Pedro Gordilho

“A maior parte dos astros visíveis são estrelas, cujos nomes instigam à imaginação: assim é Tarsila do Amaral, mulher, pintora, brasileira. E antropofágica, a partir do momento em que, em 1928, seu marido Oswald de Andrade, líder do movimento modernista brasileiro, redigiu o famoso “Manifesto Antropofágico – um chamamento à deglutição das culturas estrangeiras.”
Alain Rouquié
“Antes que os portugueses descobrissem o Brasil, o Brasil descobriu a felicidade.”
Oswald de Andrade, Manifesto Antropofágico, 1928
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A exposição apresentou três momentos da grandiosa produção de Tarsila: “Paris 1923”, “Pau Brasil” e “Antropofagia”. A artista realizou exposições, na França, em 1926 e 1928, mas a exposição comentada foi a primeira depois daquelas datas, hoje já tão distantes.
De 1920 a 1927 Tarsila esteve em Paris. Blaise Cendrars, o poeta, o aventureiro de sempre, apresentou Tarsila e seu marido Oswald de Andrade, o campeão do modernismo, o autor do celebre Manifesto Antropofágico, a seus amigos parisienses. Entre eles os grandes renovadores, Fernand Léger, Brancusi, os músicos Darius Milhaud e Erik Satie. Tarsila, depois, organiza encontros entre os amigos de Cendrars e seus amigos brasileiros, escritores, artistas, amadores e mecenas, como Paulo Prado, Mário de Andrade, Olívia Guedes Penteado.
Ela seguiu os ensinamentos de Fernand Léger e logo aprende a trabalhar suas próprias obras, afirmando sua cultura brasileira pelo contraste das formas, a grande audácia das cores, a presença de uma vegetação luxuriante e a floração dos corpos.
Partindo de um desenho ou de uma gouache, Tarsila constrói suas pinturas segundo desenhos preparatórios. As paisagens, retratos ou cenários são de uma grande simplicidade que valoriza sobretudo as composições.
Na grande exposição realizada, na Casa da América Latina, em Paris, foram apresentados alguns quadros de pintores franceses que participaram efetivamente da formação de Tarsila, notadamente Fernand Léger, Albert Gleizes, André Lhote e Georges Valmier. Obras recolhidas nas coleções públicas do Rio de Janeiro e de São Paulo e em diversas coleções privadas brasileiras. Uma única obra apresentada, a famosa A Cuca, pertence a uma coleção publica francesa, ao Museu de Arte e de História de Grenoble.
A artista escreve, em reminiscências recuperadas para apresentação na exposição: “Paris em 1923. As lembranças se amontoam. Meu ateliê, na mesma rua onde Cézanne tinha vivido, como descobriu Paulo Prado, é freqüentado por personalidades importantes. Nossos almoços tipicamente brasileiros reúnem Jean Cocteau, o qual, grande conversador, nos cativa todos por suas boutades marcadas por gestos explosivos. Erik Satie, em sua juventude de sexagenário, que não acreditava senão nos jovens de menos de vinte anos, a nos divertir com sua fala pitoresca. Brancusi, testa de Moisés com a barba branca; Ambroise Vollard, colecionador de magníficos Cézanne e Renoir, que ele descobre por instinto e que não mostra senão aos seus amigos queridos em sua casa, e assim mesmo em alguns dias de bom humor”.
Não veio para a exposição, por decisão impertinente de seu proprietário argentino, o famoso quadro Abapuru, mas quadros famosos e muitos celebrados da artista figuraram nas paredes da Casa da América Latina, entre os quais Os Anjos (1924), Religião Brasileira (1927), O Vendedor de Frutas (1925), O Mamoeiro (1925), Estrada de Ferro Central do Brasil (1924), Carnaval em Madureira (1924), e, entre muitos outros, A Cuca (1924).
Dizia Mário de Andrade que em Tarsila, com olhar em toda a pintura sincera, o assunto é exatamente uma circunstancia para o encantamento: isso que faz o sabor brasileiro de seus quadros é a realidade plástica ela mesma, uma ruralidade evidente e bem utilizada, com suas formas e suas cores, uma sistematização inteligente de gosto duvidoso que faz a prova de um bom gosto excepcional, uma sentimentalidade intimista carregada de sabores fortes.
Uma sala foi reservada aos amigos que Tarsila fez em Paris e que lhe acompanharam durante muitos anos. Mostra, à saciedade, que sua obra pictórica não foi influenciada pelos pintores franceses ou seus amigos franceses. Houve, por assim dizer, uma harmonização, uma integração de interesses na grande transformação que a artista observou na pintura nas duas ou três primeiras décadas do século XX. Entre as obras que a exposição reuniu estão Composition, de Fernand Léger (1928), Nature Morte Abstraite, de Georgs Valmier (1922), quatro trabalhos modernistas de Albert Gleizes, produzidos entre 1915 e 1920, além de Paysage Arcachon, de André Lhote (1920).
Na última sala na exposição estão quadros do final dos anos 20, destacando-se a obra que foi escolhida para o afiche que celebra a exposição, o quadro intitulado Urutu, datado de 1928 (óleo sobre tela), da coleção de Gilberto Chateaubriand, que está no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
A exposição torna compreensível porque Tarsila é considerada a criadora do imaginário brasileiro, uma artista chave da escola modernista que deixou inúmeros seguidores, procurando oferecer uma seqüência evolutiva, até os dias correntes, de um estilo que se formou mais de oito décadas atrás.
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"Podem dizer o que quiserem do Brasil mas não se pode negar que seja um daqueles países penetrantes que impregnam a alma e lhe conferem um tom, um feitio e um sal dos quais nunca mais a pessoa conseguirá se desvencilhar".
Paul Claudel
“Aqui nenhuma tradição 
Nenhum preconceito 
Nem antigo nem moderno”
Blaise Cendrars
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Referencia bibliográfica
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<li>Tarsila do Amaral, Peintre Brésilienne à Paris 1923-1929, Maison de L’Amerique Latine, 2005.</li>
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cucas

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JOTA

Exposição torna compreensível porque Tarsila é considerada a criadora do imaginário brasileiro

Tarsila do Amaral, outra vez, em Paris

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