Renard Aron

<p>O governo brasileiro esteve acuado na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 26) em Glasgow, Escócia. A pressão veio de todos os lados. Empresas brasileiras globalizadas – como a Brasil Foods (BRF), JBS e Natura – assinaram <a href="https://cebds.org/wp-content/uploads/2021/09/cebds.org-posicionamento-empresarios-pelo-clima-cebds-empresarios-clima-pt-27.09.21.pdf">carta aberta</a> com demandas específicas ao governo; empresas multinacionais como a Google exibiram <a href="https://www.youtube.com/watch?v=NJ-juLXoFxM&amp;list=PLjq6DwYksrzyHa9RtflCUniCMTFG4twFD">vídeo</a> com falas de celebridades em que Anitta e BLACKPINK fazem referência direta à Floresta Amazônica; durante os <a href="https://twitter.com/andretrig/status/1456699090893475846">protestos nas</a> <a href="https://twitter.com/andretrig/status/1456699090893475846">ruas de Glasgow</a>, <a href="https://www.nytimes.com/live/2021/11/06/world/cop26-glasgow-climate-summit-protests">ativistas brasileiros</a> foram entrevistados por grandes veículos da mídia internacional; <a href="https://twitter.com/obsclima">ONGs brasileiras</a> participaram de múltiplos eventos paralelos além de amplificarem o dia a dia da Conferência via seus canais de comunicação; e por último, representantes indígenas foram protagonistas ativos, como a Txai Suruí, paiter-suruí de 24 anos que chamou a atenção nas redes sociais com sua <a href="https://www.youtube.com/watch?v=6udOUlZ_M1Y">fala de dois</a> <a href="https://www.youtube.com/watch?v=6udOUlZ_M1Y">minutos</a> na abertura da Conferência.</p>
<p><a href="https://www.jota.info/produtos/poder?utm_source=Banner%20site&amp;utm_medium=Artigos&amp;utm_campaign=CTA_Poder_materias"><img class="size-medium wp-image-292717 aligncenter" src="https://www.jota.info/wp-content/uploads/2021/01/jota-pro-poder.jpg" alt="" width="688" height="688" /></a></p>
<p>Entre todas as ações, a que mais me chamou a atenção foi o posicionamento dos CEOs brasileiros, normalmente cuidadosos quanto a confrontar o governo publicamente. Mas desta vez, ao assinarem uma carta aberta idealizada pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (<a href="https://cebds.org/">CEBDS</a>), enviaram sinal claro ao governo brasileiro sobre de que lado estão no debate em torno das medidas necessárias para evitar um aumento da temperatura média global superior a 1,5ºC.</p>
<p>Entre as recomendações na carta estão o aprofundamento da discussão entre o setor privado, a sociedade civil e o governo sobre a posição brasileira em relação ao Artigo 6° do Acordo de Paris (cooperação e regulação do mercado de carbono global), a adoção de regras que possibilitem o desenvolvimento de mercados de carbono voluntário e regulado no Brasil e o combate integral e inequívoco ao desmatamento ilegal da Floresta Amazônica e de outros biomas brasileiros.</p>
<p><img class="aligncenter wp-image-340616 size-full" src="https://www.jota.info/wp-content/uploads/2021/11/grafico-clima-min.png" alt="" width="2407" height="1412" /></p>
<p>O gráfico acima compara a trajetória do aquecimento global até 2100 de acordo com as políticas implementadas pelos países. O único caminho seguro para a humanidade é a quarta opção, em que a cor laranja prevalece. Neste cenário, países adotam e implementam políticas de redução da emissão e mitigação dos gases de efeito estufa que vão além daquelas já acordadas no Tratado de Paris e das promessas feitas por alguns países. O gráfico é uma adaptação de outro, mais simples, que serve de introdução a uma <a href="https://www.nytimes.com/interactive/2021/10/25/climate/world-climate-pledges-cop26.html">reportagem publicada no jornal americano The New York Times</a>. É baseado em dados compilados por um grupo de pesquisa chamado <a href="https://climateactiontracker.org/">Climate Action Tracker</a>.</p>
<p>Mas tão importante quanto assumir compromissos e implementar ações concretas é a comunicação destas ações para a sociedade, e aí o CEO da Salesforce, Marc Benioff, deu um show. Ele não somente foi à COP 26, mas tuitou consistentemente sobre a COP e seu projeto de plantar <a href="https://twitter.com/Benioff/status/1456641037414379525">1 trilhão de árvores</a>. Não fica dúvida quanto ao que pensa.</p>
<p>Reforçando este ponto, a consultoria britânica Salterbaxter – que atua no espaço ESG – acabou de publicar um <a href="https://www.provokemedia.com/latest/article/study-sustainability-communications-must-be-in-perfect-lockstep-with-actions">estudo</a>. Nele, 76% das empresas em indústrias com alto nível de emissões (óleo e gás, automotiva, agronegócio e alimentos) que apresentaram um bom desempenho nas suas ações climáticas ficaram aquém no uso da comunicação para viabilizar uma mudança de comportamento sustentável entre os seus stakeholders; e metade das empresas com alta pontuação em suas ações climáticas teve pontuação baixa ou média quanto à liderança do CEO. E aí voltamos aos CEOs brasileiros. Mesmo estando presentes na COP, nem Gilberto Tomazoni, CEO da JBS, ou Marcelo Behar, CEO da Natura &amp; Co., tuitaram uma vez só. A bem da verdade, eles nem conta no Twitter têm. E ficou para o Marc Benioff retuitar entrevista da Txai Suruí à BBC.</p>
<p>Mas a resistência dos CEOs de se posicionarem sobre temas nas redes sociais não é exclusividade brasileira. Mesmo em se tratando de tema relativamente pouco controverso, CEOs da indústria automobilística comprometida com carros elétricos, como Mary Barra da GM e Elon Musk da Tesla, não se pronunciaram no Twitter sobre a COP 26.</p>
<p>O desafio para as empresas é que a "realidade" nas redes sociais passa a pertencer àqueles que contam seu lado da história. Li no LinkedIn sobre o <a href="https://www.poder360.com.br/meio-ambiente/jbs-usara-suplemento-na-alimentacao-de-bois-para-reduzir-emissoes-de-metano/">acordo</a> que a JBS assinou com a empresa Royal DSM para reduzir em escala global a emissão de metano entérico bovino; uma ótima iniciativa, mas nenhum tuíte ou post no Instagram, nem pelo perfil corporativo da empresa. Será que o acordo existiu para a grande maioria?</p>
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cop 26

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JOTA

O desafio para as empresas é que a 'realidade' nas redes sociais passa a pertencer àqueles que contam seu lado da história

Empresas brasileiras vão à COP 26, mas faltou presença nas redes

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