Luiz Orlando Carneiro
Foi repórter e colunista do JOTA
O icônico Dave Brubeck morreu em 2012. Mas continua vivo na memória dos jazzófilos exigentes, que podem ouvir e reouvir música que será sempre atual, documentada em riquíssima discografia.
E cabe aqui lembrar a definição do adjetivo “contemporâneo” dada uma vez pelo vanguardista Andrew Hill (1931-2007), também pianista-compositor: “Contemporâneo não é apenas o que é novo, mas algo que resiste ao teste do tempo. 'Fatha' Hines ['pai' do piano jazzístico] é contemporâneo. Ainda que lidasse com situações de tônica e dominante, ele as levou muito mais longe do que qualquer pianista da sua época”.
Além disso, anote-se que a “Brubeckiana” tem sido preservada e reinterpretada, de modo bem original, pelo Brubeck Brothers Quartet, há muito liderado pelos filhos Chris (baixo elétrico, trombone) e Dan (bateria), tendo como parceiros Mike DeMicco (guitarra) e Chuck Lamb (piano).
Neste fim de ano em que se celebra o centenário do inesquecível jazzman a Verve Records decidiu tirar do baú aquela que foi a sua derradeira gravação, solo, feita em estúdio, em três dias de março de 2010. Ou seja, quando ele já se tornava um nonagenário.
O disco intitula-se Lullabies, e foi concebido como se fosse mesmo uma seleção de “canções de ninar”, para crianças e seus familiares, como o próprio Dave explicou na época:
“Algumas das melodias deste álbum são como aquelas antigas canções, outras são peças originais que, a meu ver, atrairiam tanto os bebês como a geração bem mais velha”.
O registro inédito reúne 15 faixas (45 minutos no total) – dentre as quais algumas a partir de temas muito frequentes no jazz, como Over the rainbow, Summertime e When is sleep time down South.
Na abertura e na conclusão da setlist, delicadas versões de Brahms Lullaby, melodia baseada num lied do compositor alemão. Dos originais do pianista, destaque para Koto song, Going to sleep, Briar bush e Lullaby for Iola.
E tem mais chasse gardée de Dave Brubeck prevista para dezembro próximo. A nova etiqueta Brubeck Edition vai lançar o CD Time Out Takes, com registros inéditos, recém-descobertos, das históricas sessões de estúdio de 1959 que geraram o LP Time Out, com o pianista-compositor na chefia do seu histórico quarteto (Paul Desmond, sax alto; Joe Morello, bateria; Gene Wright, baixo). O original Time Out – que continha a faixa Take five, aliás da pena de Desmond – foi um dos maiores best sellers da história do jazz.
Confira os samples do CD aqui.
Ouça uma das versões de Brahms Lullaby: