Felipe Nunes

Fernando Meireles

Tradicionalmente, o eleitor brasileiro aplaude políticos que entregam obras e políticas públicas – mesmo que não sejam honestos. Essa imagem de gestor é popularmente conhecida pela expressão “rouba, mas faz”, e é frequentemente usada para explicar como políticos envoltos em ilícitos conseguem se eleger e reeleger indefinidamente. Exemplos, como sabemos, abundam.
Essa imagem, no entanto, não parece mais condizer com a realidade da política brasileira. Usando o acervo de pesquisas da Quaest para as eleições municipais deste ano, além das pesquisas de avaliação de governos que temos feito em todo o país, começamos a reavaliar esse modelo político que tanto sucesso fez no passado.
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Nossa principal descoberta é intrigante: detectamos uma fraca correlação entre a aprovação das gestões municipais e a avaliação positiva dos bons gestores, estejam eles envoltos ou não em escândalos.
<blockquote class="jota-article__eye">Diante da desconfiança em relação ao establishment partidário e da repulsa com a prática de corrupção, eleitores passaram a preferir outro tipo de político: o que demonstra boas intenções e honestidade, mesmo que não consiga entregar o que prometeu em campanha.</blockquote>
No gráfico abaixo, é possível ter uma noção do que estamos falando. Cada ponto corresponde a uma das pesquisas de opinião que realizamos na <a href="http://quaest.com.br/" target="_blank" rel="noopener noreferrer">Quaest</a> nos últimos meses. Em todas elas, perguntamos sobre a imagem de algum mandatário de cargo executivo; já o eixo vertical indica a percentagem de eleitores que avaliam de foram negativa tal mandatário; em cada painel, os eixos X indicam a percentagem de eleitores que acreditam que determinado político é bem intencionado ou trabalhador, respectivamente.<a href="https://www.jota.info/wp-content/uploads/2020/03/rejeic.jpg"><img class="aligncenter wp-image-234133 size-full" src="https://www.jota.info/wp-content/uploads/2020/03/rejeic.jpg" alt="" width="703" height="398" /></a>
Conforme se depreende, ser visto como bem-intencionado está negativamente associado à rejeição de um político, muito mais do que ser visto como trabalhador. Em outras palavras, o que chamamos de “não faz, mas pelo menos não rouba” é, hoje, um dos melhores antídotos contra rejeição eleitoral.
<h3>A Dinâmica da Boa Intenção</h3>
Para examinar como políticos vistos como bem-intencionados são avaliados em outras dimensões pelos eleitores, treinamos uma série de modelos preditivos com dados de mais de 15 mil. Esses modelos levam em consideração, entre outras coisas, uma bateria de informações sócio-demográficas e geográficas, individuais e de grupo, que perguntamos em nossas pesquisas quantitativas.
O principal resultado, no gráfico abaixo, mostra que ser visto como bem intencionado importa muito mais aos olhos dos eleitores do que ser visto como trabalhador: a probabilidade de alguém rejeitar um dado político é 40% menor quando ele visto como bem intencionado; quando é visto como trabalhador, em vez disso, a probabilidade é de apenas 10%<a href="#_ftn1" name="_ftnref1">[1]</a>.
<a href="https://www.jota.info/wp-content/uploads/2020/03/boa-intencao.jpg"><img class="aligncenter wp-image-234132 size-full" src="https://www.jota.info/wp-content/uploads/2020/03/boa-intencao.jpg" alt="" width="616" height="368" /></a>
E quem são os eleitores que menos rejeitam políticos vistos como bem-intencionados? Dois perfis emergem na nossa análise. Em primeiro lugar, homens têm menor probabilidade de rejeitar um político visto como bem-intencionado (cerca de 23% contra 30% das mulheres). As mulheres, ao que parece, preferem resultados. São os homens os mais propensos as aparências.
Em segundo lugar, há uma leve tendência de pessoas entre 30 e 59 anos de aprovarem políticos bem intencionados, algo que também ocorre em outras características que analisamos, como entre estudantes e aposentados.
<a href="https://www.jota.info/wp-content/uploads/2020/03/quem-rejeitamais.jpg"><img class="aligncenter wp-image-234131 size-full" src="https://www.jota.info/wp-content/uploads/2020/03/quem-rejeitamais.jpg" alt="" width="790" height="500" /></a>No conjunto, nossos dados sugerem que existe um macro-perfil de quem apoia o político que “não faz, mas pelo menos não rouba”: homens adultos que estão empregados. Essas características, como se sabe, são similares a do perfil de apoiadores do Presidente Bolsonaro, mas concluir qualquer associação dessa natureza agora ainda é precipitado.
Eleitores têm inúmeras razões para avaliar políticos de uma forma ou outra, o que inclui suas percepções sobre a economia e sobre suas próprias situações financeiras, para além da identificação que podem ter com este ou aquele partido. Tudo isso continua a importar. O que é seguro afirmar é que a honestidade e a repulsa a corrupção passaram a ser um ingrediente de peso na avaliação de políticos. As aparências, enganando ou não, importam!
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<a href="#_ftnref1" name="_ftn1">[1]</a> As linhas horizontais indicam intervalos de confiança das estimativas

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JOTA

Eleitores, cada vez mais, preferem políticos que demonstram boas intenções, mesmo não demonstrando resultados

Ele não faz, mas pelo menos não rouba

Eleitores, cada vez mais, preferem políticos que demonstram boas intenções, mesmo não demonstrando resultados