Inovação

Startups versus BigTechs: uma batalha de Davi e Golias no setor público

Apesar do Brasil estar em 4º lugar no Índice Govtech do CAF, a realidade das startups é desafiadora

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Crédito: Unsplash
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Em um cenário de aumento da demanda por serviços públicos e crise fiscal, fazer mais com menos é justamente o que o Estado precisa e o que as startups podem oferecer. O potencial das govtechs para melhorar a qualidade do serviço público é enorme e elas conseguem fazer isso de forma muito mais ágil e com custos menores, em razão da própria cultura de inovação que as impulsiona. 

A implementação de serviços digitais em países como o Brasil pode gerar um aumento de 5,7% no PIB anual, bem como economizar 97% dos custos com atendimento e serviços públicos, reduzindo em 146,8 milhões de horas por ano perdidas com a burocracia, segundo o Secretário de Governo Digital do Ministério da Economia, Luis Felipe Monteiro.

As novas tecnologias desenvolvidas pelas startups podem minimizar o Estado a um ponto em que ele se torne praticamente invisível em nossas vidas e ao mesmo tempo maximizá-lo do ponto de vista da oferta de serviços de qualidade para todos os cidadãos. O grande desafio está em encontrar um caminho para conseguir escalar soluções envoltas em incerteza no setor público. Afinal, escalabilidade e incerteza são as bases conceituais das startups.

Porém, poucas startups tem maturidade o bastante para utilizar a nossa densa legislação a seu favor, como o fazem as grandes empresas de tecnologia que atuam no setor público, por isso acabam tendo de suportar longos períodos sem investimento para colocarem suas soluções a prova.

As bigtechs, por sua vez, levam vantagem apoiadas em relações públicas que foram sendo construídas ao longo de décadas. A IBM opera no Brasil desde 1917 e o primeiro computador brasileiro foi adquirido pela Prefeitura de São Paulo em 1957. Para se ter uma noção de grandeza desse mercado, somente no ano de 2019 foram licitados mais de R$ 8 bilhões em softwares no Brasil.

Como o próprio TCU sinaliza, a aversão ao risco combinada com o falta de know-how técnico para a contratação de soluções de base tecnológica gera insegurança jurídica e impõe obstáculos tanto para a fase de testes como para a efetivação da contratação de startups por entes públicos. Esta barreira de entrada acaba sendo um dos motivos pelos quais há tão poucos investidores dispostos a atuar no setor de govtechs

A questão é a dificuldade das startups em estágio inicial de ideação acessarem esse mercado como concluiu o Relatório do Banco de Desenvolvimento da América Latina sobre govtechs publicado recentemente: “Se percebe uma alta dependência das BigTechs e certo medo de contratar empresas novas devido à preocupação por sua história e pela duração dos contratos ante o curto período de tempo destas empresas”.

Mas este não é um problema específico do governo brasileiro, nos EUA segundo investigação do Subcomitê Antitruste da Câmara dos Representantes: “as maiores corporações de tecnologia alavancam seu domínio e isso sufoca a inovação”. O relatório de 449 páginas sugere ao Congresso medidas mais rígidas para minimizar o impacto negativo que as bigtechs causar ao livre mercado, compardando-as aos “magnatas do petróleo e das ferrovias”.

No Brasil existe pouco espaço de aproximação entre empreendedores com soluções inovadoras de governo e os gestores públicos com poder de contratá-las. Apesar de haver um mercado gigante para govtechs, o monopólio das grandes empresas de tecnologia, públicas e privadas, torna muito baixas as chances das startups, principalmente as early stage, validarem e escalarem suas soluções.

A história poderia ser diferente se houvessem mais oportunidades para startups em fase de testes como o PitchGov do governo do Espírito Santo e o IdeaGov de São Paulo. Ou ainda, se as próprias gigantes da TI incentivassem programas de Aceleração de Startups, como é o caso da AWS, que apoia o Programa de Aceleração do BrazilLab e mantém um programa de parceria com startups que desenvolvem soluções exclusivas e inovadoras para governos como a 1Doc e a Meryt.

As bigtechs podem oferecer mais confiança aos entes públicos para a validação de soluções inovadoras criadas por startups do segmento das govtechs. Essa sinergia de grandes players da tecnologia com as lean startups pode ser a chave para impulsionar a inovação aberta no setor público. Com mais incentivos governamentais e abertura das bigtechs para as startups atuarem no setor público, quem ganharia a batalha entre Davi e Golias seria toda a sociedade.