Pedro Gordilho

“Eu queria pintar o nada. Estava em busca de algo que fosse a essência do nada, e lá estava.”
Andy Warhol
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A pop art decolou nos Estados Unidos em 1962, lançada marcadamente pelas pinturas de Andy Warhol de anúncios de latas de sopa. As muito conhecidas e sempre reproduzidas obras com a sopa Campbell. Com essas citações inusitadas, não obstante brilhantes, brandas e sem qualquer ênfase – logo depois produzidas pela nova técnica de serigrafia –, e com suas exposições de latas simuladas do produto domestico Brillo, Warhol parecia ter levado o questionamento do papel do artista a um ponto crucial, jamais visto na história da arte.
Uma personalidade extremamente carismática fez de Warhol uma peça – chave na cena de Nova York nos anos 60, e um gancho adequado para suportar e mesmo orientar uma mudança cultural radical – a transição da autenticidade calorosa para a indiferente despreocupação “da resistência petulante ao capitalismo à evasão enigmática”. Cores vibrantes, repetições muitas vezes enfadonhas e fatigantes e o instinto para a celebridade conectavam diretamente seus quadros com um público de massa inacessível para os demais artistas nova-iorquinos.
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A agudeza critica de seu criador, anulada na obra em si, ainda se faz ouvir num comentário pessoal que equipara os produtos cotidianos à morte: “Eu queria pintar o nada. Estava em busca de algo que fosse a essência do nada, e lá estava”. Esta é uma frase celebre do artista.
Ele é um dos artistas míticos do século XX. Como nenhum outro ousou fazer antes dele, o artista recriou um universo globalizado, povoado de imagens simbólicas e de sinais de beleza e de paixão. Através da pintura, do vídeo, da fotografia, do cinema, Warhol fez oscilar, fez balançar seus contemporâneos num espírito de liberdade, aquele que veio a se chamar de pop art, repelindo de um golpe as fronteiras da estética e dos seus códigos.
Andy Warhol abriu um novo caminho para os artistas, para a gente do mundo da moda, para os criadores de um modo geral, os quais, de seu turno, nos fizeram perceber nosso cotidiano de outra maneira, por sua visão engajada e por seu senso da imagem e da beleza, através de um aspecto diferente, seja na criação de um vestido, seja na concepção de uma joia, o brilho de uma fantasia ou ainda o traço de um perfume.
Através do olhar do grande artista de nosso tempo é todo um mundo que ressuscita, são celebridades que revivem, são anônimos que surgem. De Marilyn Monroe a Jean-Michel Basquiat, de Mick Jagger à Jackie Kennedy, de Mao Tsé-Tung a Willy Brandt, Liz Taylor, Elvis Presley, Man Ray, Andy Warhol recriou, com uma vitalidade revitalizante, as imagens daqueles que foram atualidade e que escreveram a história de nosso tempo, a pequena história como sendo a história universal. Ele contribui com sua lenda para construir sua própria identidade artística. Isso tudo foi mostrado numa retrospectiva riquíssima na Pinacoteca do Estado de São Paulo, revelando 170 itens da produção do grande artista pop, a maior apresentada no Brasil até hoje.
Foi uma mostra em tamanho mais reduzido da grande mostra revelada pelas Galerias Nacionais de Paris, entre 16 de março e 13 de julho de 2009, intitulada Le Grand Monde d’Andy Warhol. Ele criou uma arte nova, surpreendente, inovadora, contestada, mas inegavelmente admirada. Representando seus amigos, os ícones do cinema e da música, grandes industriais, políticos de nosso tempo, lideres do bem e do mal, mas também desconhecidos com ele cruzados na noite novaiorquina, Warhol renova o gênero e inventa uma verdadeira “fabrica” do retrato. Através dessa nova técnica, ele passa a redefinir as relações entre o artista e o modelo, entre a encomenda privada e a representação pública, entre a obra única e o trabalho serial, consagrando um novo reinado das imagens e sua representação midiática.
Em 1968, uma feminista enloquecida que defendia o extermínio dos homens deu dois tiros em Warhol. O artista chegou a ser dado como clinicamente morto e só sobreviveu graças a uma ressuscitação artificial. O atentado agiu como um verdadeiro divisor de águas entre o artista inovador e o Warhol que estabeleceria um padrão de conduta narcisista hoje disseminado pela arte contemporânea. Travestido numa parodia de si mesmo, Warhol haveria de viver os seus dias restantes imitando suas criações. Houve uma perda da originalidade. Entre os momentos de originalidade está o retrato feito em apoio ao democrata George Mc Govern na campanha presidencial americana de 1972. Ao aplicar manchas de lilás e verde ao rosto de seu adversário, o republicano Nixon, escrevendo em baixo do retrato “vote Mc Govern”, o artista conferiu-lhe o aspecto de um extraterrestre. Original é também, daqueles momentos terminais, a serie de duas mil imagens de Mao Tsé-Tung, com batom e lápis nos olhos – uma perfeita tia, como os gays se referem a seus pares idosos. Warhol falava com conhecimento de causa.

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O grande mundo de Andy Warhol em Paris

A imagem é tudo em nosso tempo