Milton Seligman

O presidente da República Jair Bolsonaro disse não estar preocupado com a demora no início do processo de imunização contra a Covid-19 no Brasil. Manifestou descaso com o fato de estarmos atrasados em relação a outros países, inclusive da América Latina. O presidente não poderia ser mais claro ao dizer “não dou bola para pressão”. A declaração do chefe da Nação mostra quão distante estamos de um líder político, com projeto para conduzir o Brasil para um futuro melhor.
O certo é que o Brasil segue aos trancos e barrancos no enfrentamento da pandemia. Entre as autoridades públicas brasileiras há de tudo, desde os que negam a gravidade do problema até aqueles que seguem rigidamente os consensos da ciência e da medicina. Seguimos assim, mesmo tendo superado 7,4 milhões de casos e com mais de 190 mil mortos. Parte da sociedade e muitas autoridades duvidam da gravidade do problema, muitos anos depois do Dr. Joshua Lederberg, médico norte-americano, especializado em biologia molecular, ter ganho o Nobel de Medicina (1958) e ter dito que “... a única e maior ameaça ao domínio contínuo do homem sobre o planeta é o vírus”.
<div id="pro-poder-c9be31516b66ee6ab567" role="main"></div>
<script type="text/javascript" src="https://d335luupugsy2.cloudfront.net/js/rdstation-forms/stable/rdstation-forms.min.js"></script> 
<script type="text/javascript"> new RDStationForms('pro-poder-c9be31516b66ee6ab567', 'UA-53687336-1').createForm();</script>
A questão aqui é jogar luz sob a forma como o Brasil vem sendo conduzido e observar as diferenças entre um chefe de governo e um líder da nação.
O debate sobre as características da liderança política tem contribuições de Max Weber, que distinguiu poder de autoridade. Para o pensador alemão, o líder político utiliza a autoridade, não o poder. Desse modo, as qualidades desse líder são a paciência, a gentileza, a humildade, o respeito, o altruísmo, o perdão, a honestidade e o respeito aos compromissos assumidos.
O professor Carlos Melo, em suas <a href="https://revistas.pucsp.br/aurora/article/view/9808">“Notas e Reflexões sobre Liderança Política”</a>, identifica as características dos líderes de diferentes áreas de atuação como a iniciativa privada, a área militar e o mundo da política. Enquanto os dois primeiros dispõem de claros instrumentos para garantir o cumprimento da hierarquia, a política conta tão somente com um projeto de futuro, uma utopia, um sonho e a esperança de que, em conjunto, será possível alcançá-lo.
Jim Collins é um dos maiores especialistas do mundo em gestão e liderança de empresas. Ele desenvolveu um conceito sobre liderança a partir de muitos anos de pesquisa com grandes e bem sucedidas organizações. Identificou que todas elas são lideradas por pessoas que tem uma combinação interessante e única de qualidades. Os estudos de Jim Collins identificam o líder como sendo alguém com enorme determinação, com muita humildade e que não busca o sucesso para sua glória pessoal. Esses líderes, mostram os estudos, são reconhecidos por alcançar os seus objetivos de olho no desenvolvimento das suas equipes e das suas organizações. Eles repartem os créditos das vitórias com todas as pessoas envolvidas e são os primeiros a assumirem a culpa por erros cometidos. Collins também identificou que “os líderes bem sucedidos são pessoas serenas, mas muito destemidas quando têm que tomar decisões, especialmente aquelas que a maioria considera arriscadas.”
Os estudos de Jim Collins foram feitos com organizações privadas, com fins lucrativos, com um número limitado de stakeholders comparadas ao setor público, mas nada sugere que seus conceitos não possam ser usados por instituições públicas estatais ou do terceiro setor.
Curiosamente, há poucos dias, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), recebeu jornalistas e expôs sua opinião sobre vários ministros do atual governo, elogiando alguns deles.
Entretanto, quando se referiu aos ministros da articulação política, aqueles que têm escritório no Palácio do Planalto e vem de uma carreira militar, o deputado disse: “São pessoas de ótima qualidade, bom diálogo, mas o militar não foi preparado para liderar. E isso acaba atrapalhando muito, você vê o desastre que é o Ministro da Saúde”.
A diferença que Maia faz entre chefiar – o que pressupõe uma cadeia hierárquica com instrumentos de aplicação, e liderar politicamente – o que presume a existência de um projeto de futuro, é o centro deste debate.
Qual é o projeto de Bolsonaro? Para onde ele e seu grupo querem conduzir a sociedade brasileira?
O problema identificado por Maia no Palácio do Planalto alcança também os ministérios setoriais e o da Saúde é o maior e, provavelmente, o mais terrível equívoco da gestão Bolsonaro.
Quando o líder da Nação dá uma ordem, ela está conectada com o projeto de futuro com o qual esse líder está comprometido. Churchill é um bom exemplo, ao dizer no início de sua gestão que "não tenho nada a oferecer senão sangue, trabalho, lágrimas e suor" e com esses ingredientes seria o líder da defesa da Inglaterra contra as ameaças de Hitler. Toda a Nação sabia qual era o objetivo.
Um líder, que conduz um projeto de futuro de uma Nação, sofre pressões e a elas reage com humildade, acertando o rumo. O chefe não dá bola para pressões, reage a elas reiterando a voz de comando.
O Brasil precisa de um líder para enfrentar a pandemia e acertar o rumo de um desenvolvimento sustentável em período de grandes transformações. Infelizmente, nas últimas eleições a sociedade elegeu um chefe.

jair bolsonaro sem máscara

https://images.jota.info/wp-content/uploads/2021/09/copy-of-jota-logo-high-cmyk.jpeg

JOTA

As diferenças entre um chefe de governo e um líder da nação

Não dou bola para isso

As diferenças entre um chefe de governo e um líder da nação