Engenheiras da empreiteira responsável pelas obras da linha laranja do Metrô de São Paulo, que sofreu desmoronamento na Marginal Tietê no início de fevereiro, obtiveram uma liminar contra o Twitter pelo compartilhamento de vídeo sexista na rede. Entretanto, a publicação do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente da República Jair Bolsonaro, continua no ar.
Os autores do vídeo editaram imagens de uma campanha da Acciona, empresa que conduz a construção desse trecho do Metrô, em favor da contratação de mulheres para atuar no projeto. Enquanto as mulheres falam, foram inseridas cenas do desmoronamento e uma trilha sonora. A conotação é que a seleção das profissionais teria sido a responsável pelo incidente.
Em seu post, Eduardo Bolsonaro diz: “‘Procuro sempre contratar mulheres’, mas por qual motivo? Homem é pior engenheiro? Quando a meritocracia dá espaço para uma ideologia sem comprovação científica o resultado não costuma ser o melhor”. Hoje, a publicação dele tem 2,5 mil retuítes e 12,3 mil curtidas.
O filme original é de 2020 e mostra entrevistas com as profissionais selecionadas pelo programa de inclusão; constam os nomes e cargos delas, que aparecem também na versão reeditada.
O grupo de engenheiras foi à Justiça contra o Twitter para que todas as postagens com o vídeo fossem retiradas do ar, pois atacariam a imagem delas e da totalidade de mulheres que atuam no setor de infraestrutura.
Na decisão liminar, do final de fevereiro, a juíza Luciana Biagio Laquimia, da 17ª Vara Cível de São Paulo, ordenou a retirada imediata das publicações de Eduardo Bolsonaro e do empresário Luciano Hang, que também ajudou a viralizar o vídeo e foi citado no pedido das mulheres.
A magistrada não concedeu a remoção imediata dos retuítes, pois não haviam sido indicadas as URLs – ela afirma que, de todo modo, eles perderiam validade com a indisponibilidade dos posts originais. A multa pelo descumprimento da medida pelo Twitter acarretaria multa diária de R$ 1 mil; o limite seria R$ 100 mil. Apenas o post de Hang está indisponível.
Em fevereiro, logo após a divulgação do vídeo pelo deputado, a empreiteira, entidades de classe e do setor, além de organizações da sociedade civil repudiaram o vídeo publicado por Eduardo Bolsonaro. A conta dele chegou a ser bloqueada temporariamente, mas a plataforma informou à Folha de S. Paulo que se tratou de um erro.
Assim, as profissionais resolveram acionar a Justiça. “Considerando o alto potencial lesivo do vídeo postado no Twitter, que destila conteúdo de estereótipos machistas disfarçado em ‘piadas e brincadeiras’, maneiras conhecidas e ultrapassadas para reforçar preconceito e discriminação, faz com que sua manutenção nas redes sociais gere danos cada vez mais intensos”, diz o pedido das engenheiras, representadas pelos advogados Mariana Chiesa, Maís Moreno, Lucas Cherem de Camargo Rodrigues e Lara de Coutinho Pinto, do escritório Manesco, Ramires, Perez, Azevedo Marques, de São Paulo.
Elas afirmam que a plataforma mantém por opção própria o vídeo postado por Eduardo Bolsonaro em seu ecossistema, mesmo após o conteúdo ter sido analisado pela moderação interna, o que ainda estaria expondo dados pessoais das mulheres.
Procurado pela reportagem, o Twitter informou que não comenta casos judiciais em andamento.