Juliana Godoy A. Tadeu

Se antes, no mundo corporativo, a recomendação era de sempre buscar separar o pessoal do profissional, atualmente, em tempos de pandemia e home office, isso nem sempre é possível. Ao longo do dia, o pessoal e o profissional acabam tendo que interagir, sobretudo para quem tem filhos ou idosos para cuidar, ou mesmo um animal de estimação.
Os casos de relatos mais comuns na busca de estratégias que dão certo envolvem a criação de rotinas para melhor gestão do tempo e pessoas com distribuição de tarefas, nessa sinergia da vida pessoal (casa/filhos) e profissional (equipe/entregas/negócio), em que tratamos da gestão de muitos projetos com graus de relevância diferentes, mas necessários.
<a href="https://conteudo.jota.info/poder-contato"><img class="size-medium wp-image-292717 aligncenter" src="https://www.jota.info/wp-content/uploads/2021/01/jota-pro-poder.jpg" alt="" width="688" height="688" /></a>Certamente, não adianta crer que tudo ocorrerá perfeitamente em todas as áreas, pois, similar a um projeto, percalços sempre ocorrerão e é preciso estar pronto e, sobretudo, aberto aos imprevistos.
O tempo para a execução de atividades e os recursos humanos reduzidos são alguns dos principais desafios, sem deixar de mencionar um dos pontos mais sensíveis em tempos de pandemia: o psicológico. Seja o seu próprio psicológico ou de quem o cerca, física ou virtualmente.
Compartilho a seguir algumas das estratégias que podem ser úteis nessa interação da vida pessoal com a profissional, sem qualquer pretensão de esgotar o assunto e lembrando que cada um está num barco próprio com condição de mar e vento que podem variar bastante, de modo que não há receita pronta.
<h3>Rotinas:</h3>
No Ocidente, temos o hábito de ouvir a palavra “rotina” de forma pejorativa, como algo tedioso. Contudo, rotina nada mais é que processos internalizados, que contribuem para uma fluidez entre muitas atividades que possuem interdependência.
Trazendo para o olhar do dia a dia, em tempos de pandemia, o diálogo entre o pessoal e o profissional pode ser facilitado, se essa rotina já existir. Em termos práticos, é possível listar atividades que fazem parte da nossa jornada diária, das mais simples às mais complexas. Se for possível estabelecer faixas de horários e como agir, mesmo que algo aconteça de forma indesejada, os desgastes poderão ser amenizados.
Por exemplo, no campo pessoal tornou-se importante:
<ul>
<li>programar com o companheiro um horário de cobertura para a realização de reuniões mais complexas um do outro, buscando, assim, evitar interrupções;</li>
<li>ter horários fixos para fazer as refeições, monitorar as aulas virtuais, dar banho e colocar para dormir as crianças;</li>
<li>dividir tarefas entre os adultos da casa, o que no nosso caso incluiu dividir uma criança para cada adulto para o ”cuidar” ao longo do dia; e</li>
<li>reservar um tempo do dia para a hora da brincadeira com os pequenos, que tendem a ficar na expectativa da nossa presença.</li>
</ul>
A partir dessa rotina, conseguimos organizar o nosso dia e o das pessoas que estão ao nosso redor e/ou interagindo conosco diariamente, mesmo que virtualmente.
Já no campo profissional, uma das premissas é ter um local fixo e confortável para trabalhar em casa, assim como:
<ul>
<li>buscar a “recorrência” de reuniões de acompanhamento de atividades de equipe, reporte e/ou de projetos específicos com datas e horários fixos;</li>
<li>listar as atividades da semana e diariamente, destacar as prioridades e metas dessa lista;</li>
<li>negociar prazos com o cliente interno e compreender as “urgências” de cada um; e</li>
<li>conversar com as pessoas do trabalho assuntos que vão além do profissional, visando fortalecer essa convivência diária não mais presencial.</li>
</ul>
O nosso corpo também merece atenção especial. Afinal de contas, trata-se de um coletivo de engrenagens que precisa ser movimentado para não dar problemas. “Válvulas de escape” são sempre muito bem-vindas, como aulas on line de pilates ou yoga.
Dar pausas é algo extremamente necessário para nos regenerar do cansaço e pressão diária, potencializada com a situação atual. Na linha do “Inspira, respira, não pira”, ter um tempo reservado na sua rotina para esses momentos pode fazer a diferença, principalmente, quando há pressões vindas de várias direções.
<h3>Reuniões e crianças:</h3>
Reuniões costumam ser um dos pontos mais discutidos nessa nossa conjuntura, que nada tem de normal. No início da pandemia, muitos dos comentários de profissionais de RH em redes sociais e imprensa se referiam a necessidade de não deixar a vida pessoal entrar na profissional.
Atualmente, esse posicionamento evoluiu de forma positiva com a impossibilidade que muitos tem de separar completamente a vida profissional da pessoal. O que fazer com seus filhos, se você precisa trabalhar de casa e não tem disponível toda, ou boa parte, do suporte que antes estava?
<blockquote class="jota-article__eye">A interação da vida profissional com a pessoal pode ser impossível e até mesmo prejudicial em alguns momentos, mas não todos.</blockquote>
Para que situações específicas em que interrupções precisam ser evitadas, o combinado na minha casa é que um cubra o outro, já compartilhando a agenda diária de reuniões na hora do café da manhã, por exemplo.
