Milton Seligman

Ngaire Woods é uma intelectual brilhante. Reitora e fundadora da Escola de Governo Blavatnik da Universidade de Oxford, essa neozelandesa é professora de Governança Econômica Global e autoridade respeitada mundialmente em gestão do Estado e formação de lideranças para o setor público. Ngaire conhece o nosso país e tem boas relações com intelectuais, empresários e acadêmicos brasileiros.
Esta semana ela foi convidada para falar na abertura do Encontro da Coalizão organizado por quatro importantes organizações do Terceiro Setor. Na oportunidade, disse que há duas boas razões para sermos otimistas nos dias de hoje mesmo que o mundo esteja de cabeça para baixo por conta da pandemia e das consequências humanitárias, sociais e econômicas provocadas pela Covid-19.
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A primeira razão, segundo ela, é que há uma colaboração sem precedentes entre os setores público e privado para enfrentar os desafios que o mundo tem pela frente.
A segunda razão é que, em muitos lugares do planeta, o setor público está se transformando rapidamente, de modo a responder com a rapidez requerida as demandas da sociedade. Cada vez mais a sociedade percebe o Estado como um grande prestador de serviços em áreas essenciais para a vida comunitária.
Mesmo que nós brasileiras e brasileiros estejamos metidos em debates muito polarizados, o que nos dificulta perceber qualquer movimento que não alimente o debate entre os polos, acredito que o otimismo de Ngaire também possa ser percebido por aqui.
O Encontro da Coalizão foi organizado pela Fundação Brava, Fundação Lemann, Instituto Humanize e República.org, dando continuidade a um trabalho iniciado em 2017. Naquela oportunidade as quatro organizações se uniram e convidaram pessoas dos mais variados espectros políticos, ideológicos e com diferentes formações para debater e buscar caminhos para transformar o setor público, fazendo com que seja mais efetivo na prestação de serviços, no desenho, na implementação e na avaliação de políticas públicas de qualidade.
Uma das principais conclusões dos muitos encontros que ocorreram desde então foi que todo esse desejo de melhoria e superação do setor público passa pela gestão estratégica de pessoas. Esse deveria ser o foco do trabalho.
O encontro desta semana reuniu um grupo amplo e diversificado, somando muita experiência com boa formação acadêmica sobre os temas debatidos.
Durante três dias, encontrarem-se virtualmente, nove governadores, senadores, deputados federais, deputados estaduais, funcionários graduados do governo federal e de governos estaduais, dirigentes do Ministério Público Federal e de outros órgãos de controle, acadêmicos, especialistas, dirigentes sindicais e também representantes de diversas organizações da sociedade civil.
Os debates aprofundaram as difíceis questões e os intricados dilemas que envolvem a condução e o acerto de rumo do Estado no Brasil. O objetivo de todos os participantes era o de avançar em direção a propostas concretas, que possam se transformar em realidade normativa dentro das instituições de nosso Estado Democrático de Direito.
O trabalho está longe de ser concluído, mas não há como não comemorar os avanços e o engajamento de todos os presentes e das organizações que representam em seguir juntos para encontrar caminhos e construir maiorias em torno de ideias novas e boas.
O grupo continuará reunido, em torno do “<a href="https://movimentopessoasafrente.org.br/">Movimento Pessoas à Frente: juntas por um melhor Estado</a>”, um espaço de debate qualificado e plural para consolidar experiências e entendimentos que possam prosperar e melhorar a prestação dos serviços públicos no Brasil.
Os participantes elegeram alguns temas que compõem o grande conjunto de assuntos referentes à gestão de pessoas no setor público, como políticas para atração, seleção e desenvolvimento de lideranças, gestão do desempenho e desenvolvimento de carreiras, segurança jurídica para gestores, modelo de unidades centrais de gestão de pessoas, entre outras.
O mais espetacular desses encontros é que eles aconteceram, podem acreditar, em um ambiente de debate não polarizado e respeitoso onde os participantes puderam expor suas ideias com dignidade, defender com segurança seus pontos de vista e, assim, aprofundar discussões que permitirão consolidar propostas concretas, que breve poderemos ver no debate público.
Lembro da mensagem da professora Ngaire Woods e de seu otimismo.
Por outro lado, reparo nas redes sociais e vejo pessoas polarizadas, brigando e se “lacrando”, quase sempre divididas entre “o inseto e o inseticida”. Percebo nessas discussões defesas de propostas simplistas para problemas complexos, sem qualquer preocupação de mostrar evidências ou apresentar dados para suportar as defesas radicais e agressivas.
O otimismo de Ngaire depende também de um outro trabalho. A sociedade brasileira deverá mostrar capacidade para sair fora da bolha polarizada e conseguir colocar na agenda do debate público os temas centrais que impedem o desenvolvimento sustentável do Brasil. Deverá, principalmente, contar com pessoas capazes e dispostas a trabalhar muito, debater muito e construir propostas para que o nosso país possa avançar.

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JOTA

Brasil precisa contar com pessoas capazes e dispostas a trabalhar muito, debater muito e construir propostas para que país avance

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