Luiz Orlando Carneiro

Há 15 anos sem lançar um álbum autoral, desde Brazilian Breath – que chegou a ser indicado para o Grammy Latino 2002 - a saxofonista e flautista carioca Daniela Spielmann volta à cena com o CD Afinidades. Nesta última quinta-feira (18/10), o lançamento foi celebrado no clube Blue Note do Rio de Janeiro, com a reinterpretação ao vivo da maioria das 12 faixas do disco pela líder à frente do seu quarteto (Xande Figueiredo, bateria; Domingos Teixeira, guitarra, violão; Rodrigo Villa, baixo).
As notas de apresentação de Afinidades informam ser o registro fruto de dois anos de trabalho de Daniela Spielmann como compositora, arranjadora, principal solista e produtora. Além do quarteto básico, ela contou com participações especiais de Anat Cohen, a atual clarinetista número um do jazz, em duas peças, e da pianista Sheila Zagury, em cinco. E ainda, em outras faixas, de Silvério Pontes (trompete), Alexandre Romanazzi (flauta), Idriss Boudrioua (sax alto), Dudu Maia (bandolim), Beto Cazes (percussão) e Nando Duarte (violão de sete cordas). Um conjunto de cordas atua em duas partes da “suíte” Maurice et Albertine (Frugal eLa séparation).
O título da obra é assim explicado pela autora: “Afinidade, sintonia, atração, simpatia: todos sinônimos ligados à ideia de relações que despertam afeto, carinho, e amizade (…). Ocorre quando há um encontro!! Todas as músicas deste álbum são dedicadas a pessoas e situações que tenho afinidade. Compus, arranjei, toquei, e construí, ao longo de anos, músicas que tentam exprimir sem palavras, simplesmente com o som dos instrumentos, esse conceito: afinidade!”.
A saxofonista-compositora sempre foi afinada com o que há de melhor na música popular brasileira tal como criada e interpretada por seus mestres, como comprova a sua tese de mestrado em Música pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (2008), intitulada “Tarde de Chuva: A Contribuição interpretativa de Paulo Moura para o saxofone no samba-choro e na gafieira, a partir da década de 1970”.
O remelexo do samba-choro numa moldura jazzística com espaço para solos (breves) é evidente e envolvente logo nas quatro primeiras peças de Afinidade: Raxin(4m50), Amigos eternos (3m10), Pro Digão (3m45) e Xan Xan (3m10). A líder destaca-se no sax soprano, mas toca flauta na segunda. Pro Digão é dedicada ao baixista Rodrigo Villa, e conta com Silvério Pontes no flugelhorn; Xan Xan homenageia o baterista Xande Figueiredo.
A movimentada quinta faixa do álbum, 220 v (4m), tem um surpreendente prólogo na linha do free jazz, e é desenvolvida com troca de compassos e pequenos solos de Daniela (sax tenor), Pontes (trompete) e Alexandre Romanazzi (flauta). E logo adiante, a compositora brinda os ouvintes com a marcante “suíte” Maurice et Albertine, dividida em três partes (Frugal, La separation e Recommence), num total de 11 minutos (o arranjo da primeira parte é do violinista Osvaldo Carvalho, do conjunto de seis cordas reunido para a gravação).
E não se pode deixar de apreciar o sax alto do ilustre convidado Idriss Boudrioua, que sola e dialoga com a líder (flauta), mais a seção rítmica, em Mergulho(4m15).
(Samples das faixas de Afinidades em: <a href="http://www.tratore.com.br/um_cd.php?id=14039" target="_blank" rel="noopener" data-saferedirecturl="https://www.google.com/url?q=http://www.tratore.com.br/um_cd.php?id%3D14039&amp;source=gmail&amp;ust=1539956379023000&amp;usg=AFQjCNGjdOdisnWambdP7GOm21H5vIyTLQ">http://www.tratore.com.br/um_cd.php?id=14039</a>)

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JOTA

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