Luiz Orlando Carneiro

O pianista Gerald Clayton, 36 anos, chega ao topo da carreira na condição de líder com o recém-lançado álbum Happening: Live at the Village Vanguard (Blue Note) - registro da primeira apresentação do seu quinteto na “catedral” do jazz novaiorquina. Ao seu lado, naquela noite de agosto de 2018, Logan Richardson (sax alto), Walter Smith III (sax tenor), Joe Sanders (baixo) e Marcus Gilmore (bateria).
A família de Gerald é decididamente jazzística. O papai John (baixista) e o tio Jeff (sax alto) fundaram a Clayton-Hamilton Jazz Orchestra (com o baterista Jeff Hamilton), que gravou uma dezena de títulos entre 1990 e 2014. Os Clayton Brothers (John e Jeff) formaram também um conjunto assim batizado, cujo primeiro LP tinha como título It’s All in the Family (Concord, 1980).
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Assim é que o garoto Gerald teve tudo para desenvolver e aprimorar a sua queda pelo piano desde muito cedo, e depois sob a tutela de mestres Billy Childs e Kenny Barron. Em 2006, ele foi o segundo colocado na Thelonious Monk Institute of Jazz Piano Competiotion, vencida pelo armênio Tigran Hamasyan. Mas foi como sideman do grande saxofonista Charles Lloyd, desde 2013, que o mais jovem dos Clayton consolidou o seu prestígio (Cf. CD Kindred Spirits/Live from the Lobero, selo Blue Note, gravado em março de 2018, no concerto comemorativo dos 80 º aniversário de Lloyd).
No seu novo Happenig: Live at the Village Vanguard são apresentadas sete faixas (uma hora e 15 minutos de música), das quais cinco com o quinteto e duas em trio, sem os sopros. Nestas o pianista-líder interpreta duas joias do repertório jazzístico: Celia (10m35), de Bud Powell, a partir de uma introdução solo bem assimétrica de mais de dois minutos; a imortal balada Body and soul (11m45), também harmonicamente analisada a partir de ângulos inesperados. O baixista Joe Sanders sola nestas duas faixas.
O quinteto com os dois saxes atua nas cinco outras peças da setlist, das quais a mais longa é Take the Cotrane (14m) – composição que Billy Strayhorn escreveu para o histórico álbum com o mesmo título gravado por Duke Ellington e John Coltrane pela Impulse, em 1962. Na sessão do Village Vanguard, os saxofonistas Walter Smith III e Logan Richardson brindam a plateia com solos particularmente intensos, relembrando as sheets of sound coltraneanas.
As quatro faixas restantes são originais de Gerald Clayton: as hipnóticas Patience patients (11m) e A light (9m20), nas quais o pianista não esconde a influência de Cecil Taylor; Rejuvenation agenda (7m20); Envisionings (11m), a mais bluesy do programa.
Na review de Happening para a revista Jazz Times, Thomas Conrad destacou: “Não se trada de um álbum pianocêntrico, pois o conjunto é um quinteto com dois saxofones de projeção internacional. Mas as contribuições de Clayton ao piano - ao mesmo tempo transbordantes, free e líricas - são consistentemente deslumbrantes”.
Ouça A light abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=wka3IMJD9Zs
Ouça a faixa Take the Coltrane:
https://www.youtube.com/watch?v=lzQM_SVM7dM

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JOTA

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