Estúdio JOTA

No próximo mês, serão realizadas eleições municipais no Brasil para eleger as próximas lideranças de prefeituras e câmaras municipais. Essa é mais uma oportunidade de enfrentar a desigualdade de gênero na política, desafio que demanda uma combinação de esforços – desde fomentar a participação feminina nos espaços de poder até assegurar que elas estejam seguras. 
Logo no registro das candidaturas, as mulheres largam em minoria. As 155 mil candidatas neste ano representam um terço do total de pessoas buscando se eleger no Brasil, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) – desta vez, mais da metade delas são negras. 
A questão é que, a contar pelas últimas eleições municipais, a representação de gênero e raça cai ainda mais quando se observa quem de fato é eleito. Embora as mulheres componham 51,5% da população, elas são prefeitas de apenas 12% dos municípios. 
Já as mulheres negras são 28% da população, mas governam 4% dos municípios. Quando consideradas as capitais, apenas Palmas (TO) tem uma mulher como prefeita. Isso é o que mostra o <a href="https://prefeitas.institutoalziras.org.br/censo/">Censo das Prefeitas Brasileiras (mandato 2021-2024), do Instituto Alziras</a>.
<img class="wp-image-514107 size-large" src="https://portal.jota.info/wp-content/uploads/2024/09/01-prefeituras-1024x1024.png" alt="" width="1024" height="1024" /> Infográfico: Gabriela Sales/JOTA
O mesmo quadro se reflete nas câmaras locais. No último ciclo de eleições municipais, em 2020, das 5.568 cidades que foram às urnas, 933 não tiveram sequer uma candidata eleita ao cargo de vereadora. 
Em outras palavras, nesses locais, apenas homens tomaram as decisões da política legislativa local desde então. E, do total de eleitos para as câmaras municipais no Brasil todo, apenas 16% eram mulheres. 
“Historicamente, no Brasil temos esse desafio político da representatividade e da proporcionalidade. E é importante falar desses fatores quando pensamos em democracia plena: representatividade pode ser única, mas não é bom ter só uma mulher, pessoa negra, trans ou indígena no espaço de poder. Essas pessoas precisam estar proporcionalmente representadas”, diz Vitória Régia da Silva, presidente e diretora de conteúdo da Gênero e Número, que produz conteúdos orientadas por dados abordando questões de gênero e raça.
<img class="wp-image-514106 size-large" src="https://portal.jota.info/wp-content/uploads/2024/09/02-camaras-municipais-1024x1024.png" alt="" width="1024" height="1024" /> Infográfico: Gabriela Sales/JOTA
Nessa linha, não bastaria uma representante, mas uma composição mais parecida à observada na sociedade brasileira. “A politica ainda tem uma cara branca, de homens cisgênero e que vem de um legado de poder. Precisamos mudar essa realidade para que a política tenha mais a cara da nossa população”, adiciona. 
<h3>Tomada de ação</h3>
Para contribuir com o debate e a mudar esse cenário, “Mulheres na Política” é o tema central da segunda temporada do <a href="https://www.youtube.com/channel/UCGqPVVWcEloMSIRKk4n8oYw">videocast Substantivo Feminino</a>, uma iniciativa do YouTube Brasil que tem como objetivo fomentar discussões sobre a mulher na sociedade. A Gênero e Número é uma das parceiras, e o projeto soma esforços ainda com a Rede Mulher Empreendedora, o InternetLab e a CaseFala. A produção é da Dia Estúdio.
A temporada atual apresenta episódios que discutem sobre mulheres negras no poder, jovens na política, desinformação e violência de gênero, e sobre os três anos da lei contra a violência política de gênero. 
E o lançamento da segunda temporada foi marcado por um encontro com mulheres com poder na República. Assista às discussões completas desse evento no canal do JOTA no YouTube ou a seguir. 
<iframe title="YouTube video player" src="https://www.youtube.com/embed/w7SNZnW1tDs?si=bTbcO_d-YzXcg6iH" width="560" height="315" frameborder="0" allowfullscreen="allowfullscreen"></iframe>
