Lorena G. Barberia

Desde que começou a pandemia do SARS-CoV-2, em janeiro de 2020, os partidos dos presidentes incumbentes, em sua grande maioria, na América do Norte e Latina, fracassaram em suas campanhas de reeleição. No entanto, há algumas poucas exceções que se resumem aos casos de países comandados por governos autoritários.
No continente americano, houve eleições em oito países entre 2020 e 2021. Em todos estes casos, como pode ser visto na Tabela 1, o partido incumbente não obteve a maioria para se manter no poder, sendo o caso dos Estados Unidos o mais emblemático. Nesta <a href="https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/lorena-barberia/licoes-dos-governos-trump-e-biden-para-o-candidato-bolsonaro-em-2022-26012022">coluna</a>, discutimos alguns dos motivos pelos quais Donald Trump, do Partido Republicano, obteve 46,9% do voto popular e 43% do Colégio Eleitoral, perdendo para Joe Biden, do Partido Democrata, com 51,3% do voto popular e 56,9% dos votos do Colégio Eleitoral<a href="#_ftn1" name="_ftnref1">[1]</a>.
Tabela 1 – Desempenho eleitoral recente dos partidos incumbentes, em eleições presidenciais, na América do Norte e Latina
<table width="864">
<tbody>
<tr>
<td style="width: 131.32px;">Países com eleições antes da pandemia</td>
<td style="width: 137.336px;">Países com eleições durante a pandemia</td>
<td style="width: 145.352px;">Resultado para o partido incumbente</td>
<td style="width: 176.43px;">Participação eleitoral na última eleição presidencial que ocorreu durante a pandemia</td>
</tr>
<tr>
<td style="width: 131.32px;">Argentina 2019</td>
<td style="width: 137.336px;"></td>
<td style="width: 145.352px;"></td>
<td style="width: 176.43px;"></td>
</tr>
<tr>
<td style="width: 131.32px;"></td>
<td style="width: 137.336px;">Bolívia 2020</td>
<td style="width: 145.352px;">Perdeu</td>
<td style="width: 176.43px;">87,6%</td>
</tr>
<tr>
<td style="width: 131.32px;">Brasil 2018 (a próxima eleição será em outubro de 2022)</td>
<td style="width: 137.336px;"></td>
<td style="width: 145.352px;"></td>
<td style="width: 176.43px;"></td>
</tr>
<tr>
<td style="width: 131.32px;"></td>
<td style="width: 137.336px;"> Chile 2021
&nbsp;</td>
<td style="width: 145.352px;">Perdeu</td>
<td style="width: 176.43px;">50,4%</td>
</tr>
<tr>
<td style="width: 131.32px;">Colômbia 2018 (a próxima eleição será em maio de 2022)</td>
<td style="width: 137.336px;"></td>
<td style="width: 145.352px;"></td>
<td style="width: 176.43px;"></td>
</tr>
<tr>
<td style="width: 131.32px;"></td>
<td style="width: 137.336px;">Costa Rica 2022</td>
<td style="width: 145.352px;">Perdeu</td>
<td style="width: 176.43px;">57,3%</td>
</tr>
<tr>
<td style="width: 131.32px;"></td>
<td style="width: 137.336px;">República Dominicana 2020</td>
<td style="width: 145.352px;">Perdeu</td>
<td style="width: 176.43px;">58,6%</td>
</tr>
<tr>
<td style="width: 131.32px;"></td>
<td style="width: 137.336px;">Equador 2021</td>
<td style="width: 145.352px;">Perdeu
&nbsp;</td>
<td style="width: 176.43px;">89,3%</td>
</tr>
<tr>
<td style="width: 131.32px;">Guatemala 2019</td>
<td style="width: 137.336px;"></td>
<td style="width: 145.352px;"></td>
<td style="width: 176.43px;"></td>
</tr>
<tr>
<td style="width: 131.32px;"></td>
<td style="width: 137.336px;">Honduras 2021</td>
<td style="width: 145.352px;">Perdeu</td>
<td style="width: 176.43px;">59,7%</td>
</tr>
<tr>
<td style="width: 131.32px;">México 2018</td>
<td style="width: 137.336px;"></td>
<td style="width: 145.352px;"></td>
<td style="width: 176.43px;"></td>
</tr>
<tr>
<td style="width: 131.32px;"></td>
<td style="width: 137.336px;">Nicarágua 2021</td>
<td style="width: 145.352px;">Regime autoritário</td>
<td style="width: 176.43px;"></td>
</tr>
<tr>
<td style="width: 131.32px;">Panamá 2019</td>
<td style="width: 137.336px;"></td>
<td style="width: 145.352px;"></td>
<td style="width: 176.43px;"></td>
</tr>
<tr>
<td style="width: 131.32px;">Paraguai 2018</td>
<td style="width: 137.336px;"></td>
<td style="width: 145.352px;"></td>
<td style="width: 176.43px;"></td>
</tr>
<tr>
<td style="width: 131.32px;"></td>
<td style="width: 137.336px;">Peru 2021</td>
<td style="width: 145.352px;">Perdeu</td>
<td style="width: 176.43px;">83,6%</td>
</tr>
<tr>
<td style="width: 131.32px;">Uruguai 2019</td>
<td style="width: 137.336px;"></td>
<td style="width: 145.352px;"></td>
<td style="width: 176.43px;"></td>
</tr>
<tr>
<td style="width: 131.32px;">Venezuela 2018</td>
<td style="width: 137.336px;"></td>
<td style="width: 145.352px;">Regime autoritário</td>
<td style="width: 176.43px;"></td>
</tr>
<tr>
<td style="width: 131.32px;"></td>
<td style="width: 137.336px;">Estados Unidos 2020</td>
<td style="width: 145.352px;">Perdeu</td>
<td style="width: 176.43px;"> 62%</td>
</tr>
</tbody>
</table>
Fontes: <a href="https://www.idea.int/data-tools/country-view/295/40">IDEA</a>, <a href="https://www.electionguide.org/countries/id/226/">Election Guide</a> e Wikipedia
É incontestável, porém, que a eleição de 2020 nos EUA foi muito disputada. O resultado eleitoral foi fortemente criticado dado que vários estados obtiveram resultados muito apertados, mas também pelo fato de Trump ter ameaçado não ceder ao desfecho das urnas.
