O relatório “Missão Yanomami”, divulgado na última semana pelo Ministério da Saúde, indica que a taxa de mortalidade de crianças yanomami com menos de um ano chegou a 114,3 por 1.000 nascidos vivos em 2020. A título de comparação, o pior índice de mortalidade do mundo nessa faixa etária é em Serra Leoa, onde a Organização das Nações Unidas (ONU) estima uma taxa de 78,25 mortes para cada 1.000 nascidos vivos.
Em seguida aparece a República Centro-Africana, com uma mortalidade infantil de 75,42 mortes por 1.000 nascidos vivos. Em terceiro lugar está a Somália, com um índice de 71,13 óbitos por 1.000 nascidos vivos.
A diferença é ainda maior quando se compara com a taxa de mortalidade infantil de todo o Brasil. Em 2020, o índice foi de 11,5 mortes para cada 1.000 nascidos vivos em todo o território nacional.
De acordo com o documento, 1.285 indígenas da Terra Indígena Yanomami morreram entre 2018 e 2022, sendo que 505 (39,3%) eram crianças com menos de um ano. O relatório destaca, no entanto, que os dados de 2021 e 2022 se referem ao período de janeiro a setembro e, portanto, ainda são preliminares. Dessa forma, o relatório conclui que, até o momento, 2020, quando se registraram 332 óbitos, foi o ano mais mortífero na TI Yanomami.
Considerando a população total, o documento aponta que em 2020 a taxa de mortalidade chegou a um patamar de 10,7 para cada 1.000 habitantes, a maior dos cinco anos analisados pelo relatório. O Brasil enfrentava o primeiro ano de pandemia e viu sua taxa nacional de mortalidade subir. Ainda assim, o índice nacional ficou mais de três pontos abaixo do registrado na TI Yanomami — 7,4 para cada 1.000 habitantes, segundo o IBGE.
Ainda de acordo com o relatório, o avanço do garimpo e a precarização dos serviços de saúde indígena nos últimos anos levaram a uma explosão de contaminação por mercúrio de casos de malária, pneumonia e desnutrição. “As principais causas de óbito são por agravos preveníveis”, destaca o relatório.
Além das crianças com menos de um ano, o relatório indica que os idosos são mais afetados pelo garimpo. Entre os que têm entre 60 e 79, a taxa de mortalidade ficou em 33,2 mortes por 1.000 habitantes em 2020. Já o índice dos idosos com mais de 80 anos ficou em 79,8 óbitos por 1.000 habitantes naquele ano.
“Observamos um conjunto importante de crianças, mulheres e idosos com desnutrição, mas não existe um programa amplo de recuperação nutricional, poucas crianças recebem a suplementação alimentar. Não existe controle e
monitoramento das pessoas nos alojamentos, nenhuma rotina de visitas
foi referida, parece faltar também mecanismos de diálogo com os moradores”, ressaltou o documento.
O secretário de Saúde Indígena, Ricardo Weibe Tapeba, informou na última semana que o governo federal contará com um orçamento específico para mitigar essa situação no território Yanomami. “A situação é de muita precariedade, por isso é fundamental ampliar a nossa capacidade para além da assistência básica, que é a atuação principal da Sesai”, afirmou.