Tentamos remanejar reuniões quando é possível, mas quantas vezes ambos estavam em reuniões ou um estava fora de casa, e uma das nossas pequenas demandou algo no meio de uma reunião.
Em situações como essa, a transparência com os participantes da reunião logo de início pode ser útil. A menção a possibilidade de ser interrompido ao longo da reunião ou anunciar já no início do vídeo que a “galinha pintadinha” será o som ambiente para garantir sua fluidez, por exemplo, já fez muita gente rir, mas é uma dica importante para quem tem crianças pequenas.
Não defendo aqui o uso irrestrito de telas para crianças, mas esse e outros vídeos de música, como Turma do Folclore e Palavra Cantada, funcionam como botão SOS. Já com a nossa filha de 4 anos, fazer “atividades” é essencial, como pintar e outros trabalhos manuais e, claro, dosar a TV sob risco de efeito reverso, além de solicitar a ajuda dos avós para ler historinhas por vídeo chamada.
Não tratamos de ciências exatas aqui, ainda mais quando está envolvido um trabalho com alta demanda e pressão, mas creio que criatividade e adaptações podem fazer a diferença, o conhecido princípio do aprimoramento contínuo.
A mudança da minha mesa de trabalho para ter a visão plena de onde as crianças brincam ao longo do dia, e poder melhor interagir com elas, inclusive em reuniões e ligações, ou até evitar algum acidente, foi bem útil.
Colocar a “estação de trabalho” da mais velha ao meu lado também facilitou bastante a fluidez do dia, já que a “estação de trabalho” do meu companheiro é mais flexível, na cozinha, que também virou sala de reuniões.
Contudo, essas melhorias não foram implementadas de imediato, mas sim após inúmeras tentativas, erros, acertos, adaptações, descobertas e muita abertura para o aprendizado e a mudança.
<h3>Comunicação e convivência digital:</h3>
De modo geral, o uso do vídeo em reuniões e ligações foi estimulado na equipe, assim como com amigos e familiares para aumentar o contato, a interação, pois boa parte da comunicação é feita de linguagem corporal e perdemos isso com o trabalho a distância. Ver a expressão de uma pessoa, uma reação, seja numa ligação ou reunião, pode fazer a diferença em situações que já foram simples, quando tínhamos toda linguagem corporal envolvida.
Como a neurolinguística aponta, a linguagem corporal permite uma pessoa interpretar o que a outra parte está pensando. Segundo o antropólogo Ray Birdwhistell, um dos pioneiros no estudo da comunicação não verbal, as palavras correspondem a menos de 35% das mensagens transmitidas numa conversa frente a frente<a href="#_ftn1" name="_ftnref1">[1]</a>.
O restante dos 65% da comunicação é feito de maneira não verbal. Desde o nascimento, o ser humano sabe identificar algumas expressões faciais e posturas, além de aprender outras ao longo da vida. Todavia, o trabalho e o isolamento em casa, mesmo que parcial, nos tiraram boa parte dessa comunicação.
Certamente, um de vocês leitores já deve ter passado por alguma situação, sobretudo no trabalho, em que todos ou parte dos participantes de uma reunião estavam presentes somente via áudio.
O que fazer? Como se comportar? Tudo depende do seu papel nessa reunião. Se ela é relevante para você, nos mais diversos contextos, mostre a cara no vídeo, ainda que sozinho. Não se acanhe! Uma colocação feita auxiliada com trejeitos corporais, um sorriso ou olhar de preocupação pode fazer toda diferença.
Desde o início da pandemia, por exemplo, nossa CEO tem reuniões virtuais periódicas com toda empresa em que ela aparece no vídeo expondo suas impressões, com o objetivo de participar a todos a conjuntura corporativa.
Já quando o assunto é equipe, a pressão do dia a dia do trabalho remoto, com prazos e volume alto de entregas, traz a necessidade de criarmos momentos virtuais que permitam a descontração, a reflexão e a exaltação de conquistas, além do simples acompanhamento de atividades.
Em outras palavras, já que a convivência diária foi reduzida com o trabalho a distância, reservar momentos virtuais para continuar a reconhecer que necessitamos uns dos outros, rir, agradecer e exaltar conquistas, serve como instrumento importante de busca da felicidade no trabalho, como sempre evocado pelo filósofo Mário Sérgio Cortella.
Hoje, na situação inimaginável em que nos encontramos, apesar do cansaço ser uma constante, procurar por estratégias de melhoria contínua, em que a felicidade possa ser favorecida nessa interação da vida pessoal com a profissional, pode fazer toda a diferença.
Enfim, o uso de rotinas e de planejamento, com abertura para melhorias, respeitando os instantes necessários de pausa, explorando as ferramentas disponíveis para uma melhor sinergia e transparência na comunicação entre as pessoas, podem deixar essa interação da vida pessoal com a profissional, não só mais leve e produtiva, como até divertida.
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O episódio 50 do podcast Sem Precedentes faz uma análise da decisão tomada pelo Supremo Tribunal Federal nesta semana e que pode acelerar a aplicação de vacinas contra a Covid-19. Ouça:
https://youtu.be/b9z7dDRHnrg
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<a href="#_ftnref1" name="_ftn1">[1]</a> Disponível em: &lt;https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Linguagem&gt;.

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JOTA

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