Em parte, esta incerteza se deve ao fato de que somente 62% do eleitorado daquele país compareceu para votar para a Presidência. Nos EUA, o voto não é obrigatório. Esta porcentagem, mesmo que relativamente baixa em comparação a países onde o voto é obrigatório, ainda foi muito superior ao comparecimento em 2016, quando somente 54,8% do eleitorado compareceu na disputa que deu a vitória a Trump. Esse aumento pode ser explicado por ações em estados-chave como foi a Geórgia, onde uma organização criada pela democrata Stacey Abrams conseguiu registrar mais de 800 mil eleitores, principalmente negros e jovens. Essa ação é frequentemente mencionada como a responsável pela vitória dos democratas neste estado no Colégio Eleitoral. Foi uma derrota histórica para os republicanos<a href="#_ftn2" name="_ftnref2">[2]</a>.
Tais tendências se confirmam em outros países do continente onde houve disputas eleitorais durante a pandemia. Os partidos de direita foram derrotados quando o incumbente não concorreu para a reeleição e outros partidos conservadores entraram na disputa. Nestes casos, os que enfatizaram a recuperação da economia e valores cristãos também foram derrotados, mesmo em eleições apertadas.
Em alguns países, principalmente aqueles onde a disputa foi decidida no primeiro turno, houve grande diferença entre as pesquisas eleitorais e os resultados oficiais no dia da eleição. Este foi o caso da disputa na Bolívia, em que Luis Arce derrotou seus rivais conservadores e progressistas para se tornar presidente com 55,1% do voto popular. Nesta eleição, houve 88,4% de comparecimento às urnas. Durante a campanha, inclusive na véspera da eleição, nenhuma pesquisa captou que Arce venceria seus rivais já no primeiro turno com mais de 50% dos votos.
Os partidos de direita também foram derrotados em outros países do continente americano. O caso recente no Chile, onde o voto não é obrigatório, foi surpreendente. Gabriel Boric venceu a eleição com 55,9% dos votos no segundo turno após ter recebido somente 25,8% no primeiro. Em vários casos, as pesquisas eleitorais<a href="#_ftn3" name="_ftnref3">[3]</a> acertaram ao prognosticar a derrota da direita nas eleições em que ela conseguiu participar do segundo turno eleitoral.
Os resultados eleitorais de outros países da região reforçam o desafio de saber se as previsões divulgadas até agora, no Brasil, estão captando corretamente a possível derrota de Jair Bolsonaro, que tem obtido 25% das intenções de voto. Faltando seis meses para as <a href="https://www.jota.info/eleicoes">eleições presidenciais brasileiras</a>, essa incerteza se deve a outros desafios que se sobrepõem mesmo que, atualmente, seja utilizada  a inteligência acumulada da coleta de dados de pesquisas eleitorais do <a href="https://www.jota.info/produtos/pro-poder?utm_source=campanha-paga&amp;utm_medium=search-ads&amp;utm_campaign=eleicoes-lancamento-agregadores&amp;utm_id=lancamento-agregadores&amp;utm_term=institucional&amp;gclid=Cj0KCQjw6J-SBhCrARIsAH0yMZgZqxi5AUFGwFEnpebKhVGPSv6BEbfPShNczh8UD480P9Dotky0J24aAmvrEALw_wcB">Agregador Eleitoral</a> do JOTA. Este busca reduzir a margem de erro da tendência do voto.
