Paulo Homem

Atualmente e nos próximos anos (ou décadas) a preservação do meio ambiente aliada à expansão da economia circular serão o centro da agenda política global. E toda vez que um tema alcança esse nível de relevância, não é suficiente apenas ser, há também de se parecer, de modo a gerar a percepção apropriada no mercado.
É justamente esse o desafio do Brasil daqui em diante. A boa notícia é que também será uma oportunidade ímpar. O país tem condições de ser um dos líderes mundiais desse processo. Para tanto, precisa jogar melhor esse jogo. Não do jeito que poderia ou deveria ser, mas do jeito como é jogado.
<div id="pro-poder-analise-politica-duplicado-4a97710080f7d951df05" role="main"></div>
<script type="text/javascript" src="https://d335luupugsy2.cloudfront.net/js/rdstation-forms/stable/rdstation-forms.min.js"></script> 
<script type="text/javascript"> new RDStationForms('pro-poder-analise-politica-duplicado-4a97710080f7d951df05', 'UA-53687336-1').createForm();</script>
Não é de hoje que o motor da economia brasileira é o agronegócio. Aliás, esse é um dos setores mais preparados para se adequar ao novo conceito ESG (Environmental, Social and Corporate Governance), que passou a apontar a direção do dinheiro a partir de agora.
Não se trata mais de uma questão exclusivamente reputacional. A nova ordem mundial determina que os investimentos serão direcionados para os negócios que respeitarem os direitos humanos, a segurança no trabalho, a diversidade e a integração com as comunidades locais onde atuam, assegurando que as iniciativas corporativas tenham relação prática com os aspectos sociais.
No que se refere à sustentabilidade, as companhias deverão reduzir suas emissões de gases de efeito estufa (ao longo da cadeia com um todo), prezar por mais eficiência energética, controlar melhor o uso da água, a gestão de resíduos etc. E, claro, manter boas práticas de governança, ética, transparência na prestação de contas e promoção efetiva das políticas de compliance.
Dentro dessa nova realidade, não é exagero dizer que o agronegócio brasileiro, de uma maneira geral, está muito bem posicionado, considerando a sua solidez e o nível de profissionalização alcançado pelas empresas. Óbvio que existem problemas a serem resolvidos, mas qual país ou setor não os têm?
Inegavelmente, o Brasil possui uma matriz energética muito mais limpa do que os países ricos. E apesar das contundentes críticas que vem sofrendo, a exportação de energias renováveis às nações mais desenvolvidas é uma realidade.
Um exemplo disso é o etanol celulósico, ou etanol de segunda geração (E2G), considerado o mais sustentável do planeta. Pois gera até 50% a mais de etanol sem aumentar a área de plantio, utilizando palha e bagaço da primeira produção, além de uma tecnologia disruptiva. Somente o Brasil produz o E2G em escala industrial.
Além do mais, essa mesma palha e bagaço advindos da cana, podem ser utilizados para gerar energia elétrica a partir da cogeração, bem como promover 
mais uma solução sustentável: os pellets. Uma alternativa renovável e que pode ser utilizada como substituto do carvão em usinas térmicas, especialmente na 
Europa. O pellet brasileiro de biomassa, ainda em estágio incipiente, vai competir 
com o pellet americano e canadense proveniente da madeira.
Mas ainda há outros subprodutos da indústria sucroenergética, notadamente a vinhaça e a torta de filtro, que quando decompostos por bactérias transformam-se em energia elétrica ou biometano (para uso como combustível) por meio do biogás.
Resíduos como esterco, cascas de frutas e restos de vegetais também podem se beneficiar dessa mesma tecnologia. No caso das usinas de cana, o potencial de geração de energia é tão grande que está sendo chamado de “pré-sal caipira”. 
Entretanto, essas e inúmeras outras iniciativas não mencionadas aqui não são suficientes para colocar o Brasil numa posição de liderança global nesse movimento ESG. Também não basta apenas proteger a Amazônia.
O Brasil precisa emitir mensagens mais incisivas sobre a preservação do meio ambiente.
<blockquote class="jota-article__eye">O fato de outros países não terem cuidado da natureza no passado não dá ao Brasil uma espécie de imunidade ambiental. Ao contrário, aumenta ainda mais a responsabilidade e a pressão sobre a região amazônica.</blockquote>
Ou seja, mais que ações efetivas de preservação, o país tem de aprender a enfrentar esse jogo da comunicação no âmbito internacional. Uma narrativa bem construída acompanhada de ações concretas e visíveis podem mudar percepções, opiniões e fazer aliados.
Para converter esses fatores em resultados mais destacados, faz-se necessário um outro elemento dessa ação coordenada em prol de um futuro mais verde e próspero: a atuação da política externa governamental. No sentido de buscar a celebração de bons acordos comerciais, com menos barreiras para o desenvolvimento dos negócios e com mais competitividade para os produtos nacionais.
Um ambiente de negócios mais amigável facilitará também a venda de tecnologia, a partir, por exemplo, do reaproveitamento de subprodutos para a geração de energia limpa – a tal da economia circular.
Nas décadas de 1980 e 90, o estado de São Paulo incentivou a substituição do consumo de combustíveis fósseis pelo uso do etanol. Em pouco tempo, a poluição em São Paulo deixou de ser um problema grave. Muita gente conhece essa história. Mas a maioria das pessoas não conhece e deveria conhecer.
Vale mencionar que o etanol carburante proveniente da cana-de-açúcar reduz, em média, 89% a emissão de gases responsáveis pelo efeito estufa, se comparado com a gasolina, de acordo com a Agência Internacional de Energia.
Hoje a gasolina vendida no Brasil tem na sua composição 27,5% de etanol. Esse combustível emite 131,4g de CO2 por quilômetro rodado. Já o carro abastecido apenas com etanol (hidratado) emite 36,9g de CO2/km. Se a gasolina nacional não tivesse esse considerável percentual de etanol, a emissão seria de 155,6g de CO2/km, segundo dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA).
Em suma, não existe uma receita, mas preservar e defender a Amazônia somado ao desenvolvimento de mais tecnologia em energias renováveis e em bioeconomia, uma boa estratégia de comunicação e um advocacy internacional eficiente colocará o Brasil como um dos líderes mundiais em sustentabilidade e, consequentemente, como uma nova potência global.
Os maiores beneficiados com tudo isso seremos todos nós, e, sobretudo, as próximas gerações, que poderão respirar e viver num mundo melhor. Depende somente do próprio país se posicionar como protagonista dessa transformação, e não meramente como mais um expectador.
***As opiniões e posicionamentos relatados nesta coluna são de responsabilidade de seus autores e não correspondem, necessariamente, ao posicionamento do IRELGOV.
<hr />
O episódio 46 do podcast Sem Precedentes discute se o contrato de trabalho intermitente é ou não constitucional. Ouça:
https://youtu.be/o8E3sXtx7j0
<hr />

tributário

https://images.jota.info/wp-content/uploads/2021/09/copy-of-jota-logo-high-cmyk.jpeg

JOTA

As mensagens emitidas pelo Brasil e as consequências da preservação do meio ambiente

ESG, uma oportunidade única para o Brasil

As mensagens emitidas pelo Brasil e as consequências da preservação do meio ambiente