“Todos os dias, milhões de pessoas acessam o YouTube para se informar, se inspirar ou apenas se divertir. As mulheres são uma parte fundamental da nossa plataforma, cuja missão é dar voz a todas as pessoas e mostrar o mundo a elas. São mulheres que encontram no YouTube uma ferramenta de expressão, de acesso à informação, uma fonte de receita ou mesmo um espaço para compartilharem suas paixões”, diz Alana Rizzo, líder de Políticas Públicas do YouTube.
Por isso, há o compromisso de construir uma plataforma mais segura para as mulheres. “O lançamento da segunda temporada do Substantivo Feminino reforça a responsabilidade do YouTube no incentivo e contribuição com a criação e divulgação de conteúdo de qualidade, apoiando a conscientização e o combate ao discurso de ódio e violência de gênero na plataforma, tão importantes em um ano eleitoral”, complementa Alana.
O primeiro episódio, “Mulheres Negras no Poder”, já está disponível no canal do videocast no YouTube. Ele é dividido em duas partes. A primeira delas é uma conversa com a criadora de conteúdo Bielo Pereira e a CEO do ID_BR, escritora e conselheira Luana Genot. 
<iframe title="YouTube video player" src="https://www.youtube.com/embed/sJe5Q4TvE6U?si=N5xUfTBn6TmG9TA6" width="560" height="315" frameborder="0" allowfullscreen="allowfullscreen"></iframe>
A segunda parte é uma entrevista com a deputada federal Taliria Petrone. Ela se destacou como a primeira parlamentar a usufruir da licença maternidade, um marco na luta por direitos das mulheres na política.
“Mulheres na política é uma necessidade da democracia. Mulheres negras e mães na política também são. Quando eu olho os parlamentares com seus ternos, imagino quem cuida dos seus filhos, quem prepara a comida, quem passa suas roupas”, disse Talíria Petrone, deputada federal pelo Rio de Janeiro, professora e ativista, em entrevista para a segunda temporada do videocast. 
<iframe title="YouTube video player" src="https://www.youtube.com/embed/Wkf1CQb3t9M?si=U3xi0aSWBpbHGjE1" width="560" height="315" frameborder="0" allowfullscreen="allowfullscreen"></iframe>
“Eu acho que a ocupação das mulheres, que são quem sustenta a vida do planeta, no espaço de poder é muito determinante para a democracia porque elas apresentam demandas da maioria do povo, que muitas vezes ficam secundarizadas quando não há essa representatividade na política. O nosso corpo no espaço de poder revela a necessidade de políticas públicas que são esquecidas”, acrescentou ela. 
<img class="wp-image-514119 size-large" src="https://portal.jota.info/wp-content/uploads/2024/09/fc-00297-1024x684.jpg" alt="" width="1024" height="684" /> Aline Osório (Secretária-Geral do Supremo Tribunal Federal), Mary del Priori (historiadora e escritora), Basília Rodrigues (jornalista e analista política), e Ana Fontes (empreendedora social fundadora Rede Mulher Empreendedora) | Foto: Divulgação/ YouTube
Os próximos episódios contam com as participações das convidadas: Nath Braga, criadora e jornalista; Jady Verissimo, ativista pela educação; Leticia Bahia, diretora executiva da Girls Up Brasil; Aline Osorio, secretária-geral do Supremo Tribunal Federal; Basilia Rodrigues jornalista e analista política; Mary del Priore, historiadora e escritora. 
Também participam Raquel Branquinho, procuradora regional da República na 1ª Região; Carla Akotirene, doutora em Estudos Feministas, pesquisadora de gênero e raça e escritora; Ilana Trombka, diretora-geral do Senado Federal; Benedita da Silva, deputada federal; e Sônia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas. 
<img class="wp-image-514118 size-large" src="https://portal.jota.info/wp-content/uploads/2024/09/foto-89-1024x683.jpg" alt="" width="1024" height="683" /> Bielo (criadora de conteudo), Luana Genot (CEO do ID_BR, escritora e conselheira) e Ana Fontes | Foto: Divulgação/ YouTube
<h3>Os desafios para virar esse jogo</h3>
Mais da metade da população brasileira é composta por mulheres. No Brasil, a taxa de presença para votar é maior entre o eleitorado feminino, e elas são maioria dentro da parcela dos eleitores que não são obrigados a votar – jovens de 16 e 17 anos e pessoas com mais de 70 anos.  Até entre os mesários são maioria. Por que então a subrepresentatividade delas e de outros grupos minoritários, como negros, indígenas e pessoas LGBTQIA+?
