Pedro Gordilho

O movimento denominado Art Nouveau precede o movimento denominado Art Deco. Portanto, para os que gostam de fazer exercício de memória, usando as letras do alfabeto, a letra N, contrariamente à ordem alfabética, vem antes da letra D. 
 O Art Nouveau (art é palavra masculina) marcou a virada do século XIX, alcançando a arquitetura, a decoração, as artes aplicadas e, também, as artes gráficas. A sua culminância se deu com a exposição universal de Paris de 1900, para a qual convergiram todos os produtores de arte, simpatizantes e adeptos da nova tendência de manifestação artística. É só lembrar das velhas linhas do metrô parisiense. O arquiteto Hector Guimard se deixa tocar pelo novo estilo e sua realização mais famosa (entre muitas outras que se encontram em entradas de edifícios do começo do século XX) foi o desenho para as entradas das estações do metrô, em que soube associar ao novo meio de transporte de massa estruturas de ferro sinuosas, sugestivamente pintadas de verde escuro, pois a proposta era vegetalizante. Elas lembram a Paris de 1900, tanto quanto o Cancan ou os famosos cartazes de Toulouse – Lautrec. 
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Em dez anos apenas (1895 – 1905) verifica-se uma verdadeira reviravolta nos valores estéticos e no gosto. Criadores de arte, abandonando o estilo conservador patrocinado pela sociedade próspera do século anterior, inauguram um estilo em harmonia com o século que desponta. Um estilo que reúne à fantasia e à exuberância das concepções, uma visão inovadora, inspirada nas mudanças que se passavam no campo da cultura, da técnica e da economia. Desponta o estilo Deco.
 As origens são bem localizadas em duas fontes principais. Primeiramente, o movimento britânico Arts and Crafts, que rejeitava o sistema acadêmico e propunha a volta à natureza e às puras raízes do artesanato. Depois, a surpresa, a admiração, o absoluto encantamento despertado na Europa pela descoberta da arte japonesa, com suas linhas elegantes, econômicas, sua assimetria, seu colorido plano nas estampas gravadas em madeira, seu uso da forma e dos materiais (cerâmica, lata, metal), sua sobriedade, sua pureza e liberdade dos espaços interiores.
 O impacto foi fulminante, marcado pela interação da arquitetura e da decoração, estendendo-se a decoração aos mais insuspeitados detalhes. As fachadas têm sacadas decoradas com relevos surpreendentes ou grades de ferro. No interior, tudo corresponde a um novo modo de pensar o espaço, a iluminação, o mobiliário. Azulejos em relevo, papeis de parede, luminárias, nada foge à integração desejada pelos que imaginaram o novo movimento. O movimento influi nas artes cênicas (cenários e figurinos de operas, de balés) e até mesmo na planificação de edifícios coletivos, tais como escolas, igrejas, bibliotecas, teatros, estações de trem.
 O fim do século XIX traz a libertação da rigidez vitoriana, a mulher começa a rever sua condição na sociedade, o vestuário se adapta à vida urbana.
 Na França, a cidade de Nancy celebrizou-se pelas ousadas manifestações na arte do vidro, estimuladas pela figura singular de Émile Gallé, esteta, vidreiro, ebanista, em torno do qual formou-se a chamada escola de Nancy.
 Nos Estados Unidos, o maior criador do estilo, L.C.Tiffany, dedicou-se ao vidro artístico e conquistou com suas obras o requintado meio parisiense. Foi um movimento que teve duração efêmera, mas intensa. Antes da primeira Guerra Mundial (1914 – 1918) o movimento Art Nouveau já estava declinando, acabando por degradar-se num excesso de decoração de superfície, desligado de qualquer preocupação estética.
No Brasil, exuma-se a belle époque. No Rio de Janeiro jovens artistas e escritores adaptam-se imediatamente às propostas. Fachadas e interiores são planejados para particulares. O Teatro Municipal no Rio, é, externamente, como que uma réplica da Ópera de Paris, refletindo o estilo predominante na capital francesa e no seu interior encontram-se afrescos, luminárias, mosaicos, detalhes de decoração tipicamente no estilo belle époque parisiense, já então fora da pauta. O movimento chega também a São Paulo com a expansão econômica. Na recém-aberta Avenida Paulista construiu-se, em 1905, no mais puro estilo e com projeto de decoração de Victor Dubugras, a residência de Horácio Sabino, demolida na década de 1950. No tradicional bairro de Higienópolis, a Vila Penteado, projetado por Carlos Ekman, ainda está de pé. 
