Luiz Orlando Carneiro

Em novembro de 1967 – ainda nos meus twenties – tive o prazer de assistir no Village Theatre, Nova York, a uma hipnótica apresentação do saxofonista tenor Charles Lloyd, então com 29 anos, à frente do seu quarteto. Os outros músicos eram os ainda mais moços Keith Jarrett (piano), Jack DeJohnette (bateria) e Ron McClure (bateria). Todos estavam no início de carreiras gloriosas. Cinco meses antes, o saxofonista já tinha arrebatado a plateia do primeiro Montreux Jazz Festival, logo depois do sucesso do LP Forest Flower (Atlantic), gravado ao vivo no Festival de Monterey, California, no ano anterior, e que vendeu mais de um milhão de cópias.
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Lloyd e seus asseclas já lideravam então o que se podia chamar de a vertente hippie do jazz, figurando até em shows que incluíram, dentre outras atrações, estrelas pop tão famosas como Jimmi Hendrix e Janis Joplin. Mas depois de afastamentos da cena jazzística por períodos prolongados, para tratamentos médicos, o saxofonista tomou uma nova direção, mais contemplativa, iniciada numa série de de gravações para a ECM com o inesquecível álbum Fish Out of Water (1989). A partir deste foram 15 títulos para a sofisticada etiqueta de Manfred Eicher, até o primoroso Hagar’s Song, de 2013, em duo com o pianista Jason Moran.
Assim é que não poderia deixar de registrar e recomendar, nesta coluna, a edição de mais um achado ‘‘arqueológico’’ do selo europeu Swiss Radio Days (Volume 46): A performance daquele incrível quarteto gravada ao vivo, em 18 de junho de 1967, no acima referido primeiro Festival de Jazz de Montreux, lá na Suíça, às margens do Lago Léman, aos pés dos Alpes.
Na apresentação desse registro inesperado, o produtor e consultor Yvan Ischer comenta que, mais de cinco décadas depois, ‘‘é impressionante constatar como essa música não envelheceu’’. E que ‘‘a liberdade e o frescor exalados - embora tenham algo do emergente free jazz – jamais confundem os ouvintes que, ao contrário, são levados numa viagem deslumbrante da qual retornam transformados e ...bem melhores!’’.
A setlist do show é composta de seis peças básicas em dois CDs, entre as quais versões de mais de 20 minutos cada uma das inesquecíveis Forest flower e Sweet Georgia bright. Os outros temas são: Days and nights waiting (6m40), Lady Gabor (12m), Love ship (9m35), e Love song to a baby (12m20). É uma viagem ao passado imperdível para os jazzófilos afinados com o entendimento de que contemporâneo é tudo aquilo que resiste ao teste do tempo.
A propósito, Charles Lloyd, 81 anos feitos em março, continua ativo, com a agenda cheia de compromissos. Neste fim de mês e até o próximo dia 18 de novembro ele estará se apresentando na Europa (Suíça, Noruega, Holanda, Portugal, Espanha, França e Alemanha) à frente do seu quinteto Kindred Spirits. Estas “almas gêmeas” são jazzmen do primeiro time e bem menos idosos: Gerald Clayton (piano), Eric Harland (bateria), Marvin Sewell (guitarra) e Harish Raghavan (baixo).
(Samples deste álbum duplo:<a href="https://www.challengerecords.com/products/15682981762233" target="_blank" rel="noopener" data-saferedirecturl="https://www.google.com/url?q=https://www.challengerecords.com/products/15682981762233&amp;source=gmail&amp;ust=1572043397279000&amp;usg=AFQjCNFp1Cu7K7Fmrc0tZSat1p-hVFxiCw">https://www.challengerecords.com/products/15682981762233</a>)

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JOTA

Gravação até então inédita do quarteto do grande saxofonista com Keith Jarrett

Charles Lloyd: Swiss Radio Days, Montreux, 1967

Gravação até então inédita do quarteto do grande saxofonista com Keith Jarrett