Parte da dificuldade de se saber o resultado provável da eleição depende de uma pergunta muito difícil de ser respondida neste momento: como podemos identificar corretamente quem vai comparecer às urnas no primeiro e segundo turnos das eleições brasileiras em outubro e novembro de 2022? Por exemplo, dados do Tribunal Superior Eleitoral (<a href="https://www.jota.info/tudo-sobre/tse">TSE</a>) deixam claro que o número de eleitores brasileiros que vêm se abstendo de votar tem aumentado sensivelmente desde 2006.
Gráfico 1 – Abstenções nas eleições presidenciais brasileiras
[caption id="attachment_362972" align="aligncenter" width="1275"]<img class="wp-image-362972 size-full" src="https://www.jota.info/wp-content/uploads/2022/04/captura-de-tela-2022-04-05-as-14-22-06.png" alt="" width="1275" height="548" /> Fonte: TSE[/caption]
Os dados das últimas eleições presidenciais reforçam que este desafio é significativo, no caso brasileiro,<a href="#_ftn4" name="_ftnref4">[4]</a> mesmo que o voto seja obrigatório. Isso porque a abstenção aumenta a cada disputa eleitoral. Dados do TSE mostram que 20,3% dos eleitores se abstiveram de votar no primeiro turno das eleições de 2018. No segundo turno, Jair Bolsonaro foi eleito por uma parcela de eleitores menor do que os que participaram no primeiro turno, dado que a abstenção aumentou para 21,3%.
O que sabemos dos resultados no caso brasileiro é que há certos grupos, como homens jovens com pouca escolaridade em regiões metropolitanas do Sudeste, que têm menor probabilidade de comparecer às urnas. E aqui novamente precisamos contrastar a abstenção brasileira com as experiências eleitorais recentes em outros países da região. No caso específico da vitória de Boric no Chile, a participação da juventude foi crucial para a vitória eleitoral. No Brasil, já existem vários dados, como, os do Gráfico 2, reproduzidos do TSE, indicando uma queda significativa no <a href="https://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2022/Marco/primeiro-titulo-de-eleitor-mais-de-850-mil-jovens-de-15-a-18-anos-ja-emitiram-o-documento-este-ano">alistamento eleitoral, de jovens de 15 a 18 anos no Brasil</a>.
Gráfico 2: Número de jovens de 15 a 18 anos que emitiram o título eleitoral ao longo dos anos
[caption id="attachment_362973" align="aligncenter" width="1636"]<img class="wp-image-362973 size-full" src="https://www.jota.info/wp-content/uploads/2022/04/captura-de-tela-2022-04-05-as-14-27-27.png" alt="" width="1636" height="597" /> Fonte: <a href="https://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2022/Marco/primeiro-titulo-de-eleitor-mais-de-850-mil-jovens-de-15-a-18-anos-ja-emitiram-o-documento-este-ano?SearchableText=jovens">TSE</a>[/caption]
Para uma maior confiança na previsão atual e dos próximos meses sobre os resultados eleitorais no Brasil, é necessário identificar as intenções de voto da parcela da população brasileira que irá às urnas em 2022.
Nesse sentido, partidos e candidatos também têm um papel importante em mobilizar determinados grupos a comparecer às urnas e votar. Como a experiência internacional tem mostrado, não é uma tarefa fácil prever se o partido incumbente irá vencer o pleito.
Há vários fatores relevantes que devem ser considerados nessa análise, porém mais atenção deve ser direcionada a se identificar as intenções de voto daqueles que irão comparecer às urnas simultaneamente a acompanhar as pesquisas eleitorais.
<hr />
<a href="#_ftnref1" name="_ftn1">[1]</a> Todos os dados sobre as eleições nos EUA foram extraídos do UC Santa Barbara American Presidency Project (<a href="https://www.presidency.ucsb.edu/">https://www.presidency.ucsb.edu/</a>).
<a href="#_ftnref2" name="_ftn2">[2]</a> <a href="https://www.politico.com/news/2020/11/08/stacey-abrams-believers-georgia-blue-434985">https://www.politico.com/news/2020/11/08/stacey-abrams-believers-georgia-blue-434985</a>
<a href="#_ftnref3" name="_ftn3">[3]</a> <a href="https://elpais.com/internacional/2021-12-11/las-encuestas-en-chile-anticipan-una-victoria-incierta-del-izquierdista-boric-frente-a-kast.html">https://elpais.com/internacional/2021-12-11/las-encuestas-en-chile-anticipan-una-victoria-incierta-del-izquierdista-boric-frente-a-kast.html</a>
<a href="#_ftnref4" name="_ftn4">[4]</a> <a href="https://www.tse.jus.br/eleicoes/estatisticas/estatisticas-eleitorais">https://www.tse.jus.br/eleicoes/estatisticas/estatisticas-eleitorais</a>

urna eletrônica. Foto: Nelson Jr./ ASICS/TSE

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JOTA

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