Por dentro do JOTA

O que QA pode aprender com o jornalismo

No convívio com o jornalismo, é possível aprender como desenvolver soluções de tecnologia com qualidade

Integração de tecnologia e conteúdo na Redação de Brasília | Arquivo pessoal

Dentre as vantagens de se trabalhar na área de tecnologia, para mim, uma das maiores é a possibilidade de estar inserida nos mais diversos contextos. Mas calma aí… faça uma pequena pausa, volte ao início deste texto e troque “tecnologia” por “jornalismo”. A minha conclusão ao refletir sobre isso?! Tecnologia e jornalismo são áreas tão parecidas e tão diferentes que só podem ser irmãs. Além disso, sempre andaram tão juntas que são, no mínimo, melhores amigas [e já ouvi dizer que um melhor amigo pode ser o pior inimigo].

Em tempos de “’Mas é verdade? Claro, recebi o vídeo no Whatsapp”, é notável que a combinação entre tecnologia + informação sem qualidade resulta na rápida disseminação de  desinformação, manipulação e, no fim, só atrapalha. Da mesma forma, de que adianta escrever a melhor matéria do mundo se o site não carrega, o link redireciona para a página errada ou até se o aplicativo dá erro? Pois bem, qualidade é um fator chave para essa união dar certo.

Academicamente, eu me formei em engenharia de software e passei um tempo na universidade aprendendo sobre processos, metodologias e melhores práticas para a construção de produtos de software. No JOTA, quando decidimos internalizar a área de tecnologia, eu recebi o convite para trabalhar com um desafio novo: a garantia da qualidade. Eita, minha nossa… É agora que a gente usa aquelas siglas que eu aprendi na faculdade? TDD? BDD? O que preciso testar? Quando testar? Qual ferramenta usar? Se um bug for parar em produção, a culpa é minha? [e como diriam os Beatles: Help!]

Ainda bem que, quando o assunto é entrega de qualidade, eu posso dizer que tive excelentes professores: os jornalistas [melhor time de conteúdo]! Conviver na redação, certamente, me ensinou muito sobre qualidade.

Então, vamos lá, a analista de qualidade do JOTA está aqui para falar sobre: em tempos de fake news o que é preciso para desenvolver soluções de software com qualidade?

1. Conheça seu público-alvo!

Será que faz sentido publicar um texto sobre futebol em uma editoria direcionada à cobertura de justiça ou liberdade de expressão? E lingerie e STF, será que são assuntos que combinam? Pois bem, uma notícia pode ser redigida de formas diferentes a depender do público a quem é direcionada e um bom jornalista precisa sempre ter em mente: o assunto é do interesse de quem vai ler? Então escreva o que importa!

No processo de desenvolvimento de software, a premissa é a mesma. Garantia da qualidade começa aqui: conhecer os envolvidos (aka. stakeholders), bem com as suas reais necessidades, é a base para construir uma solução útil, relevante e, muitas vezes, inovadora.

2. Apure bem os fatos!

Não basta simplesmente descobrir um fato… Um repórter precisa saber sobre o que está falando e, nesse caso, as fontes influenciam muito. Uma fonte confiável pode ser sinônimo de um furo, da mesma forma que uma fonte duvidosa pode ser sinônimo de fake news. Talvez o pior seja quando uma fonte diz uma coisa, o jornalista não checa a informação e acaba interpretando e publicando uma notícia de maneira errada.

Existe um cenário clássico quando se trabalha com desenvolvimento, e acontece assim: o cliente diz que deseja X, a equipe de produtos/negócios entende Y e a equipe de tecnologia entrega “pastel de goiaba”. O que faltou aqui? Uma boa apuração dos fatos ou, no nosso caso, dos requisitos.

A qualidade na elicitação de requisitos e planejamento do escopo de um produto é  peça chave para garantir que não estamos construindo apenas uma solução, mas sim uma solução que importa.

Mas na vida de uma analista de qualidade uma boa apuração dos fatos vai além da fase de requisitos. Considerando que o mundo não é perfeito, faz parte da vida do software apresentar bugs. Descobrir um bug é importante, mas a boa apuração é essencial para que a analista de qualidade não só comunique a necessidade de correção, mas contribua efetivamente com a solução do problema. Se você descobriu um problema, tente responder: como acontece? Quando acontece? Onde acontece? Desde quando acontece? Por que acontece? E como deveria acontecer? 

3. Comunicação clara!

Sabe qual é objetivo de uma reportagem? Ora, mas é claro: informar. Não adianta entender o público, apurar bem os fatos e escrever um texto indecifrável, que não comunica. Se o leitor não entender nada do que foi escrito, certamente o objetivo não foi alcançado.

No mundo da tecnologia, alguns profissionais têm a tendência de achar que é preciso ser uma excelente pessoa de exatas e isso basta. Mas a verdade é que a habilidade humana de se comunicar é primordial quando o assunto é programação ou desenvolvimento.

Uma linguagem de programação tem esse nome porque, de certa forma, é a nossa forma de comunicação não só com a máquina, mas com os outros desenvolvedores do time. Adotar boas práticas de programação nos ajuda a manter o código mais legível e interfere diretamente no esforço que será exigido para a evolução e manutenção de um software posteriormente. Recado para os desenvolvedores: qualidade também é responsabilidade sua!

Vale destacar que a comunicação é essencial em todo o processo e entre todos os envolvidos.

4. Valorize a edição!

Além do repórter, outro papel importante dentro da redação é o do editor! Uma de suas responsabilidades é a revisão da matéria, verificando se foi escrita de forma clara, se todos os dados necessários são apresentados e se segue os princípios editoriais e éticos da redação. Garantia da qualidade tem tudo a ver com esse papel também, né?!

Uma das atividades da estratégia de qualidade que é adotada pelo nosso time de tecnologia é a revisão de código (o famoso code review). De certa forma, além de repórteres, os desenvolvedores do nosso time também são editores de código. Essa atividade, além de ajudar a mitigar riscos de colocarmos bugs no ambiente de produção, também ajuda a manter o senso de responsabilidade coletivo sobre a qualidade do que estamos desenvolvendo.

Qualidade no jornalismo não é só uma etapa no fim de tudo. Um bom texto precisa ter a qualidade como pressuposto ao longo do processo de apuração/escrita/edição/publicação/divulgação. Muitas vezes, a garantia da qualidade da informação reportada depende de muitas mãos e é um compromisso de todos os envolvidos.

Da mesma forma, qualidade no desenvolvimento de software não é só uma etapa no fim de tudo. Um bom software precisa ter a qualidade como pressuposto ao longo do processo de concepção/codificação/code review/deploy/manutenção/evolução. Muitas vezes, a garantia da qualidade da solução desenvolvida depende de muitas mãos e é um compromisso de todos os envolvidos.

Sobre o desafio de trabalhar como analista de qualidade no JOTA eu posso dizer: meu desejo a cada sprint é que nossas soluções tecnológicas encantem os clientes da mesma forma que os textos do querido Luiz Orlando encantam os fiéis leitores da coluna Jazz.

P.S.: Confesso que um dos maiores bônus de trabalhar no JOTA é me sentir o próprio Peter Parker sempre que digo que estou indo para a redação.