
A eleição de 2022, em que um presidente concorre à reeleição, é muito importante como um plebiscito no qual o eleitorado tem a oportunidade de avaliar o desempenho do governo incumbente. No primeiro turno realizado em 2 de outubro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conseguiu vencer o presidente incumbente, Jair Bolsonaro, com 48,4% dos votos válidos. Por menos de 2 milhões de votos, Bolsonaro, recentemente filiado ao Partido Liberal (PL), quase perdeu no primeiro turno, recebendo 43,2% dos votos válidos.
Desde a redemocratização, temos poucas eleições em que o atual presidente concorreu à reeleição. Foi o caso de FHC em 1998, Lula em 2006, Dilma em 2014 e agora Bolsonaro em 2022. O caso mais bem-sucedido de reeleição foi a campanha de Fernando Henrique Cardoso, que venceu no primeiro turno com 54,3% dos votos, nem precisando concorrer no segundo turno. O segundo caso mais bem-sucedido foi o de Lula em 2006. Em sua campanha à reeleição recebeu 48,6% contra seu adversário, Geraldo Alckmin (PSDB), que recebeu 41,64% – na disputa mais polarizada até a atual eleição. O desempenho de Bolsonaro somente superou o de Dilma em 2014, quando a mandatária obteve 41,6% dos votos frente a seu adversário, Aécio Neves (PSDB) que contou com somente 33,5%.
Figura 1: PIB per capita no ano anterior à eleição e voto para o candidato incumbente nas eleições desde a redemocratização no Brasil (1989-2022)

Como demonstra a Figura 1, o baixo desempenho de Bolsonaro é pior do que o esperado considerando que a economia está com melhores resultados na atual eleição em comparação ao contexto de 2014 – pelo menos considerando o crescimento do PIB per capita. Naquele ano, Dilma fazia campanha pela reeleição com o crescimento do PIB per capita em 2% em 2013, um quadro que piorou somente no meses anteriores ao pleito. No caso de Bolsonaro, porém, os estímulos de gasto e desonerações de impostos resultaram em uma melhoria na véspera da eleição.
Porém, como temos discutido ao longo deste ano, o crescimento do PIB per capita em 3,9% não tem sido suficiente para melhorar o desempenho econômico para a maioria do eleitorado. Em 2021, o desemprego atingiu 13,3 % e a inflação chegou a 8,3% (ver Figura 2). Estes indicadores são importantes porque sinalizam que a receita econômica de Bolsonaro não está se traduzindo em melhoria na renda e nas condições de emprego da maioria do eleitorado. E os fatores pelos quais Bolsonaro não tem conseguido produzir uma melhora no desempenho econômico, apesar de todas as manobras fiscais, certamente devem ser um foco importante do debate neste mês.
Figura 2: Desemprego e inflação no ano anterior à eleição no Brasil (1998-2022)
Por este motivo, enquanto os apoiadores do atual mandatário comemoram seu desempenho acima do esperado nas pesquisas de opinião pública divulgadas na véspera da eleição, suas chances para vencer o 2º turno dependem de dois adversários – Lula e o desempenho da economia durante seu governo.
O Brasil enfrenta uma economia em crise que demanda políticas para uma série de desafios em várias frentes, e um contexto internacional complexo e desfavorável. Economistas se preocupam com o fato de estarmos num momento crítico em que o perigo de uma nova recessão global se aproxima. Em menos de quatro semanas, será muito difícil o presidente ganhar apoio sem um novo programa econômico – uma proposta que até agora não apareceu nem em seu programa de governo, nem em suas intervenções nos debates ou nas entrevistas após o primeiro turno.