Algo em torno de 95% dos eleitores dizem já terem se decidido em quem votarão para presidente em 2 de outubro quando estimulados com uma lista de possíveis nomes. Mesmo que esse número pareça um exagero, não é uma fantasia da minha cabeça. Esse dado foi obtido calculando o consenso médio de mais de 80 pesquisas eleitorais já realizadas desde o ano anterior. Embora haja alguma variação de pesquisa para pesquisa, essa medida parece bastante consistente entre os institutos que estou acompanhando.
A figura a seguir faz uma comparação histórica do número de indecisos no ano eleitoral e a três dias da data da eleição com pesquisas eleitorais da modalidade estimulada.
Pelo quadro é possível concluir que 2022 será a eleição com o menor índice de eleitores indecisos de que se tem registro. Mesmo que estes 4% ou 5% dos eleitores se decidissem todos por um único candidato, ainda assim seria insuficiente para alterar a ordem até o segundo colocado.
A média da soma das declarações de voto espontâneo para Lula e Bolsonaro já atinge 56%. E nas pesquisas estimuladas esse índice soma 69%, número aferido na última atualização do agregador do JOTA. Nunca tivemos na história a percepção de consolidação dos votos em torno de duas candidaturas tão alta ainda no primeiro semestre. A polarização faz com que o eleitor decida o voto muito antes, reduzindo as chances de ele mudar de opinião durante a campanha.
Isso não quer dizer que essa eleição já está decidida. Pelo contrário, como escrevi aqui algum tempo atrás, e as demonstrações no último fim de semana envolvendo famosos no Lollapalooza e as reações dos candidatos reforçam a avaliação de que esta eleição será cheia de emoções e provavelmente decidida por uma pequena fração do eleitorado. Uma diferença muito menor do que as pesquisas estão conseguindo capturar agora com as perguntas de intenção de voto.
A estratégia generalizada, hoje em dia, passa por perguntar sobre as preferências atuais das pessoas, recorrendo a expressões como “se a eleição fosse hoje”. Anos de experiência sobre esses levantamentos mostram que perguntar por intenções futuras (o voto no dia das eleições) aumenta a percentagem de indecisos.
Muitos entrevistados hoje parecem relutantes em rejeitar a hipótese de que futuros eventos da campanha possam alterar as suas intenções de voto até sua chegada à cabine de votação. A experiência das duas últimas eleições presidenciais (2014 e 2018) também deixou os institutos mais sensíveis à hipótese de ocorrerem mudanças maciças nas intenções de voto, em curtos períodos de tempo. Desta forma, refugiam-se de possíveis críticas depois da contagem dos votos.
O início da campanha é normalmente carregado com vários tipos de informações políticas que podem mudar a opinião até mesmo daqueles eleitores “decididos”. São debates, uma enxurrada de anúncios, gafes, e talvez uma ou duas surpresas até outubro. Contudo, os eleitores indecisos são precisamente aqueles menos propensos a sintonizar nos programas e debates eleitorais, o que ajuda a explicar por que os debates normalmente têm pouco efeito sobre as eleições.
Eleitores indecisos vs. decididos
Dentro da linguagem da ciência política os eleitores indecisos são geralmente retratados como pessoas ambivalentes e desinformadas sobre diversos assuntos importantes para o país ao ponto de elas não conseguirem sequer tomar uma posição sobre eles.
Mas isso não está totalmente certo. Estes eleitores “indecisos” podem não ser tão desinformados quanto desinteressados. Vale a pena parar aqui para esclarecer uma coisa: “desinformado” não significa “burro” ou “ignorante”. Estamos todos desinformados sobre determinados temas. Você não acreditaria o quão pouco eu sei sobre, digamos, futebol.
Eu estou ciente de que a série A do Campeonato Brasileiro está acontecendo neste momento, mas não posso dizer quem venceu a última temporada, ou quem está na disputa deste ano. Futebol apenas não é algo que eu preste atenção. Portanto, talvez esses eleitores indecisos tenham a mesma relação com a política que eu tenho com futebol.
Quem são os indecisos?
É possível definir o perfil dos eleitores indecisos olhando o relatório da última pesquisa do Datafolha: eles são mais propensos a ser mulheres, jovens de até 24 anos, donas de casa ou estudantes, sem ensino médio ou universitário e renda familiar mensal de até R$ 2.424.