Luiz Orlando Carneiro

"Pode-se afirmar, com absoluta certeza, que Alfredo Dias Gomes é, no mínimo, um músico realizado e (bastante!) inquieto. O filho baterista de Janete Clair e Dias Gomes alcança a marca de onze discos solos, lançando agora o CD Solar, gravado em seu próprio estúdio, na Lagoa”.
Esta afirmação consta do release de apresentação desse novo álbum do baterista-compositor carioca que, aos 58 anos, sublinha a sua inquietude criativa ao conceber e registrar, com engenho e arte, uma seleção de oito composições de sua lavra, tendo como parceiro de carne e osso no estúdio, somente, o saxofonista-flautista Widor Santiago.
A temática e o clima rítmico dominante de Solar têm raízes fincadas na música popular brasileira, no baião e no samba. Contudo, não se trata, apenas, de mais um bom disco de samba jazz ou de jazz samba. É uma obra conceitual, de intenso swing, a partir de cativantes arranjos e com expressivos solos – sobretudo os do saxofonista tenor, de inspiração coltraneana. Widor Santiago sopra também, em duas peças, a flauta e o sax soprano. O líder-baterista faz do duo um quarteto, gravando, em multitracking, os teclados e o “contrabaixo”.
Perguntei a Alfredo Dias Gomes qual foi, exatamente, o processo que usou para a gravação do novo álbum no seu estúdio. E ele assim respondeu:
“Eu gravo primeiro um teclado guia, vou pra bateria, vejo se funciona a ideia e faço os ajustes, andamento, groove, melodia etc… Às vezes sai de primeira, outras vezes dão um pouco mais de trabalho. Depois eu gravo a bateria valendo, e só então gravo os teclados e baixos definitivamente.Todos os teclados e baixos são teclados virtuais do ProTools. Nas bases eu usei sons de Fender Rhodes e piano acústico. E também clavinete no baião. Na maioria dos baixos eu usei o fingerbass. Em El toreador (4m05), usei fretless, e em Alta tensão (5m20) o baixo dobrado uma oitava abaixo. Ainda dobrei algumas melodias com som de piano acústico e Minimoog (sintetizador) em Alta Tensão e Finale (6m). Depois entrou o Widor, e gravou o sax tenor, o soprano e a flauta”.
As peças acima citadas são as três últimas do programa, que começa com Viajante (4m20), composta em 1980 a pedido da mãe do músico, Janete Clair.
“Minha mãe me pediu uma música para um personagem da novela Coração Alado (1980/81), sobre um nordestino que vinha ganhar a vida no Rio de Janeiro, interpretado por Tarcísio Meira. Na época, eu tocava na banda do Hermeto Pascoal, estava ‘respirando’ música brasileira, e então compus para a trilha sonora da novela o baião Viajante, gravado pelo Dominguinhos. Agora, gravado em versão instrumental inédita”, conta o baterista.
A faixa-título do álbum (5m) “foi composta em 7/4, com pegada pesada de bateria e melodia abrasileirada”, enquanto Trilhando(4m25), em andamento rápido, ressalta o característico walking bass do jazz. Corais (5m35) é um tema mais romântico, porém levado com marcante pulso rítmico da bateria e do “baixo”. Smoky (5m40) tem como base um riff bem bluesy.
(Samples do álbum Solar em: <a href="http://itunes.apple.com/us/album/solar/1450099476" target="_blank" rel="noopener" data-saferedirecturl="https://www.google.com/url?q=http://itunes.apple.com/us/album/solar/1450099476&amp;source=gmail&amp;ust=1554557693534000&amp;usg=AFQjCNHhBRIhN2Fxh81dmE4BefHGlUF2-Q">itunes.apple.com/us/album/solar/1450099476</a>)
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JOTA

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