O Amazonas e o Pará também se tocam. Os mercados de Manaus e de Belém obedecem às ideias vindas do movimento, mas foi um movimento essencialmente urbano, passageiro, sobrepujado pelas novas modas. Fora de duvida que o estilo estranho ao nosso meio não deixou de ter algo em comum com a nossa tradição fortemente marcada pela fantasia e pelo requinte artesanal do nosso barroco, que na época estava esquecido ou era totalmente ignorado.
 O movimento Art Déco (redução da expressão francesa Art Décoratif), como visto, foi um movimento surgido depois do movimento Art Nouveau. Apareceu depois da Primeira Guerra Mundial e caracterizou-se por uma completa renovação de valores estéticos, nos anos que se seguiram à exposição internacional de artes decorativas industriais de Paris, em 1925. O movimento encontrou seu apogeu na Europa e na América. Era o que se chamava “estilo moderno”. Em 1960 foi redescoberto, tornando-se então vulgarizada a expressão Art Déco. 
 Nas artes decorativas, vários artistas, influenciados pela estética dos Mackintosh e outros criadores de vanguarda, afirmam-se na reação à exuberância, os excessos, o naturalismo demasiado do Art Nouveau. Em lugar das linhas dinâmicas, inquietas, busca-se a harmonia, a simplicidade, a linearidade, o retilíneo. Valoriza seu acabamento, o equilíbrio, os coloridos alegres. Surgem novos recursos para iluminação, predominam o design e o conforto.
 Em Paris, o escritor Jean Cocteau, os pintores Picasso, Braque, Léger, ao lado de grandes criadores da moda feminina, inspiram os profissionais da área da decoração e surgem obras de alto requinte. 
 Vêm-se animais esguios (antílopes, gazelas), grandes folhagens. A figura feminina é longilínea, de formas pouco acentuadas, vestida à moda de Isadora Duncan. Os americanos acolhem e absorvem as inovações da exposição de Paris mas, já em 1929, a exposição do Metropolitam Museum de Nova York indica outra vertente, procura encorajar a formação de novas formulas menos elitistas, próprias para vida contemporânea e a produção em maior escala.
 É ainda a época em que convivem, no Art Déco, tanto uma cadeira esculpida quando uma estrutura tubular, tanto um painel de laca assinado por Dunand quanto tapetes de linhas abstratas, tanto o móvel sofisticado com incrustações, quanto uma chaise longue muito simples e de grande conforto. O estilo Art Déco se populariza, adapta-se à produção em massa para se tornar acessível à classe média. Por prestar-se a imitações de baixo custo, sofre uma degradação na última fase, empobrecida numa versão modernosa de linhas duvidosas, puxando para o kitsch. 
No Brasil, intelectuais e artistas, surgindo do meio conservador acadêmico, manifestam surpreendentemente sua afinidade com os novos valores estéticos vindo da Europa e introduzem na arte traços genuinamente nacionais. Em 1922 realiza-se, em São Paulo, a Semana de Arte Moderna, e o movimento modernista ganha impulso nos anos que se seguem. O Art Déco está muito ligado a essa fase. No centro do Rio e de São Paulo recortam-se os perfis dos “arranha-céus” (edifício d’A Noite, no Rio, edifício Martinelli, na capital paulista).
 Exemplos destacados do estilo belle époque (1880 / 1925): Opera de Paris, Teatro Municipal do Rio e Teatro Municipal de São Paulo, Opera de Manaus.
 Exemplos destacados de Art Nouveau (1890 / 1910): Portais do Metropolitan de Paris.
Exemplos destacados de Art Déco (1890 / 1945): Central do Brasil, Crysler Building de N.Y., Palace Hotel e Elevador Lacerda em Salvador, Cinema e algumas fachadas de casas residenciais em Pirenópolis, Goiás.

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JOTA

O estilo Art Déco se populariza, adapta-se à produção em massa para se tornar acessível à classe média

Movimentos artísticos nascidos na França: Art Nouveau e Art Deco

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