Luiz Orlando Carneiro

Em apenas 35 anos de vida, dos quais somente oito como solista-líder, o genial saxofonista alto-compositor Charlie Parker (1920-1955), principal Founding Father do bebop, foi uma figura tão excepcional e influente na história do jazz como foram Igor Stravinsky e Pablo Picasso, no início do Século XX, nos panoramas da música dita erudita e das artes plásticas, respectivamente.
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Os registros fundamentais da obra parkeriana foram feitos entre 1945 e 1953. De julho de 1946 a fevereiro de 1947 houve um hiato nas suas atividades em face de internação numa clínica de Camarillo, California, depois de um breakdown nervoso devido ao consumo de drogas pesadas e ao alcoolismo. Nos últimos dois anos de vida, o Yardbird, ou simplesmente Bird, pouco saiu de sua ‘‘gaiola’’. Morreu no dia 12 de março de 1955, abrigado na suíte do Stanhope Hotel, Nova York, da Baronesa Pannonica ‘‘Nica’’de Koenningswarter (née Rotschild), sua amiga e protetora.
Assim é que o centenário de nascimento de Charlie Parker deve gerar celebrações significativas no ano entrante. E a primeira delas já está à disposição dos jazzófilos nas lojas e plataformas virtuais, antes mesmo do já próximo réveillon. Trata-se do álbum Bird at 100, do selo Smoke Sessions, que reúne uma trinca de notáveis especialistas no sax alto, descendentes estilísticos do Bird: Gary Bartz, 79 anos; Bobby Watson, 66; Vincent Herring, 55. Eles são acompanhados por um trio do primeiro escalão integrado por David Kikoski (piano), Carl Allen (bateria) e Yasushi Nakamura (bateria).
Gary Bartz assim traduz o seu fascínio por Charlie Parker: ‘‘Comecei a tocar na era do bebop...Bird transformou toda a paisagem da música com o seu virtuosismo, seu conhecimento harmônico e sua musicalidade. Para mim, ele é o Bach dos tempos modernos’’.
Bird at 100 tem nove faixas. O sexteto de três saxes interpreta com engenho, arte e sensibilidade formidáveis quatro temas da pena do próprio Parker: Klactoveedstene (5m45), título que ninguém sabe ao certo o que significa; Birdish (6m38), baseado em Confirmation; The Hymn (9m55); e Yardbird Suite (11 m), o mais longo take do álbum.
Vincent Herring, Bobby Watson e Gary Bartz apresentam-se, separadamente, em quarteto com a seção rítmica, interpretando três standards que Parker tocava muito. Respectivamente: Lover man (9m30), These foolish things (8m50) e April in Paris (6m50). E voltam à formação sexteto em Folklore (7m30), original de Herring, e Bird lives (6m10), do inesquecível Jackie McLean.
(Samples de Bird at 100: <a href="https://www.prostudiomasters.com/featured/genre/jazz/new#quickview/album/43791" target="_blank" rel="noopener" data-saferedirecturl="https://www.google.com/url?q=https://www.prostudiomasters.com/featured/genre/jazz/new%23quickview/album/43791&amp;source=gmail&amp;ust=1575757662198000&amp;usg=AFQjCNGYQCQikcpvmQ9X4vqFiz5toAUYRQ">https://www.prostudiomasters.com/featured/genre/jazz/new#quickview/album/43791</a>)
<h3>Rio Joy de Alexandre de Carvalho</h3>
Com um certo atraso, esta coluna registra e recomenda o álbum Rio Joy (Tratore), do guitarrista-arranjador e professor Alexandre Carvalho - um ‘‘músico para músicos’’ com pós-graduação na Manhattan School of Music, Nova York - cuja arte passou a ser mais apreciada no Brasil depois da edição, em 1999, do CD Joy Spring (Independente), do quinteto do saxofonista Idriss Boudrioua.
Como explica Alexandre em entrevista a Wilson Garzon, no site Clube de Jazz, ele tem um quarteto carioca e outro brasiliense. Integram o primeiro Fernando Trocado (sax tenor), Jefferson Lescowich (baixo) e Vitor Vieira (bateria). Atuam no segundo Ademir Junior (sax tenor), Daniel Castro (baixo) e Pedro Almeida (bateria).
Os dois conjuntos interpretam com criatividade serena – mas sempre swinging , tanto nos arranjos como nos solos– uma seleção de oito peças. A faixa-título e Nica’s Mood (ambas de autoria do líder) foram gravadas com o o grupo de Brasília. As demais, no Rio, com Ademir Junior, Daniel e Pedro: La Calle 92 (Astor Piazolla), Samba jazz (JT Meirelles), The dolphin (Luizinho Eça), Waltz nova (Alexandre Carvalho), Duke Ellington’s sound of love (Charlie Mingus) e Armadilha (Henrique Alvim).

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Bird at 100 reúne Gary Bartz, Bobby Watson e Vincent Herring

Saxofonistas celebram centenário de Charlie Parker

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