Luiz Orlando Carneiro

Embora recém-operado de um carcinoma – e ainda internado no Hospital Brasília, sob os cuidados do Dr. Carlos Santa Ritta – este colunista não poderia deixar de se manifestar em face da morte, no último domingo, aos 87 anos muito bem vividos, do músico, musicólogo, “irmão de opa” e ativista do jazz Zuza Homem de Mello.
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Dos registros lidos e anotados nestes últimos dias sobre essa figura ímpar do jazz – que chegou a estudar a arte do contrabaixo na Juilliard School de Nova York, mas acabou preferindo curtir a jazz life na base do aqui e agora, atrás dos panos – merecem destaque muito especial as seguintes considerações feitas em podcast pelo amigo comum e grande jornalista Cristiano Romero, e que agora transcrevo:
“Quando Antonio Carlos Jobim partiu, em 8 de dezembro de 1994, mesmo dia em que John Lennon, outro estrangeiro famoso em Nova York, que fora assassinado 14 anos antes, Frank Sinatra soltou nota oficial dizendo o seguinte: ‘Quem vai compor para nós a partir de agora?’. Não era exagero. O único compositor ao qual Sinatra dedicou um disco inteiro (na verdade, dois) foi Tom Jobim.
Agora, partiu Zuza Homem de Mello, o sujeito que dedicou a vida a promover a música. Sabe aquela pessoa que chega para você diz: ‘Você PRECISA ouvir isso aqui’. Era o Zuza, e ele fazia isso profissionalmente. Seu ‘consórcio’ com a arte musical era indissolúvel”.
- “Zuza era, antes de mais nada, um grande ouvinte e, por isso, dedicou-se a ensinar as pessoas a ouvir música. Não havia nada presunçoso nisso, afinal, as canções ganham cores e contornos diferentes, grandiosos, quando aprendemos a escutá-las. Ora, Heitor Villa-Lobos dedicou parte de sua vida viajando pelo país para conhecer a música produzida por sua gente em todos os cantos deste imenso território e que a maioria desconhecia.
Villa-Lobos era um ouvinte privilegiado que queria ensinar os brasileiros a ouvir sua própria música e, quando teve poder para isso, instituiu o ensino obrigatório de música nas escolas. Não era um devaneio: por meio da música os brasileiros se encontram de alguma forma. É uma das nossas poucas identidades, base, portanto, para a construção de uma nação”.
-"Zuza, como todo aficionado por música, sempre quis que um maior número de pessoas soubesse o que ele sabia, e ele sabia muito. Por isso, promoveu festivais, colocou o jazz na paisagem cultural brasileira, escreveu livros e pesquisou até o último suspiro.
Revelou-se que seu livro sobre João Gilberto está pronto. Não tenho dúvida em afirmar que, quando for lançado, será o acontecimento cultural deste país em décadas".
Com aquele jeitinho discreto de separar o joio do trigo, sempre de olho e ouvidos voltados para a realização de festivais de jazz em São Paulo, no Rio e em Ouro Preto, o selecionador e apresentador Zuza promovia também, à parte, "seminários "com estudiosos do jazz do nível de Gary Giddins e John S.Wilson.
Zuza vai fazer muita falta!

zuza homem de mello e luiz orlando carneiro

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JOTA

Embora recém-operado e ainda internado, este colunista não poderia deixar de se manifestar em face da morte de Zuza

Zuza Homem de Mello (1933-2020)

Embora recém-operado e ainda internado, este colunista não poderia deixar de se manifestar em face da morte de Zuza