Bárbara Baião
Analista de Política em Brasília. Passou pelas redações da CBN e CNN Brasil, com foco na cobertura do Legislativo. Email: barbara.baiao@jota.info
A troca da candidatura de Marcos Pereira por Hugo Motta no Republicanos pela presidência da Câmara deve transformar em previsível uma eleição que se desenhava dividida dentro do centrão. A exemplo do Senado, que deve eleger Davi Alcolumbre sem sobressaltos em fevereiro, Motta é o nome de maior consenso dentro da Câmara e deve vencer por WO, como sintetizam há meses deputados envolvidos no arranjo antecipado pelo JOTA em junho.
É um desfecho que tem as digitais do centrão: todo mundo vai ganhar. No caso do governo, a costura acompanhada de perto por Lula foi desenhada sob a influência de PSD e MDB, as legendas de centro mais próximas do Planalto. Tanto Antônio Brito como Isnaldo Bulhões, nomes colocados pelos respectivos partidos para a disputa, só topavam ceder se houvesse consenso por Motta. O resultado deve render um ambiente mais favorável para a discussão da agenda, a começar pela necessidade de buscar R$ 46 bilhões até dezembro para fechar a peça orçamentária.
No caso de Arthur Lira, Motta era o nome preferido do mandatário dentro do Republicanos, assim como do presidente do PP, Ciro Nogueira. Ao cumprir a antecipação do cenário de escolha do nome que iria apoiar, o presidente da Câmara sai de cena em um roteiro diferente dos antecessores, elegendo o nome que patrocinou. É verdade que, se só dependesse do próprio voto, Lira tinha preferência por Elmar Nascimento. Mas pesou a resistência do Planalto ao nome do União Brasil e o risco de divisão na Câmara se a escolha fosse adiante. Nascimento deve ser contemplado com uma vaga ao TCU.
O bolsonarismo também deu a sua contribuição para alçar Motta ao comando da Câmara. Por divergências pessoais e que se estendem a um racha na bancada evangélica, o ex-presidente Bolsonaro vetou o apoio do PL, maior bancada da Casa, a Pereira - bispo licenciado da Universal. O endosso a Motta deve render ao partido opositor a Lula uma posição privilegiada na Mesa Diretora, como a Primeira Vice Presidência.
Motta, de 34 anos, é lembrado como a escolha majoritária dos deputados desde os tempos de Eduardo Cunha, que planejava alça-lo como sucessor ao comando da Casa. A cassação impediu os planos, em 2016, mas não freou a habilidade do deputado federal da Paraíba nos bastidores, que passou a ser peça chave em toda e qualquer negociação importante que passava na Câmara nos governos Temer, Bolsonaro e Lula.
A escolha por Motta consolida a nova geração do centrão à frente das negociações em Brasília, mais silenciosa e menos belicosa na forma de fazer política. É esse mesmo núcleo que já foi alçado à Esplanada dos Ministérios no ano passado, com Celso Sabino (Turismo) e Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos). Este último foi, inclusive, peça decisiva para convencer tanto Pereira a desistir como influenciar Lula a embarcar no nome de Motta. Além disso, foi o ministro quem ainda articulou como Tarcísio de Freitas, também do Republicanos, pela mudança.
Com esse desfecho, está aberta uma janela para uma nova reforma ministerial que possa dar mais tranquilidade a Lula nos dois últimos anos de mandato. A exemplo da conciliação na costura da Câmara, a ideia é para que as alterações harmonizem o jogo político entre os poderes.
Se Lula voltou ao Executivo prometendo acabar com o poder adquirido pelos parlamentares sobre o orçamento com emendas, menos de dois anos de mandato foram suficientes para entender que o petista é quem precisou recalcular o discurso.
Com Motta e Alcolumbre, o dinheiro seguirá carimbado pelo Congresso. Mas as novas Mesas dão a oportunidade para que uma parte do valor seja aplicado de forma mais racional, em sintonia com políticas de ministérios. Daí a importância de uma Esplanada que repita o mote abandonado na campanha pelo PT, com a ideia de que o governo é uma junção da centro esquerda com a centro direita para isolar a extrema direita.