O Financista

SÃO PAULO - O Brasil manteve o selo de bom pagador das agências de rating por cerca de 7 anos. E pode levar outros 7 anos para recuperá-lo.
A equipe de pesquisa econômica do Itaú Unibanco fez um levantamento, usando uma amostra de experiências do passado, mensurando quanto tempo os países levam para recuperar a classificação de grau de investimento e como isso ocorre.
"Encontramos que a recuperação do grau de investimento demora 7,2 anos, em média. Alguns países, no entanto, recuperaram esse selo mais rapidamente: 3 anos, em média", conclui a economista Julia Gottlieb, em relatório.
Ela identificou uma relação entre as variáveis dívida/PIB, taxa de poupança e nível de inflação com o tempo em que um país demora para recuperar o grau de investimento. Ou seja, estamos mal, porque esses indicadores no Brasil não estão nada bem.
Entre os países analisados, todos os que recuperaram o grau de investimento tinham sido rebaixados antes de 2008: Coreia, Eslováquia, Romênia, Colômbia, Uruguai e Indonésia. Já entre os que perderam a classificação depois de 2010, nenhum recuperou o selo ainda: Grécia, Hungria, Portugal, Tunísia, Croácia, Chipre e Rússia.
<table border="1" width="336">
<tbody>
<tr>
<td>País</td>
<td>Ano da perda do selo</td>
<td>Ano da retomada do selo</td>
<td>Nº de anos</td>
</tr>
<tr>
<td>Coreia</td>
<td>1997</td>
<td>1999</td>
<td>2</td>
</tr>
<tr>
<td>Indonésia</td>
<td>1997</td>
<td>2011</td>
<td>14</td>
</tr>
<tr>
<td>Eslováquia</td>
<td>1998</td>
<td>2001</td>
<td>3</td>
</tr>
<tr>
<td>Colômbia</td>
<td>1999</td>
<td>2011</td>
<td>12</td>
</tr>
<tr>
<td>Uruguai</td>
<td>2002</td>
<td>2011</td>
<td>9</td>
</tr>
<tr>
<td>Romênia</td>
<td>2008</td>
<td>2011</td>
<td>3</td>
</tr>
<tr>
<td>Média</td>
<td>-</td>
<td>-</td>
<td>7,2</td>
</tr>
</tbody>
</table>
&nbsp;
A economista analisou os indicadores econômicos de 2 grupos: o que recupera a classificação mais cedo e o que demora mais tempo. A conclusão é que, enquanto o crescimento foi semelhante nos 2 grupos, uma diferença notável é a taxa de poupança. "Os países que recuperaram o grau de investimento mais rapidamente tinham taxas de poupança mais elevadas do que aqueles classificados como grau especulativo por mais tempo", observa Julia.
Segundo ela, o nível de dívida bruta também parece ter tido um papel importante para explicar a velocidade de recuperação do grau de investimento. Um ajuste fiscal foi implementado nos 2 grupos, com velocidade e magnitude distintas. "Os que já apresentavam um nível de dívida bruta menor passaram por um ajuste fiscal mais lento e menos intenso, mas suficiente para estabilizar a razão dívida/PIB nos anos seguintes. O ajuste das contas públicas naqueles com endividamento maior foi mais rápido e também mais intenso."
Neste segundo grupo, os países apresentaram déficit primário no ano do rebaixamento e um superávit logo no ano seguinte. A dívida bruta aumentou em termos percentuais do PIB no ano seguinte ao rebaixamento, mas foi recuando ao longo do tempo.
"O ajuste nas contas públicas e externas bem como o controle da inflação foram cruciais para a recuperação da confiança dos investidores, do investimento, do crescimento e, consequentemente, do grau de investimento nesses países", diz o estudo.
Onde o Brasil está
A tendência da dívida bruta do Brasil foi um dos motivos que levou a Standard &amp; Poor's (S&amp;P) a <a href="http://www.financista.com.br/sep-reduz-rating-soberano-do-brasil-para-grau-especulativo" target="_blank">rebaixar</a> o Brasil para <a href="http://www.financista.com.br/tudo-sobre?tag=Brasil%20grau%20especulativo" target="_blank">grau especulativo</a>. No começo do mês, a agência rebaixou o rating soberano para BB+, com perspectiva negativa.
A agência <a href="http://www.standardandpoors.com/ratings/articles/pt/la?articleType=HTML&amp;assetID=1245386984097&amp;sp_mid=58292&amp;sp_rid=1887518" target="_blank">projeta</a> que a dívida bruta em relação ao PIB fique em 65% este ano, suba para 70% em 2016, 72,2% em 2017 e comece a recuar só em 2018, para 71,3%. Já para a poupança interna, que vem em queda desde 2010, a projeção é que feche 2015 em 13,2% do PIB, ante 15,3% no ano passado. Para os próximos anos, a S&amp;P espera que ela cresça a 19,6% até 2018 (ou um efeito de que o PIB encolha).
Para a inflação, a agência não tem projeções. O <a href="http://www.financista.com.br/previsao-de-pib-piora-para-queda-de-0-60-em-2016-aponta-boletim-focus" target="_blank">último Boletim Focus</a>, do Banco Central, aponta o mercado estimando inflação medida pelo IPCA de 9,29% em 2015 e de 5,64% para 2016, ambos acima do centro da meta do governo, de 4,5%.
Entre as 2 outras maiores agências, o Brasil ainda é grau de investimento. A <a href="http://www.financista.com.br/moodys-rebaixa-nota-do-brasil" target="_blank">Moody's</a> classifica o país em Baa3, a última da escala de bom pagador, com perspectiva estável. A <a href="http://www.financista.com.br/fitch-ainda-ve-elementos-que-apoiam-grau-de-investimento-do-brasil" target="_blank">Fitch Ratings</a> ainda está um degrau acima, BBB, com viés negativo.
_____________
Por Thais Folego 
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