O governo está com caixa suficiente para pagar toda a sua dívida que vence até o fim do ano. No final de 2021, a reserva do governo, que atingiu R$ 1,2 trilhão, era suficiente para cobrir nove meses de vencimentos, mas com janeiro já praticamente encerrado, e o Tesouro tendo menos dificuldade para emitir títulos, a situação ficou ainda mais tranquila. Mesmo que não consiga vender mais nada em mercado, a dívida que vence até dezembro deste ano pode ser paga.
Essa informação é particularmente importante por ser ano eleitoral, período em que as incertezas sobre os rumos da política econômica são maiores, ainda mais em meio à continuidade da pandemia e com o ambiente de alta dos juros nos Estados Unidos. A situação de reforço de caixa foi destacada nesta quarta-feira (26/1) pelo secretário do Tesouro, Paulo Valle, ao divulgar os dados do ano passado e a estratégia de gestão da dívida para este ano.
“Em termos de dívida, consideramos que estamos em uma posição muito confortável para a gestão. Se houver volatilidade, o que é normal para este ano, podemos atuar com mais tranquilidade, em momentos de estresse não precisamos acessar o mercado”, disse Valle. “Apesar de ser ano eleitoral que gera muito ruído, estamos entrando com 100% dos vencimentos de 2022 em caixa”, completou o secretário, sem dizer o número exato da atual posição de caixa.
O Plano Anual de Financiamento (PAF) da dívida, divulgado na tarde de hoje, prevê maior presença de títulos ligados à taxa Selic, que está subindo e que tem pouco risco para os investidores. O volume desses papéis, que hoje representam 36,8% do total, poderá ficar entre 38% e 42% do estoque de dívida neste ano. Já os títulos pré-fixados, que têm maior risco porque travam a taxa de juros, devem perder participação neste ano. Em 2021, eles representaram 28,9% do estoque e em 2022 serão no máximo 28% do total.
- +JOTA: Ministério da Economia prepara MP sobre transporte de gasolina
- +JOTA:Governo estuda simplificar regras de promoção comercial e elevar taxas
Entre as notícias positivas divulgadas pelo Tesouro nesta tarde também está o aumento da participação de estrangeiros na dívida, a primeira vez que ocorre desde 2015 e mesmo em um ano marcado por fortes turbulências. Os investidores externos detiveram 10,6% da dívida do país em 2021, ante 9,2% em 2022.
Apesar de a gestão da dívida entrar o ano eleitoral em situação mais confortável em termos de caixa e de participação de estrangeiros, ela tem grandes desafios pela frente. A subida de juros no Brasil e no exterior, em um ambiente de déficit primário e continuidade de tumultuadas discussões com impacto fiscal, como a PEC dos combustíveis, encarecem os custos dos títulos públicos e reforçam uma trajetória de alta da já elevada dívida pública brasileira, o principal indicador de solvência do país.