O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse em entrevista nesta sexta-feira (7/1) que a preocupação com a representação contra ele no Conselho Federal de Medicina (CFM) é “zero”. Ex-presidentes do Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Estado de São Paulo (COSEMS/SP) solicitaram ao Conselho um pedido de abertura de processo ético-profissional contra o ministro por “infrações éticas graves no exercício da medicina, em razão de suas atribuições e responsabilidades frente ao Ministério da Saúde do governo brasileiro”. (Leia a íntegra do documento)
“Preocupação com essa representação é zero. Se esses colegas quisessem ajudar, eles deviam estar trabalhando na ponta, fazendo como eu, que estou trabalhando aqui pelo povo brasileiro diuturnamente, levando políticas públicas em todas as áreas”, afirmou em entrevista coletiva em Brasília.
Queiroga atacou os colegas e disse que mais de 400 milhões de doses de vacina contra a Covid-19 foram distribuídas. “Daí eu pergunto: vocês que estão me denunciando: quantas doses de vacina vocês distribuíram? Nenhuma. Se vocês tomaram vacinas, foram com vacinas que eu distribui”, afirmou.
O ministro disse ainda que se os colegas “querem trazer informações científicas” não devem publicá-las nas redes sociais e sim em revistas científicas reconhecidas. “E aí, se forem aprovadas, venham aqui argumentar com base nos dados que produziram”, declarou.
Na representação de cinco páginas enviada ao CFM, o grupo aponta os motivos para a denúncia, entre eles a atuação do ministro em meio às discussões sobre a vacinação para crianças entre 5 e 11 anos. Dizem que, embora o imunizante da Pfizer já tivesse sido aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no último dia 16 de dezembro, “a execução da vacinação foi obstada, a pretexto de ser submetida a opinião de especialistas”. “As razões para isto são totalmente inconsistentes”, escrevem os médicos na denúncia.
O Ministério da Saúde anunciou na última quarta-feira (6/1) o início da vacinação de crianças nessa faixa etária. A expectativa é que, no dia 14 de janeiro, as doses estejam aptas para serem enviadas aos municípios.
O governo vinha sendo criticado por declarações sobre a imunização desse público. Na véspera de Natal, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que o número de mortes de crianças por Covid-19 no país não justificava uma vacinação emergencial.
No dia anterior, o ministro da Saúde havia dito que o governo vacinaria as crianças apenas mediante prescrição médica e a assinatura de um termo de consentimento pelos pais e responsáveis. A maioria dos estados, no entanto, reagiu e afirmou que não pediria o documento e, agora com o anúncio, o governo desistiu da exigência.
Queiroga disse no anúncio que as crianças entre 5 e 11 anos não eram o grupo com maior mortalidade por Covid-19, mas que toda vida tem valor. No último dia 23 de dezembro, ele havia declarado que a taxa de mortes de crianças não justificava emergência. “Os óbitos em crianças [por Covid-19] estão absolutamente dentro de um patamar que não implica decisões emergenciais”, afirmou na ocasião.
Ao final do documento, os médicos dizem que Queiroga atende, principalmente, aos interesses de Bolsonaro. “Visto o encadeamento das posições do médico Ministro da Saúde, não resta outra alternativa senão a constatação de que ele atende, acima de tudo, aos interesses políticos e ideológicos do governo, e mais especialmente, do Presidente da República, que deixou absolutamente clara sua posição contrária à vacina em várias manifestações públicas”, escrevem os médicos.