Luiz Orlando Carneiro

Embora poucos álbuns relevantes tenham sido gravados e também lançados neste ano dramaticamente vitimado pela pandemia do coronavírus, as revistas especializadas e os colunistas de jazz não deixaram de publicar as listas dos “melhores do ano”, incluindo principalmente registros de estúdio feitos no segundo semestre de 2019.
Em algumas dessas seleções apareceu um disco que está a merecer destaque muito especial: Omega (Blue Note), estreia como líder do saxofonista (alto) Immanuel Wilkins, à frente de um quarteto com Micah Thomas (piano), Daryl Johns (baixo) e Kweku Sumbry (bateria). Todos eles ainda na faixa dos 20 anos.
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O crítico Giovanni Russonello, do New York Times, abriu a sua lista dos 10 top albums com este CD do saxofonista-compositor, “uma suíte de 10 peças que se movem com tal graça que não se tem nem tempo de sentir o excesso de ideias nelas contidas”. Ele destaca também o fato de Omega ter sido produzido por Jason Moran, o pianista preferido do jazz master Charles Lloyd.
Moran, por sua vez, assim introduziu o seu apadrinhado de 23 anos, que se formou pela Juilliard School of Music de Nova York: “Ele é um instrumentista poderoso, que combina tradições de um jeito que só a sua geração sabe fazer. O futuro da música está nas mãos desses músicos, nos quais muito confio”.
Na review do álbum publicada pela JazzTimes quando do seu lançamento, há quatro meses, o muito respeitado e influente crítico Thomas Conrad afirmou, ipsis litteris: “Omega é o mais importante disco de jazz de estreia em anos”. E acrescentou: “Wilkins não é straight-ahead nem vanguardista. Ele opera num nova zona fértil que comporta as duas vias. A sua extremidade lírica retorna a Charlie Parker e, ao mesmo tempo, avança para além de Ornette Coleman. Seus chops [habilidade técnica] são elétricos. Sua variedade tonal vai do melífluo e sensual ao abrasador e bruto, às vezes no mesmo solo”.
<blockquote class="jota-article__eye">O disco do quarteto de Wilkins foi gravado em agosto do ano passado, portanto bem antes do assassinato brutalde George Floyd, de índole nitidamente racista, ocorrido (e filmado) numa rua de Minneapolis, em maio último, e que gerou e internacionalizou a campanha “Black Lives Matter”.</blockquote>
Mas  anote-se aqui que a inspiração predominante da suíte Omega está nas faixas Ferguson (7m05) e Mary Turner (3m35), subintituladas An American Tradition, e se referem ao assassinato de Michael Brown Jr. pela polícia de Ferguson (Missouri), em 2014, e ao linchamento de uma jovem negra na Georgia, em 1989. Ou seja, Wilkins já era, há muito tempo, um “missionário” da luta contra a “tradição americana” do racismo.
Os parceiros de Immanuel Wilkins no CD estão à altura do líder, principalmente Micah Thomas, que exibe influências tão notáveis como o cromatismo free de Lennie Tristano (1919-1978) e a erudição de Keith Jarrett. E, a propósito, ele foi o tema desta coluna (<a href="https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/jazz/a-hora-e-a-vez-de-micah-thomas-15082020">A hora e a vez de Micah Thomas</a>, 18/8/2020), por ocasião do lançamento de seu também primeiro álbum (Tide) como líder.
Ouça a <a href="https://www.npr.org/sections/we-insist-a-timeline-of-protest-music-in-2020/2020/09/02/907960473/immanuel-wilkinss-mary-turner-is-a-powerfully-relevant-memorial">faixa </a>Mary Turner e os <a href="https://music.apple.com/us/album/omega/1519119832">samples</a> do álbum.
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O episódio 47 do podcast Sem Precedentes analisa o julgamento do Supremo Tribunal Federal que decidiu pela inconstitucionalidade da reeleição dos presidentes do Congresso. Ouça:
https://youtu.be/roD5SwCzhLI
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Immanuel Wilkins

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JOTA

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