Luiz Orlando Carneiro

Nos dois últimos referendos anuais dos críticos da revista Downbeat, Mary Halvorson passou a liderar a lista dos melhores guitarristas de jazz em atividade, à frente de astros do porte de Bill Frisell, John Scofield e Julian Lage. O feito é notável, a partir do fato de que Miss Halvorson, 37 anos, é uma vanguardista admirada por gênios iconoclastas como Anthony Braxton (com quem estudou composição) e John Zorn. Ela já disse que gosta do “inesperado”, e faz música sem concessões documentada em selos independentes (Cuneiform, Firehouse, Tzadik).
Dentre os conjuntos liderados pela guitarrista-compositora destaca-se o trio Thumbscrew - integrado pelos excelentes Michael Formanek (baixo) e Tomas Fujiwara (bateria) – que volta às lojas e plataformas virtuais com dois álbuns da reativada Cuneiform, gravados no ano passado, e intitulados Ours e Theirs, respectivamente.
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Ours reúne nove peças assinadas pelos três músicos (três de cada um). Já o segundo (“Deles”) apresenta versões do trio, bem livres, de 10 composições de diferentes autores, das quais seis nasceram jazzísticas: Stablemates (3m40), de Benny Golson; Dance cadaverous (6m20), de Wayne Shorter; House party starting (6m05), de Herbie Nichols; The peacocks (6m50), de Jimmy Rowles; Effi (4m35), de Stanley Cowell; Weer is een dag voorbij (4m10), do pianista vanguardista holandês Misha Mengelberg (1935-2017).
As demais faixas do CD Theirs – ao qual esta coluna se limita - têm temas tão diversos como o choro Benzinho (3m25), do saudoso Jacob do Bandolim (1918-1969); East of the sun (3m20),standard do American Songbook da década de 1930; Buen amigo (2m50), um antiquíssimo tango de Julio De Caro; Scarlett ribbons (4m35), canção que teve sucesso no início da década de 1950.
Logo na primeira peça, Stablemates, a guitarrista-líder mostra as suas “garras” ao criar efeitos eletrônicos “aquáticos” com o uso do pedal eletrônico. No entanto, a fragrância melódica do tema de Golson é sentida e apreciada no decorrer da performance, em constante interação com Formanek e Fujiwara. O mesmo ocorre nas demais faixas do álbum, incluindo a recriação do chorinho de Jacob do Bandolim.
Não se trata, no caso, propriamente de free jazz. Mas de uma concepção de releitura temática ao mesmo tempo surpreendente e melodicamente “confortável”. Como ressaltou muito bem Karl Ackermann na sua review de Theirs para o site All About Jazz: “Halvorson tem um approach tão extensivo e inimitável que só faz sentido apreciá-la nos parâmetros que ela escolhe num particular momento (…). Ela sai do convencional mas sem ultrapassar suas tangentes”.
(Faixas do álbum Theirs podem ser ouvidas em: <a href="http://cuneiformrecords.bandcamp.com/album/theirs-hd-48k-24b" target="_blank" rel="noopener" data-saferedirecturl="https://www.google.com/url?hl=pt-BR&amp;q=http://cuneiformrecords.bandcamp.com/album/theirs-hd-48k-24b&amp;source=gmail&amp;ust=1531575569938000&amp;usg=AFQjCNGAHWMGE3bHvYfHivN0hOI6fjdX9w">cuneiformrecords.bandcamp.com/album/theirs-hd-48k-24b</a>)
<h3>NOVOS JAZZ MASTERS</h3>
Anualmente, desde 1982, a National Endowment for the Arts (NEA) – agência independente do Governo dos Estados Unidos – confere o título de jazz master a figuras proeminentes do jazz, em reconhecimento a suas “contribuições excepcionais” para o desenvolvimento desse modo de expressão musical.
Na semana passada, a NEA anunciou a escolha dos músicos que vão receber, cada um, o título e o prêmio de US$ 25 mil, em cerimônia a ter lugar no John F. Kennedy Center for the Performing Arts, em Washington, num concerto marcado para 15 de abril do ano que vem.
E os dois músicos escolhidos foram: o pianista-compositor Abdullah Ibrahim, 83 anos, e a compositora-arranjadora-chefe de orquestra Maria Schneider, 57.

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JOTA

Guitarrista vanguardista recria em trio temas dos "outros" no CD  

A música sempre inesperada de Mary Halvorson

Guitarrista vanguardista recria em trio temas dos "outros" no CD