Luiz Orlando Carneiro

“Não se pode rotular o mago do teclado, engenheiro de som e produtor Jamie Saft. Ele esteve sempre presente na 'Downtown scene' de nova York, associado a John Zorn, e tornou-se um exemplo de músico que começou no 'jazz' e depois passou a personificar uma estética de improvisação criativa bem eclética. Como líder, ele tem explorado jazz, ruído, música de vanguarda, electronica, funk. Tem sido também um elemento crítico em discos de Dave Douglas, John Adams, Iggy Pop, Bad Brains, Marc Ribot, Bill Laswell, Wadada Leo Smith...”.
Estas observações são do crítico Will Layman, do site PopMatters, no início da resenha do novo álbum de Jamie Saft, intitulado Blue Dream (RareNoise Records), no qual o pianista-compositor lidera um quarteto, digamos, “bem-comportado”, na companhia de Bill McHenry (sax tenor), Bradley Jones (baixo) e Nasheet Waits (bateria). Bem diferente dos outros discos de Saft para o selo que privilegia “ruídos raros” e também dos 11 da etiqueta Tzadik em que atuou como sideman do extravagante John Zorn entre 1999 e 2005.
Das 12 faixas do novo lançamento, nove são de autoria do líder. As três restantes são conhecidos itens do “American Songbook”: Sweet Lorraine (2m50), que “todo mundo” cantou ou tocou, de Bing Crosby a Chet Baker, de Louis Armstrong a Oscar Peterson; Violets for your furs (5m50), balada que atraiu tanto Frank Sinatra como John Coltrane; There's a lull in my life (6m45), canção de 1937, do repertório de Tonny Bennett e Ella Fitzgerald.
Nestas baladas destaca-se, especialmente, o sax tenor encorpado de Bill McHenry, cujo nome merecia figurar na capa do álbum, que se limita a destacar, além do título, Blue dream, o “dono” do The Jamie Saft Quartet. E, na verdade, o quarteto não teria produzido uma sessão tão relevante e envolvente não fosse a técnica e a inspiração desse admirável saxofonista, de 46 anos, da mesma geração dos mais conhecidos Joshua Redman e Chris Potter.
Mas o tandem Saft-McHenry atinge o ápice da criatividade e da intensidade em quatro peças nas quais não procura esconder referências – e deferências – aos geniais John Coltrane e McCoy Tyner: Vessels (5m20), Infinite compassion (4m30), Sword's water (3m50) e Equanimity (6m). Esta última é impulsionada por um solo inicial de um minuto e 40 segundos de Nasheet Waits, descendente estilístico de Elvin Jones (1927-2004), o também imortal baterista do quarteto de Trane. Em Sword's water, o sax-tenor de McHenry chega mesmo próximo às sheets of sound coltraneanas - aqueles estertores sônicos que também influenciaram o jazz bem free de Archie Shepp e Albert Ayler.
Blue Dream é o segundo álbum assinado por Jamie Saft lançado este ano pelo selo inglês RareNoise, seis meses depois de Solo A Genova - um recital gravado, em março de 2017, num teatro daquela cidade italiana pelo pianista, e o seu primeiro disco solo em 25 anos de carreira. O conceito deste registro – muito aplaudido pela crítica especializada - foi a “apresentação de suas ideias sobre a América através da música, principalmente a partir de pop songs de Bob Dylan, Steve Wonder, Joni Mitchell e outros”.
(Faixas de Blue Dream podem ser apreciadas em: <a href="http://www.rarenoiserecords.com/jukebox/saft/bd/" target="_blank" rel="noopener" data-saferedirecturl="https://www.google.com/url?hl=pt-BR&amp;q=http://www.rarenoiserecords.com/jukebox/saft/bd/&amp;source=gmail&amp;ust=1537020967806000&amp;usg=AFQjCNH813GzolQqfjmMX5fluSdcwcfWMg">www.rarenoiserecords.com/jukebox/saft/bd/</a>)

https://images.jota.info/wp-content/uploads/2021/09/copy-of-jota-logo-high-cmyk.jpeg

JOTA

Pianista e saxofonista lançam álbum em quarteto no selo RareNoise

O Blue Dream de Jamie Saft e Bill McHenry

Pianista e saxofonista lançam álbum em quarteto no selo RareNoise