Pedro Gordilho

Charles-Maurice Talleyrand nasceu em 1754, em Paris, numa das famílias mais antigas da França. Inteligente, sedutor, refinado, habilidade rara, viveu 84 anos, numa época em que a esperança de vida era de 27. Isso já era um sinal diferenciado. Durante toda essa sua longa existência ele se empenhou em servir e ao mesmo tempo derrubar a igreja, a revolução, o império e a restauração. Mas lhe faltou sempre caráter e valor moral.
Depois dos estudos no colégio Harcourt, entrou para o seminário de S.Sulpicio, seguiu os cursos de teologia da Sorbonne e completou o estudo junto ao seu tio e arcebispo de Reims. Foi nomeado Bispo de Autun em 1788. Membro da Assembleia dos Notáveis e Deputado de Autun aos estados gerais em 1789, sendo eleito presidente da Assembleia Nacional em 1790. 
Percebendo a eclosão do Terror, Talleyrand encontra um meio de emigrar legalmente, obtendo do Governo uma missão: uniformização de pesos e medidas com a Grã-Bretanha. Depois de breve permanência nos Estados Unidos, durante a qual ele irá causar um grande escândalo passeando, na Filadélfia, no braço de uma amante de cor, ele volta à França para ser nomeado, em julho de 1797, Ministro das Relações Exteriores. 
Amparado em suas novas funções diplomáticas e financeiras, Charles-Maurice não dispensa a presença de pessoas do sexo feminino, entre as quais Victoire Delacroix, mãe de Eugéne. Mas sobretudo a magnifica Cataria Grand, que vai se tornar sua esposa. Eu sou da Índia, dizia ela, para explicar sua cor tostada.
Ser Ministro do Diretório, depois de algum tempo, não o impede de aproximar-se do jovem herói do momento, um certo Napoleão Bonaparte, para conspirar contra o governo. Os boatos circulam e o muito míope diretor do Ministério Rewbel, vagamente inquieto, busca novidades: “Então, meu caro Ministro, como vão os negócios?” “Como Vossa Senhoria os vê, Sr. Diretor!”, responde nosso impertinente Ministro das Relações Exteriores. Muito ocupado, o terceiro diretor deseja fundar uma religião e tem a ideia curiosa de pedir conselhos a Talleyrand. “Eu não tenho senão uma coisa a lhe dizer, responde nosso Bispo-Ministro: Jesus, para fundar o cristianismo, foi crucificado. Comece pelo começo.”
Para agradecer o seu apoio, Bonaparte o confirma em suas funções depois do golpe de estado do 18 Brumario. Esperto, nosso herói aproveita para fazer uma ida e volta sobre a renda do Estado, obtendo enormes cabedais.
Com o fim da revolução, Bonaparte exige que Talleyrand case com sua amante. Em setembro de 1802 nosso herói casa com sua bela indiana, a mais bela mulher de Paris, como dirá Molé. Charles-Maurice não é apenas uma grande figura do antigo regime: “Aquele que não viveu os vinte anos que precederam a revolução não conheceu a doçura de viver”.
Ele conhece perfeitamente as práticas do mundo e recebendo convidados fatia, ele mesmo, o pedaço de carne que ele distribui, obedecendo a importância dos convidados: 
“Monsenhor, o Senhor me faria a honra insigne de aceitar este pedaço de carne?
Senhor Duque, teria a grande alegria de vos oferecer esta fatia de carne?
Sr. Marquês, poderia me fazer o prazer de aceitar este pedaço?
Meu caro Conde, o Sr. me permitira (...)
Barão, o Sr. quer carne?
Cavalheiro lhe agrada?
Esteta, ele se escandaliza de ver um dos seus convidados engolir até o fundo sua taça de cognac. “Não é assim que se deve beber cognac; tome a taça dentro das mãos, aqueça com calor do corpo, movimente a taça dando uma impulsão circular, afim de que o cognac exale seu perfume. Então traz-se a taça às narinas, respira-se (...)”. “E depois, Sr.?” Pergunta seu interlocutor. “E depois, Sr., coloca-se a taça sobre a mesa e se conversa (...)”.
O tempo passa, chega ao fim a aventura imperial. “Quando M. de Talleyrand não faz trafico de influência, ele conspira”, dirá Chateaubriand. É isso mesmo. Ele coloca todo seu talento, que é imenso, em benefício de uma ou de outra dessas atividades. Tanto que Luiz XVIII lhe entrega seu ministério em 1814. Desde a segunda restauração, em 1815, nosso herói obtém a Presidência do Conselho de Ministros, tendo Fouché à frente da Polícia. Chateaubriand, que trabalha na antecâmara do Rei, ressalta: “De repente uma porta se abra, entra silenciosamente o vice apoiado sobre o braço do crime, M. de Talleyrand caminhando sustentado por M. Fouché”. Um pouco depois Charles-Maurice exonera-se. Com Louis-Philippe, ele volta aos negócios e será o influente Embaixador do Rei dos franceses em Londres. 
Aproxima-se o fim do caminho. E se o Bispo se inquieta da sorte que lhe reservará a igreja, ele usa o tempo lançando maldades contra Chateubriand: “M. de Chateaubriand se acredita surdo depois que ele não ouve mais falar de si.” Para o retorno da ovelha desgarrada, as negociações com o abade Dupanloup são estreitadas (“Não esqueça que eu sou Bispo!”). E chegam ao fim na manhã de sua morte, em 17 de maio de 1838.
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Frases e pensamento de Talleyrand 
Uma mulher perdoará um homem por tentar seduzi-la, mas não o homem que perde a sua oportunidade quando ela lhe é oferecida.
A palavra foi dada ao homem para disfarçar o próprio pensamento.
Os homens medíocres cumprem um importante papel nos grandes acontecimentos unicamente porque não se encontram lá.
Eu respondi-lhe que se era certo que isto ia bem sem o dizer, e ia melhor se o dissesse.
Quando me julgo me condeno, mas quando me comparo me enalteço.
Forçaram-me a ser eclesiástico, mas eles vão se arrepender. 
(TALLEYRAND)

talley

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Talleyrand - Retrato de um Dandy Sedutor

A palavra foi dada ao homem para disfarçar o próprio pensamento