RISCO POLÍTICO

Centrão se mobiliza com percepção de que Bolsonaro errou sobre guerra na Ucrânia

Grupo tenta converter em agenda positiva para o presidente a imagem negativa que vinha se cristalizando

Bolsonaro guerra na ucrânia
Crédito: Raoni Arruda

O efeito da guerra entre Rússia e Ucrânia chegou definitivamente ao cenário político brasileiro. As primeiras manifestações públicas de Jair Bolsonaro (PL) mostrando certo alinhamento a Vladimir Putin provocaram desgaste para o presidente.

Com o Itamaraty mantendo uma conduta de diplomacia profissional e se distanciando das falas de Bolsonaro, o clima vinha piorando para o Planalto na medida em que a Rússia ficava mais isolada com sanções e decisões duras de organismos internacionais.

Foi então que o presidente se mobilizou para dar uma resposta às questões que se mostravam mais urgentes relativas às consequências do conflito no Leste Europeu.

Medidas econômicas, transporte e socorro a brasileiros que estavam em território de combate, e até refúgio a ucranianos com visto humanitário, entraram no pacote de providências adotadas pelo Executivo depois de mais de uma semana em compasso de espera.

A mobilização do governo é resultado direto da percepção que Bolsonaro errou em seu posicionamento inicial, deixando o mundo acreditar em uma suposto neutralidade do país na guerra, o que está longe de acontecer na prática. É só olhar a conduta dos nossos diplomatas na ONU, por exemplo.

Esse quadro, somado à preocupação de mais inflação de alimentos e risco ao agronegócio, uma base fundamental para o presidente, é que levou o governo a rever sua estratégia.

 

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Então o centrão resolveu assumir de novo o controle das operações para tentar converter em agenda positiva para o chefe do Executivo a imagem negativa que vinha se cristalizando. Se vai dar certo, poderemos confirmar nos próximos dias.

A semana também marcou a abertura da janela de transferências partidárias, que é o período em que políticos podem mudar de partido sem sofrer punições, mas as principais mudanças devem ficar para o final do mês e início de abril, quando teremos um pacote de novidades, como a renúncia de governadores, a troca de siglas e até de domicílio eleitoral.

É um mês decisivo para as candidaturas à presidência. As pesquisas eleitorais mostram uma sutil recuperação de Bolsonaro, enquanto Lula mantém seu patamar de intenções de voto. A classe política está agora, após a quarta-feira de cinzas, acreditando menos em uma vitória do ex-presidente no primeiro turno e apostando mais que o páreo será duro – muito mais do que imaginava.

As análises completas de Fabio Zambelli, analista-chefe do JOTA, sobre a semana para o governo estão disponíveis também no perfil do JOTA no Instagram (@jotaflash) às sexta-feiras.