Christina Montenegro Bezerra

Se você for mulher, aposto que seu mês de março é parecido com o meu. No início do mês, com o Dia Internacional da Mulher, e nas semanas seguintes, você será parabenizada, lerá artigos, reportagens e mensagens com manifestações de carinho, reconhecimento e celebração do gênero feminino. Sendo do gênero masculino, celebrará as mulheres à sua volta.
Sendo bem-informados, receberemos ou daremos esta atenção conscientes de que as conquistas das mulheres ainda são tímidas e frágeis, fato que também será lembrado ao longo do mês.
<a href="https://conteudo.jota.info/poder-contato"><img class="size-medium wp-image-292717 aligncenter" src="https://www.jota.info/wp-content/uploads/2021/01/jota-pro-poder.jpg" alt="" width="688" height="688" /></a> 
Os dados indicam que persiste muita desigualdade. É árdua a jornada para o sucesso profissional feminino, havendo poucas mulheres nas posições executivas principais das empresas ou atuando nos conselhos de administração. As que se destacam ainda são – merecidamente – motivo de admiração e atenção da mídia.
Em momentos de crise, como o que estamos atravessando, mulheres acabam sendo as mais prejudicadas no mundo corporativo. As estatísticas demonstram que muito mais mulheres perderam seus empregos durante e por consequência da pandemia, se comparadas aos homens.
Felizmente, há algum progresso. Algumas empresas vêm adotando ações afirmativas para corrigir distorções históricas, buscando incluir e garantir igualdade de oportunidades para segmentos “minorizados” pela sociedade, não apenas com base no gênero.
Este é o contexto dentro do qual trago algumas considerações, esperando gerar reflexões sobre a chamada sororidade.
De forma simplificada, sororidade significa que mulheres deveriam apoiar outras mulheres no desenvolvimento de suas carreiras. Unidas, teríamos melhores condições para superar preconceitos, transitar com segurança no ambiente profissional e ter sucesso em condições de igualdade aos homens. Parece lógico e intuitivo que as mulheres possam compreender os desafios enfrentados por suas iguais e, empaticamente, ajudá-las.
Simples, mas não é nada fácil. Mulheres e homens vivenciam ao longo de suas vidas experiências que vão moldando seu jeito de enxergar o mundo. Cada um percebe a realidade de acordo com seu conjunto de valores e crenças, sendo um exercício desafiador trazer para a consciência os chamados vieses que nos fazem sentir, pensar e agir. Desafiador e necessário, porque tendemos a julgar de acordo com esses vieses inconscientes.
Podemos pensar – racionalmente – ser ético que as empresas tenham metas de paridade entre homens e mulheres na liderança. Mas será que o nosso sentir irá na mesma linha do pensar se pouco ou nunca convivemos com mulheres na gestão corporativa?
Se você tiver uma idade próxima da minha, provavelmente cresceu em ambientes corporativos ainda mais masculinizados do que hoje em dia. Como exemplo disso, a mesa examinadora na fase oral do meu exame de admissão na ordem dos advogados era composta exclusivamente por homens, juízes e advogados. Já a recepcionista que me acompanhou até o local da prova era uma mulher. A mensagem de poder era clara.
Em quase trinta anos de carreira, tive apenas duas líderes mulheres no Brasil. Duas entre quantos outros homens? Sempre liderei profissionais de ambos os gêneros, desenvolvendo ao longo do tempo um estilo próprio, uma vez que os exemplos de líderes mulheres foram raros.
Na faculdade e nos cursos de pós-graduação sempre tive muitas colegas mulheres, assim como no início da carreira. Na medida em que ascendia profissionalmente, porém, menos pares do gênero feminino eu tive. Observei que nem sempre as mulheres se apoiam, talvez porque tenham experiências que as façam valorizar mais aos homens do que a elas próprias.
<blockquote class="jota-article__eye">A lógica cruel da “impostora” é não ver valor na outra, assim como não vê em si mesma. Por isso é fundamental querer apoiar as mulheres, tendo propósito na busca da sororidade.</blockquote>
E que bem incrível a sororidade nos faz! Que coisa boa sentir apoio numa reunião ou num projeto, não sendo a sua a única voz dissidente, tendo outras mulheres ao seu lado com perspectivas diferentes das masculinas no trato de questões complexas e sensíveis.
Outra felicidade é encontrar apoio nos colegas do gênero masculino. Vejo que há homens cada vez mais atentos à importância de promover diversidade e valorizar as mulheres no ambiente de trabalho. Tão alinhados estão em seu pensar e sentir que agem para mudar seus ambientes. Tenho amigos que se recusam a compor um painel de debates no qual não haja igualdade de gênero e inclusão em geral. Este é um progresso importantíssimo e que deve ser estimulado sempre, não apenas neste mês.
Cada um de nós sabe qual nível de conforto sente quando é apresentado para uma nova chefe ou nova colega na diretoria, assim como quando entra em uma aeronave pilotada por uma mulher, ou num centro cirúrgico comandado por uma neurocirurgiã. A resposta, consciente ou não, irá depender das vivências individuais.
Meu convite é para que busquemos compreender nossos valores e processos mentais, praticarmos intencionalmente o apoio às mulheres, eliminando tudo o que nos impeça de fazer do mês de março um momento para efetivamente celebrarmos conquistas reais e duradouras.
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O episódio 53 do podcast Sem Precedentes discute ações sobre a Lei de Segurança Nacional, que tem sido usada em inquéritos contra críticos de Bolsonaro. Ouça:
https://www.youtube.com/watch?v=1062owtx9o4
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JOTA

Sororidade significa que mulheres deveriam apoiar outras mulheres no desenvolvimento de suas carreiras

Essa tal de sororidade: reflexões sobre o mês da mulher

Sororidade significa que mulheres deveriam apoiar outras mulheres no desenvolvimento de suas carreiras