuro da advocacia e a substituição do trabalho mecânico de alguns advogados pela inteligência artificial. “No curso, discutem muito a readaptação do estagiário. Temos matéria de tecnologia e os professores exploram essas mudanças”, pontua Marcela Assef, estudante do segundo ano de Direito na Universidade de São Paulo (USP) e estagiária do escritório Levy &amp; Salomão.
Alexandre Zavaglia, advogado especialista em Direito Digital pela FGV de São Paulo e cofundador da Future Law, entende que a tecnologia não é uma ameaça aos novos advogados ou estagiários só porque vão deixar de fazer determinadas tarefas."Pelo contrário, agora eles têm a oportunidade de estar muito próximo dos sócios dos escritórios, criando contatos, porque eles podem ajudar e participar das questões jurídicas”, analisa.
Zavaglia também acrescenta que a tecnologia deve ser supervisionada pelas pessoas, portanto, é necessário o estudo e dedicação para lidar com ela, e os estagiários fazem parte dessa nova etapa. “A tecnologia não faz nada sozinha, precisa das pessoas para interpretar seus dados”.
“O estagiário vem de uma geração que cresceu na tecnologia, são ‘nativos digitais’. Então eles têm muita facilidade em trabalhar com a tecnologia”, afirma Zavaglia.
Apesar de a inovação estar mais presente nos ambientes jurídicos, há escritórios que ainda demandam dos estagiários basicamente apenas atividades repetitivas. "Esse momento de transição permite aos estudantes de Direito usar isso como um critério pra avaliar esse local de trabalho", afirma Ivar Hartmann, professor e coordenador do Centro de Tecnologia e Sociedade e do Núcleo de Ciência de Dados Jurídicos da FGV.
"Se eu acabei de entrar num escritório, numa empresa, e começo a perceber que a quantidade de trabalho braçal que me é demandada é quase total, isso é um forte indício de que esse lugar, essa instituição, não está buscando se adaptar aos novos tempos", critica.

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JOTA

Com a inovação, o trabalho do estagiário se readaptou, abrindo espaço para funções menos braçais

A tecnologia mudou as atividades do estagiário de Direito?

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