Willian Gil

“O que exatamente você faz no seu dia a dia?”, “Como assim, relações governamentais e institucionais?”, “Você é político?”, “Sua profissão é legal no Brasil?”, “Como lidar com leis e regulação no país?".
Em minhas andanças profissionais pelo Brasil e pelo mundo, já me acostumei a ouvir perguntas como essas de amigos e colegas de trabalho. A curiosidade é externada das mais diversas formas e dimensões. Cada pessoa me presenteia com seu olhar, cultura e visão de mundo.
Em algumas oportunidades, essas perguntas são acompanhadas de uma pitada de criticidade: em um país onde “nem o passado é previsível”, como diria o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan, como é lidar e gerenciar riscos regulatórios? Não bastasse isso, esse mesmo contexto às vezes vem seguido de outra frase famosa por aqui (esta, com a devida vênia, vou creditar ao ditado popular): “o Brasil não é um país para amadores”.
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Confesso que comecei a gostar desses questionamentos e discussões. Mais do que isso: em que pese a dificuldade de tentar sumarizar a função de um profissional de Relações Governamentais e Institucionais, passei a organizar minha tentativa de resposta e, a cada oportunidade, deixá-la mais simples.
Assim, comecei a racionalizar:
<ul>
<li>uma definição para a atividade de um Relações Institucionais e Governamentais,</li>
<li>quais seriam os skills importantes para a cadeira</li>
<li>e, o principal, qual seria a missão do Relações Institucionais e Governamentais no contexto de representar algum interesse da sociedade civil ou de uma empresa.</li>
</ul>
Com relação à definição, o trabalho de um “RI” tem como finalidade administrar os ambientes externo e político que envolvam as atividades de um cliente. Dessa forma, monitoramos e analisamos os acontecimentos, bem como promovemos diálogo e engajamos os stakeholders, tudo para que ocorra uma convergência entre os fatos do mundo e a estratégia da empresa. É estratégia, é negócio puro!
Fazendo um paralelo, seria como construir uma ponte. Quando se constrói uma ponte, a grande ideia é permitir a passagem sobre o obstáculo a transpor. É conectar e interligar dois pontos diferentes e que estão distantes.
<blockquote class="jota-article__eye">Pois então, esse é o foco do RI: criar diálogo, conexão, interação. É diminuir o hiato entre a voz do seu cliente e o stakeholder dele – muitas vezes uma entidade governamental, que, por diversas razões, não consegue ter a mesma visão, velocidade ou clareza do mercado que o seu cliente possui.</blockquote>
Com base nisso, vamos ao ponto 2, os skills de um RI. Para construir pontes no campo governamental e institucional, eu poderia citar aqui diversas fontes, livros e estudos técnicos que muito nos enriqueceria. Mas isso pode ficar para uma próxima (que tal?) porque agora prefiro direcionar essa nossa conversa e explicar o conceito por meio de um binômio: “Conheça o seu negócio e comunique-se”.
Conhecer o negócio é a condição basilar para construir uma boa estratégia de relações institucionais e governamentais. Ter a sensibilidade de traduzir o contexto político, uma nova regulação ou até mesmo ler os desdobramentos de discussões com stakeholders é o passo essencial para prever ou antecipar crises ou oportunidades.
Circular na empresa em que você atua ou, ainda, compartilhar conhecimentos e discussões com as pessoas da sociedade civil que você representa é vital na construção do seu conhecimento de mercado.
Se você, meu leitor, perguntar o que mais me deixa satisfeito durante a minha jornada como RI, ouvirá: prever ou antecipar crises ou oportunidades para o meu cliente. Esse é o meu foco. Essa deve ser a ponte a ser construída e monitorada!
Daí, ainda falando sobre os skills essenciais, surge a comunicação. A comunicação é o fenômeno de saber se conectar e se posicionar com os seus stakeholders, suas crenças e, o principal, com transparência e tecnicidade, utilizando-se das mais variadas ferramentas que a comunicação nos proporciona.
Criando esse elo, construindo essa ponte, estará armada uma grande oportunidade para se discutir uma situação, um negócio.
A função do relações governamentais e institucionais nunca pôde ser tão redimensionada e recalculada em toda a sua trajetória como agora. A profissão já apresentou muitas glórias, como também muitos problemas graves. Mas, agora, mais do que nunca, a atividade de RI está elevando a sua importância e ratificando o interesse público da função.
Começo, então, a falar de missão, o ponto 3 de meu argumento.
<blockquote class="jota-article__eye">Antes de qualquer coisa: sempre defenda e atue fortemente com tecnicidade e transparência. Representar um pleito da sociedade civil ou de um grupo empresarial que deseja deixar um legado importante no local onde atua sempre foi uma jornada muito rica.</blockquote>
Agora, no entanto, com todos os desafios da Covid-19, os objetivos do relações institucionais se elevaram. E muito.
Estamos em um momento em que precisamos estimular a convergência e buscar diminuir as desigualdades sociais. A sociedade civil e as empresas devem, mais do que nunca, construir um legado importante nos locais onde atuam.
Em um discurso recente, Barack Obama disse algo muito legal. Ele falava em um evento chamado “Graduate Together: America Honor the High School Class of 2020”, voltado para estudantes americanos que se formaram no ensino médio neste ano e não poderão participar dos eventos estudantis por causa da Covid-19.
Em sua fala, Obama destacou o quanto a pandemia mexeu com o status quo e expôs o problema das nações – da desigualdade econômica às disparidades raciais, passando pela falta de saúde básica para quem precisa.
Isso tudo nos leva a buscar a construção das melhores pontes. Buscar a discussão de políticas públicas que sejam sustentáveis e tragam grandes retornos à sociedade.
Dizem que “está barato” investir no Brasil – só que, ao mesmo tempo, esses investimentos não acontecem no volume potencial que podemos ter por falta de segurança jurídica.
Vamos, então, estimular as pautas importantes. Toda a sociedade civil sabe da importância das reformas Tributária e Administrativa. Sabemos também quanto é importante buscar o engajamento para as discussões desses temas. E, nesse contexto, por que a função de RI não pode se tornar uma ferramenta de estímulo das discussões na sociedade civil?
Educação e informação de qualidade são elementos que podem mudar a trajetória de um país.
Vamos, então, aproveitar as lições desta pandemia. Aprender e aprender a desaprender. E repetir esse exercício quantas vezes se mostrar necessário, sem, é lógico, desprezar ou minimizar todo o nosso background.
A construção de pontes e a busca pela convergência podem ser, na prática, a grande missão e o legado a ser construído pelo “novo” RI diante dos novos desafios que o tempo nos impôs.
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***As opiniões e posicionamentos relatados nesta coluna são de responsabilidade de seus autores e não correspondem, necessariamente, ao posicionamento do IRELGOV.
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O episódio 42 do podcast Sem Precedentes analisa as acusações de Donald Trump questionando a legalidade do pleito eleitoral nos EUA. Ouça:
https://www.youtube.com/watch?v=xRgH-5h1gH8&feature=emb_title

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JOTA

Uma definição para a atividade de um Relações Institucionais e Governamentais e skills importantes para a cadeira

Construindo pontes

Uma definição para a atividade de um Relações Institucionais e Governamentais, skills importantes para a cadeira e missão.