“O setor precisa de gestores técnicos, comprometidos com a ciência, planos de médio e longo prazo, que assegure confiança e previsibilidade”. Essa é uma das expectativas do setor de Saúde para 2023, citadas por Antônio Britto, diretor-executivo da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp).
O diretor-executivo destaca que, com um novo governo federal e novos governadores estaduais, espera-se que os gestores públicos “independentemente de partido e ideologia, possam trabalhar com eficiência no campo da saúde”.
Marcos Novais, superintendente executivo da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), entende ser urgente a priorização da Saúde na agenda do novo governo em todas as suas esferas. “As prioridades e urgências do setor se resume a encontrar meios de ampliar o acesso à saúde a uma maior parcela da sociedade, ao mesmo tempo em que garanta sustentabilidade aos planos de saúde”, ressalta.
Os dois especialistas do setor de Saúde entendem que a economia precisa crescer para que a área evolua. “Sem que haja desenvolvimento, emprego e melhor distribuição de renda é difícil esperar que o sistema possa funcionar”, defende Britto.
Novais cita dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que mostram que a taxa de desemprego caiu para 8,7% no terceiro trimestre de 2022. Ao mesmo tempo, o setor superou recentemente a marca de 50 milhões de beneficiários de planos de saúde. “Os planos de saúde são diretamente impactados pelo número de empregos formais e renda da população”, afirma.
Outra urgência do setor, segundo Britto, é a melhoria do financiamento do SUS. Para ele, o financiamento deve ser discutido junto ao Congresso. “Enquanto o sistema não for aprimorado, o SUS continuará não remunerando adequadamente os serviços contratados”, observa.
O diretor afirmou que o ano de 2022 foi “extremamente desafiador” já que “os hospitais seguiram enfrentando o desafio de prestar assistência às pessoas que contraíram Covid-19 e enfrentaram uma demanda extra por conta de tratamentos que não foram realizados no período de pandemia, em meio a outro desafio econômico-financeiro pela elevação de custos que impactou todo o setor”.
Para 2023, a expectativa é de que a demanda extra causada pela pandemia ainda não esteja resolvida. “Provavelmente o novo governo deve buscar apoio da iniciativa privada para encontrar medidas que permitam reduzir as preocupantes filas que foram formadas por pessoas em busca de tratamento que a pandemia atrasou ou adiou”, observa Britto.
Porém, os hospitais também buscarão recuperar remunerações que foram perdidas em 2022. O diretor entende que “os hospitais que trabalham com planos de saúde e com o SUS têm a preocupação de que em 2023 seja possível obter uma melhor remuneração de seus serviços. Como se sabe, hospitais que prestam atendimento ao SUS contraem déficit em função do subfinanciamento. A mesma relação de dificuldade está presente em relação aos planos de saúde, que tiveram grande sinistralidade e adoraram medidas que comprometeram a remuneração dos hospitais privados”, afirma.
Novais ressalta que o setor passa pelo “pior momento financeiro que se tem registro. Somente no terceiro trimestre do ano, o prejuízo foi maior do que o acumulado em todo o 1º semestre”, afirma. Segundo dados divulgados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) no dia 8/12, as operadoras de planos médico-hospitalares apresentaram, entre janeiro e setembro de 2022, resultado operacional — isto é, receita menos despesas — negativo em R$ 10,9 bilhões.
O superintendente acredita que 2023 também será um ano desafiador para o setor, já que a expectativa para 2022 era a volta da normalidade e isso não aconteceu. “O resultado precisa melhorar”, observa. E continua: “A sociedade organizada precisa contribuir com soluções que tragam acesso à saúde de forma sustentável. É sabido que aumentar os valores dos planos de saúde de forma indiscriminada acaba por restringir o acesso da população ao serviço de saúde, daí a importância de nos organizarmos e estabelecermos regras que obedeçam a protocolos e melhores práticas, dentre outros tantos outros temas de extrema relevância”.
Conquistas do setor de Saúde em 2022
Britto cita como avanço a inclusão e evolução da telessaúde nos hospitais. “Essa foi uma conquista ocorrida em meio às circunstâncias dramáticas na pandemia e que agora incorpora a rotina dos hospitais, ampliando acesso e qualidade de atendimento aos pacientes”, afirma.
O diretor entende que a expansão da telessaúde deve ser prioridade em 2023. A telessaúde é vista “como uma fórmula de ampliar acesso e ampliar a eficiência dos hospitais e serviços assistenciais”, observa.
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