“Foi criado um ideal de neutralidade, ou de normalidade, para um grupo específico: homens brancos, cisgêneros, heterossexuais, do Sudeste e Sul do país. Como se eles representassem a norma e interesses mais amplos. Outras populações são vistas como se refletissem apenas os interesses e demandas dos próprios grupos, o que não é verdade”, explica Vitória Régia. 
“Percebemos uma certa resistência de homens votarem em mulheres, e pessoas brancas votarem em negras. Isso porque elas pensam que esses grupos não representam interesses de toda a sociedade. Precisamos mostrar que tê-los no poder é gerar equidade e justiça social para todo mundo”, defende ela.
<img class="wp-image-514112 size-large" src="https://portal.jota.info/wp-content/uploads/2024/09/03-vereadoras-1024x1024.png" alt="" width="1024" height="1024" /> Infográfico: Gabriela Sales/JOTA
Somam-se a essa resistência de parte do eleitorado também outros desafios para elas se elegerem. As mulheres ainda recebem menos apoio de seus partidos para fazer campanha, por exemplo. E mesmo que, desde 2009, exista uma regra prevendo que as legendas lancem 30% de candidaturas femininas, o TSE ainda tem julgado diversos casos de fraude, com chapas fictícias de mulheres. 
Para quem chega ao poder mesmo sob essas limitações, o cenário também pode ser ameaçador. O Instituto Alziras ouviu 42% das 673 prefeitas em exercício, incluindo antigas vices que assumiram prefeituras. Quando perguntadas sobre os obstáculos que enfrentam ao ser mulher na política, 47% citaram a falta de recursos para a campanha; 34%, o desmerecimento de seu trabalho ou de suas falas; 26%, assédio e violência no espaço político; entre outras questões. 
Além desses, outro dado revelador: 58% afirmam ter sofrido assédio ou violência política pelo fato de ser mulher. Um aumento de 5 pontos percentuais em relação às prefeitas do mandato anterior – sinal de que elas têm sido mais violentadas ou, de outro modo, têm sabido identificar melhor as situações.
“A própria definição de violência política é uma conquista recente para as mulheres. Há pouco tempo, a noção de que disputas violentas eram apenas parte do cenário político ocultava o fato de que mulheres, pessoas negras, LGBTQIAP+ e outros grupos historicamente marginalizados são o alvo prioritário de situações violentas que almejam afastar esses mesmos grupos da política institucional”, afirma Fernanda K. Martins, antropóloga e diretora de pesquisa do InternetLab.
Na visão dela, reconhecer que esse fenômeno ocorre não só nos espaços físicos, mas também nas redes sociais foi outro passo recente no reconhecimento do problema. “Termos mulheres que atuam na política identificando que foram vítimas de situações de violência política sinaliza um progresso no sentido de compreensão social de que esse é um problema que precisa ser enfrentado”, avalia a pesquisadora.
<h3>A violência política de gênero</h3>
Por isso, é fundamental tomar cuidados para garantir a permanência das mulheres no poder, uma vez que elas sofrem com mais cobranças e violências. É o que aponta a <a href="https://internetlab.org.br/pt/noticias/internetlab-e-redes-cordiais-lancam-cartilha-para-o-enfrentamento-da-violencia-politica-de-genero-e-raca/">“Cartilha para o enfrentamento da violência política de gênero e raça”</a>, guia realizado pelo InternetLab e Redes Cordiais com apoio do YouTube e que reúne um panorama do fenômeno da violência política, principais marcos normativos e canais de denúncia.
Na definição trazida pelo material, “a violência política consiste em agir ou deixar de agir, propositalmente, a fim de dificultar ou impedir que uma pessoa ou grupo de pessoas exerça os seus direitos políticos (antes, durante ou após as eleições)”. Esta prática acontece quando se tenta interferir no modo como as eleições ou atividade política ocorre. E a internet é um espaço comum para esses ataques. 
Ainda segundo a cartilha, em 2020, 98,5% das candidatas negras entrevistadas relataram ter sofrido pelo menos um tipo de violência política. Em 2022, sete casos de violência política de gênero foram registrados a cada 30 dias. 
<img class="wp-image-514111 size-large" src="https://portal.jota.info/wp-content/uploads/2024/09/04-obstaculos-1024x1024.png" alt="" width="1024" height="1024" /> Infográfico: Gabriela Sales/JOTA
