Dores abdominais, vômito, náuseas e icterícia. Esses são os principais sintomas de hepatite aguda grave de origem desconhecida apresentados por crianças que foram diagnosticadas com a doença. A hepatite misteriosa, como ficou conhecida, foi identificada pela primeira vez no Reino Unido e já está presente em 32 países. Pesquisadores europeus identificaram uma correlação da doença com o adenovírus 41.
De acordo com informações divulgadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), nesta terça feira (17/05), o número de casos relatados é de 429, dos quais seis pacientes morreram e outros 26 precisaram de transplante de fígado. Segundo a entidade, a maioria dos casos foi registrada em crianças e adolescentes de um mês a 16 anos. No Reino Unido, a doença atinge mais crianças com menos de 5 anos.
Um levantamento realizado pelo Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças identificou uma possível associação entre os recentes casos da hepatite misteriosa e infecções causadas pelo adenovírus 41.
Os pesquisadores encontram o adenovírus na maioria dos casos registrados no Reino Unido (72%) e nos Estados Unidos (mais de 50%). No estudo foram analisados casos suspeitos em todo o mundo até o dia 10 de maio.
O que é o adenovírus que pode estar associado à hepatite misteriosa?
O adenovírus é um vírus que pode causar sintomas respiratórios, vômitos e diarreia. Sua transmissão ocorre geralmente por contato pessoal, gotículas de saliva e superfícies. É comum que esse tipo de infecção tenha uma duração limitada e não evolua para quadros mais graves.
Porém, especialistas do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos começaram a pesquisar se o isolamento social, em decorrência da pandemia de Covid-19, teria consequência na redução da exposição infantil aos adenovírus em geral, o que tornaria as crianças mais vulneráveis à nova variante.
“Neste momento, acreditamos que o adenovírus pode ser a causa desses casos relatados, mas ainda estão sendo investigados outros possíveis fatores ambientais e situacionais”, afirmou o CDC em um comunicado.
Segundo informações da OMS, o adenovírus foi detectado em pelo menos 74 casos envolvendo a hepatite misteriosa. Em 18 casos, testes moleculares identificaram a presença do adenovírus 41. Também foi identificada a presença do SARS-CoV-2 (vírus causador da Covid-19) em 20 casos testados. As análises mostraram ainda que em 19 casos houve uma coinfecção por SARS-CoV-2 e adenovírus. Os vírus comuns causadores das hepatites A, B, C, D e E não foram detectados em nenhum desses casos.
A OMS relatou que já houve casos raros de infecções graves por adenovírus que causaram hepatite em crianças imunocomprometidas. No entanto, nos novos casos, as crianças acometidas pela doença eram saudáveis.
Um artigo publicado na revista científica The Lancet indicou a possibilidade de o Sars-CoV-2 ter efeitos prolongados no organismo e favorecer a inflamação exacerbada quando as crianças são infectadas pelo adenovírus.
Hepatite aguda e a vacina contra Covid-19
A Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) afirmou, em comunicado, que, no momento, a relação de casos de hepatite com a vacinação contra o coronavírus está descartada, pois a maioria das crianças afetadas não recebeu a vacina.
Hepatite misteriosa no Brasil
No Brasil, o primeiro possível caso da doença foi notificado em Niterói em uma criança de três anos.
Segundo o Ministério da Saúde, atualmente, 47 casos estão sob investigação. São Paulo é o estado com mais notificações. São sete. Nenhuma infecção foi confirmada no país.