Luiz Orlando Carneiro

O pianista sul-africano Abdullah Ibrahim, jazz master assim sagrado pela National Endowment for the Arts (NEA), nasceu em Capetown, há 84 anos. Quando ainda era conhecido como Dollar Brand, e já se apresentava em clubes europeus, na década de 1960, foi “descoberto” por Duke Ellington, sua primeira grande influência. Com o tempo, interessou-se também pelos achados assimétricos e politonais de Thelonious Monk. E tornou-se, na história do jazz, o grande intérprete da diáspora africana.
Na sua música, ele não busca, apenas, uma “fusão” das canções folclóricas da África do Sul com as harmonias do bebop. Seu espírito zen levou-o à evocação cada vez mais meditativa de “imagens acústicas e do sentimento de paisagens perdidas/lembradas para criar expressões sonoras da terra natal”, como comentou a musicóloga americana Carol Müller. Ibrahim é um inspirado impressionista, tão importante no panorama do jazz dito moderno como o francês-polinésio Gauguin na história da pintura.
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Apesar de dono de extensa discografia, o pianista-compositor não lançava um álbum desde The Song Is My Story (Sunnyside, 2014), um recital solo interpretado num daqueles Fazioli de mais de 100 mil dólares. Mas ele está de volta às lojas e plataformas virtuais, à frente do seu septeto Ekaya, em The Balance (Gearbox Records) – uma seleção de 10 faixas, das quais o único cover é Skippy, de Thelonious Monk.
O conjunto Ekaya foi formado em 1983, teve muitas variações de pessoal, mas manteve sempre com veneração o espírito das composições e arranjos de Ibrahim. Os músicos que estão em The Balance – e que não atuam necessariamente em todas as faixas – são Lance Bryant (sax tenor), Andrae Murchison (trombone), Marshall McDonald (sax barítono), Cleave Guyton Jr (sax alto e flauta), Will Terrill (bateria), Noah Jackson (baixo, violoncelo) ou Alec Dankworth (baixo).
O novo álbum do selo inglês Gearbox foi gravado em Londres, em novembro do ano passado, durante apenas um dia, e contém peças que o Ekaya vinha tocando já há algum tempo em clubes e festivais. “Eu estava só tentando achar uma etiqueta simpática à música que estamos fazendo neste momento”, explica Abdullah Ibrahim em entrevista à revista Billboard. E acrescenta: “A banda estava afiada, houve certamente pequenas mudanças, mas fizemos tudo num mesmo dia”.
The Balance - que é também o título da última faixa (3m05) da setlist – é uma “balança de narrativas diversas”, ainda de acordo com o pianista-compositor. Ele acrescenta: “Procuro sempre contar uma história e não apenas tocar notas. Há uma variedade de temas, com aspectos, narrativas e colorações diferentes. Procuramos uma balança (um equilíbrio) dentro de nós mesmos”.
As meditativas faixa-título e Dreamtime (4m05), de um lado, e a ritmicamente festiva Jabula (3m40), de outro, são exemplos expressivos da poética e da africanidade do grande Abdullah Ibrahim. Aliás, a palavra Jabula tem tudo a ver com a história de quem foi também um dos herois da longa luta contra o apartheid na África do Sul. E é ele mesmo quem explica: “Jabula significa a alegria de chegar – depois de uma longa e árdua jornada – ao interior do santuário, e a revelação de que a estrada ainda está aberta e sem fim”.
(As faixas de The Balance acima destacadas podem ser ouvidas em:
<a href="http://abdullahibrahim.bandcamp.com/album/the-balance" target="_blank" rel="noopener" data-saferedirecturl="https://www.google.com/url?q=http://abdullahibrahim.bandcamp.com/album/the-balance&amp;source=gmail&amp;ust=1561301764378000&amp;usg=AFQjCNFpA5IIwilrK99froAf7oJEsQOaDw">abdullahibrahim.bandcamp.com/album/the-balance</a>)

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JOTA

Veterano pianista-compositor retorna às plataformas virtuais à frente do septeto Ekaya



The Balance: O novo álbum de Abdullah Ibrahim

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