A Lei de Violência Política de Gênero (14.192/2021) e a Lei dos Crimes contra o Estado Democrático de Direito (14.197/2021) foram passos na tentativa de prevenir, reprimir e combater a violência política durante as eleições e no exercício de direitos políticos e de funções públicas. 
A violência política contra mulheres pode acontecer de múltiplas formas, tanto online, quanto offline. Tentativas de silenciamento, violência física, ataques verbais em plenário ou em eventos políticos são alguns dos exemplos da forma como essa violência pode ser expressada no campo. 
“Mas, em um contexto em que o debate político e eleitoral acontece cada vez mais através da internet, o que vemos é uma expansão do uso dessa ferramenta para atacar e ofender candidaturas, especialmente de mulheres e pessoas de grupos historicamente marginalizados”, explica Clarice Tavares, coordenadora de pesquisa do InternetLab. 
Os dados do MonitorA, observatório de violência política nas redes sociais conduzido pelo InternetLab, Revista AzMina e Núcleo Jornalismo, apontam que as candidatas são atacadas em diferentes plataformas simplesmente por serem como são – devido aos seus corpos, seus marcadores e sua intelectualidade. 
“Nomear, identificar e denunciar a violência política que acontece na internet, especialmente direcionada às mulheres e pessoas de grupos minorizados é fundamental para o fortalecimento da democracia e para garantir que as redes sociais sejam benéficas para as campanhas políticas. Assim, iniciativas como o Substantivo Feminino e tantas outras que buscam jogar luz nesse fenômeno são fundamentais para o enfrentamento à violência política de gênero”, pontua Clarice.     
<img class="wp-image-514120 size-large" src="https://portal.jota.info/wp-content/uploads/2024/09/mg-9105-1-1024x683.jpg" alt="" width="1024" height="683" /> “Cartilha para o enfrentamento da violência política de gênero e raça”, guia desenvolvido pelo InternetLab e Redes Cordiais com apoio do YouTube | Foto: JOTA
<h3>Na conquista da igualdade de gênero e raça, todos podem ganhar</h3>
Além da garantia dos direitos políticos, a importância de ter mais mulheres na política também se dá por elas estarem preocupadas com questões que afetam a qualidade de vida de toda a população. Um exemplo é que 53% das prefeitas consideram que as mudanças climáticas e o aquecimento global são questões importantes para seus municípios, mostrou o censo do Instituto Alziras.
Um reflexo prático é que cidades governadas por mulheres tiveram 44% menos mortes e 30% menos internações por Covid-19 em 2020, apontou um estudo realizado por pesquisadores do Insper, da Universidade de Barcelona e da Universidade de São Paulo. 
A boa notícia é que, ainda a passos lentos, as mulheres têm assumido mais posições de liderança política. O <a href="https://www.justicaeleitoral.jus.br/tse-mulheres/">TSE Mulheres</a>, portal que reúne estatísticas sobre eleitorado e participação feminina na política, mostra que o número de mulheres na política vem crescendo. Nas eleições municipais, o número de mulheres entre o total de eleitos subiu de 13% em 2016 para 16% em 2020. Nas eleições gerais, a mudança foi de 16% em 2018 para 18% em 2022.  
“As pessoas que já estão lá às vezes entram na política sem ter formação técnica para isso e vão aprendendo. Então, essa história de que existe um abismo entre a política e eu é ilusória. As barreiras são institucionais, mas nós não temos uma natureza diferente de quem está lá. Podemos construir essa trajetória política para nós também”, disse Letícia Bahia, psicóloga, diretora executiva da Girl UP Brasil e co-fundadora da revista AzMina no episódio “Como trazer mais mulheres jovens para a política”, da segunda temporada do Substantivo Feminino.

00-thumb

https://images.jota.info/wp-content/uploads/2021/09/copy-of-jota-logo-high-cmyk.jpeg

JOTA

Participação feminina na política é tema da segunda temporada do videocast Substantivo Feminino, promovido pelo YouTube

Mulheres cobram mais apoio e segurança para se manterem na política

Este conteúdo foi pautado e editado pelo patrocinador.