Luiz Orlando Carneiro

Região histórica da Romênia medieval, a Transilvânia ficou para sempre associada ao Conde Drácula, aquele insaciável vampiro criado pelo romancista irlandês Bram Stoker (1847-1912). Lá também nasceu e cresceu George Enesco ou Enescu (1881-1955), compositor e violinista erudito de renome que escolheu Paris como segunda pátria.
Pois no planeta jazz é cada vez mais admirada a arte do pianista-compositor Lucian Ban, 52 anos, igualmente nascido e criado lá na Transilvânia. Ele já tinha renome no seu país como concertista e jazzman quando, em 1999, emigrou para Nova York. Começou então a atuar como sideman até lançar, em 2006, o seu primeiro disco na linha de frente: The Tuba Project (CIMP Records), em quinteto que incluía Bob Stewart (tuba), J.D.Allen (sax tenor) e Alex Harding (sax barítono). Os álbuns Enesco Re-Imagined (Sunnyside, 2010) e Transylvanian Concert (ECM, 2013) firmaram o prestígio do pianista-compositor.
O novo e mais pessoal registro de Ban intitula-se Ways of Disappearing (Sunnyside), e já está disponível nas lojas e plataformas virtuais. Trata-se de um recital solo de quase uma hora gravado lá na Romênia, ano passado, num “Bösendorfer grand”. São apresentadas 14 peças, das quais 12 originais do virtuose do teclado. Do repertório jazzístico ainda dito moderno ele recriou as meditativas Ida Lupino (5m25), de Carla Bley, e Albert’s love theme (5m45), de Anette Peacock.
Mas no geral - como ressaltado na apresentação do novo CD - anos de estudo da arte do piano solo fizeram de Ban um devoto de intérpretes por ele qualificados de “radicais”. Tais como Thelonious Monk, Paul Bley, Keith Jarrett e Andrew Hill, que “desafiaram os modos de tocar o piano, tanto em grupo como a sós”.
 Tal opção é logo sublinhada na politonalidade (ou atonalidade) similar àquele tipo de “música séria” inventada e anotada por Morton Feldman (1926-1987) e outros “serialistas”, como se pode ouvir na faixa de abertura, The heart of what does exist (5m15). Mas logo na seguinte, Flatbush Avenue breakdown (4m), o pianista-compositor mostra a compatibilidade do jazz sem base tonal explícita com a atmosfera dos blues, assim como na faixa-título. O que, aliás, ele proclama até no título do nono número: My blues (4m).
Jalisco (3m25) e Guerrero (1m20) são os nomes de dois estados do México constantes da setlist. Mas os temas não têm referências melódicas ou rítmicas explícitas à música popular latino-americana. O primeiro é interpretado velozmente, na base do contraponto, e a segunda sem referências tonais evidentes.
Ouça a faixa-título: <a href="https://lucianban.bandcamp.com/album/ways-of-disappearing" target="_blank" rel="noopener" data-saferedirecturl="https://www.google.com/url?q=https://lucianban.bandcamp.com/album/ways-of-disappearing&amp;source=gmail&amp;ust=1654351924583000&amp;usg=AOvVaw3kwEAlbJmsQxkivQQDvbe7">https://lucianban.bandcamp.com/album/ways-of-disappearing</a>
Jalisco: 
https://www.youtube.com/watch?v=uUSYIz_DFC0
Samples das 14 faixas: <a href="https://music.apple.com/us/album/ways-of-disappearing/1619529633" target="_blank" rel="noopener" data-saferedirecturl="https://www.google.com/url?q=https://music.apple.com/us/album/ways-of-disappearing/1619529633&amp;source=gmail&amp;ust=1654351924583000&amp;usg=AOvVaw0if1kJaKC1KKmfniMs4qgE">https://music.apple.com/us/album/ways-of-disappearing/1619529633</a>

lucian ban

https://images.jota.info/wp-content/uploads/2021/09/copy-of-jota-logo-high-cmyk.jpeg

JOTA

Ways of Disappearing é o primeiro CD solo do emergente pianista

Lucian Ban, o jazzman da terra do Drácula

Ways of Disappearing é o primeiro CD solo do emergente pianista