Luis Viviani

Na ficção “Em nome da Lei”, que estreia no dia 21 de abril, o diretor Sérgio Rezende conta mais uma trama baseada em fatos da história do Brasil. Mas, diferentemente de Lamarca (1994), Mauá, o Imperador e o Rei (1999), e Zuzu Angel (2006), entre outros, o novo filme, apesar de se inspirar no juiz federal Odilon de Oliveira, tem como protagonista o jovem magistrado Vitor, interpretado por Mateus Solano.
Odilon de Oliveira nasceu no município de Exu (PE). Foi, via pau de arara,  para o Mato Grosso ainda criança, quando o Estado não havia se separado. Formou-se em direito com 29 anos.
Quando magistrado em Ponta Porã (MS), na divisa com o Paraguai, nos anos 2000, condenou dezenas de pessoas ligadas ao narcotráfico. Vive há quase duas décadas sob forte escolta da PF. Já Vitor é um moço que sai de São Paulo para também ser juiz federal em uma cidade fronteiriça ao Paraguai. E também combate os traficantes da região.
Somando-se a isso, a imagem de Vitor que temos ao assistir a trama, em pleno 2016, é também a do juiz federal responsável pela Lava Jato em primeira instância, em Curitiba, Sergio Moro . A inserção da delação premiada no filme, os diversos mandados expedidos, as operações policiais e o slogan de “cumprir a lei sendo incorruptível” tornam possível traçar esse paralelo.
Críticas à condução do processo
Vitor é um juiz íntegro, não aceita suborno. Determinado, acolhe a aventura de aplicar a lei numa região controlada pelo tráfico, por Gomez, o “Padrinho”, vivido por um elegante Chico Diaz.
Ao mesmo tempo, algumas críticas são feitas ao modo de condução dos processos pelo juiz, inclusive pela firme procuradora Alice, interpretada por Paolla Oliveira, e pelo policial federal Elton, encarnado por Eduardo Galvão.
É a partir da união do trio que a narrativa ganha fôlego. As investigações e as operações policiais são elementos que prendem o espectador, diferentemente do pequeno romance que se instaura entre o magistrado e a procuradora, ora simpático, ora previsível.
As histórias dos subalternos de Gomez, Hermano (Emílio Dantas) e Cebolinha (Silvio Guindane), apesar de secundárias, cumprem o seu objetivo. Hermano, considerado como filho por Gomez, é apaixonado pela filha do “padrinho”, enquanto Cebolinha, piloto, sonha em ter uma piscina com sua amada.
PRI - Publique-se, registre-se, intime-se
O humor fica por parte do oficial de justiça Zezé (Gustavo Nader), que salienta inúmeras vezes: “juiz não pede, juiz determina, manda, ordena” . Em sua cena mais marcante, entrega um mandado de prisão e provoca: “Você recebeu um PRI, publique-se, registre-se, intime-se”.
Um detalhe fez lembrar também outro magistrado famoso do Judiciário brasileiro. Em uma audiência, Vitor, ao invés de ficar sentado, coloca-se em pé atrás da cadeira, com os braços cruzados apoiando o encosto, tal qual  fazia Joaquim Barbosa no julgamento do mensalão.
A despeito de conter fortes características da Lava Jato, como gravações e delações, o filme deixa claro a presença de Odilon de Oliveira. A necessidade de descapitalização dos grupos criminais abordada no filme também faz referência ao juiz, que vê o crime organizado como uma empresa. Além disso, Vitor chega a morar no prédio da seção judiciária para evitar emboscadas, assim como Odilon o fez.
Mas Vitor realmente é um personagem que, mesmo tendo traços e características dos dois juízes, possui sua própria personalidade e individualidade.
Pilota uma motocicleta, anda armado e se exalta ao dizer que “ficaria mais trinta anos se precisasse” para prender Gomez. Além disso, Vitor suscita a questão dos limites ao cometer ações impróprias para juízes, mas que seriam spoilers se contadas aqui.
O conflito entre o juiz e o chefe do tráfico adquire maior solidez à medida que as desgraças vão acontecendo, e permanece até as cenas finais, quando um plot twist inesperado sepulta de vez o filme como ficção.
Fato é que, no contexto em que é lançado, as comparações com a Lava Jato e o juiz federal Sérgio Moro serão inevitáveis. Principalmente após o episódio das gravações telefônicas envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente Dilma Rousseff.
Evitando as polêmicas, que a obra seja, então, um ponto de partida para a reflexão sobre o que pode ou não ser feito em nome da lei.
Assista o trailer:
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emnomedalei

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JOTA

Semelhanças do filme com atual momento do Judiciário são inegáveis 

Em nome da lei: um híbrido entre Odilon de Oliveira e Sérgio Moro

Semelhanças do filme com atual momento do Judiciário são inegáveis